No início da semana, uma coletiva de imprensa divulgou o patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre, que tem tudo para ficar marcada como uma edição histórica do tradicional evento literário. Isso porque pela primeira vez a feira será realizada de forma virtual, entre os dias 30 de outubro e 15 de novembro, em função da pandemia. Outro marco foi a escolha do autor e professor Jeferson Tenório como patrono, o primeiro escritor negro e o mais jovem a ser homenageado com o patronato. As mudanças refletem a nova forma de seleção adotada pela Câmara Rio-grandense do Livro (CRL), entidade promotora do evento, no ano passado.
Nascido no Rio de Janeiro e radicado em Porto Alegre, Jeferson é formado em Letras pela Ufrgs e atua como professor na capital. Em entrevista exclusiva para o Magazine, conta que recebeu a notícia com alegria. “Estar à frente de um evento como esse é certamente uma grande felicidade, pois é uma indicação que confere reconhecimento a quem vem trabalhando com os livros e a literatura. O patrono exerce o papel de representar, de certo modo, a cultura livresca do Estado”, frisa.
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Aos 43 anos, Tenório tem três livros lançados, nos quais se destacam narradores jovens, além da qualidade de sua obra e voz literária. Mestre em Literaturas Luso-africanas, pela mesma Ufrgs, e doutorando em Teoria da Literatura na PUCRS, o escritor conquistou diversas premiações, entre elas a Menção Honrosa no 19º Concurso de Contos Paulo Leminski, Universidade Estadual do Oeste do Paraná (2005); o 15º Concurso Poemas no Ônibus e o 3º Concurso Poemas no Trem, da Prefeitura de Porto Alegre (2008); além de receber os prêmios de Livro do Ano, para O beijo na parede (2014) e Estela sem Deus (2018).
Entre as novidades na carreira do escritor, seu livro mais recente, O avesso da pele (2020), teve os direitos adquiridos para adaptação no cinema e os direitos de publicação vendidos para Itália e Portugal. “Acho que é a possibilidade de públicos de outros países terem acesso a uma literatura com outros tipos de personagens, de pontos de vistas diferentes, e que, de certo modo, compõem esse mosaico complexo que é a nossa literatura brasileira.” No momento, Jeferson trabalha ainda em um livro de poemas, a ser lançado no próximo ano, e em um novo romance.
O autor conta também que sempre admirou a força da Feira do Livro de transformar a cidade em um espaço de valorização do livro e da cultura. “Por tudo o que ela representa, pela tradição e pelo carinho que os gaúchos têm por ela, fazem desse evento um potente espaço de incentivo à leitura. Creio que a minha indicação como patrono serve de incentivo para continuar atuando como escritor, professor e formando de leitores.”
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A programação online da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre está disponível no site feiradolivropoa.com.br. Todos os eventos são gratuitos e não é necessário fazer cadastro para participação. As lives e as discussões contarão com a participação de mais de 90 escritores, incluindo uma entrevista ao vivo com a romancista chilena Isabel Allende.
ENTREVISTA
Jeferson Tenório
Escritor e Patrono da 66ª Feira do Livro de Porto Alegre
Magazine – Qual a importância de ser o primeiro negro a ser escolhido para o patronato, e o autor mais jovem? O senhor vê um ganho em termos de representatividade no evento?
A 66ª Feira do Livro já é histórica por diversos fatores: o contexto da pandemia, uma organização através de uma curadoria (algo inédito nessas 66 edições), uma feira completamente online e a diversidade de autores. Nesse sentido, acho importante e simbólico que o patrono seja negro; no entanto, me sinto seguro em dizer que não fui escolhido pela cor da minha pele, mas por reconhecimento de um trabalho que venho fazendo como professor e escritor, há pelo menos 20 anos. Se a escolha não fosse baseada em critérios de qualidade da obra, teríamos de perguntar aos ex-patronos se eles também foram escolhidos pela cor da pele, já que todos são brancos. A feira de 2020 é um marco e creio que não há mais como retroceder; sinto que as próximas edições serão melhores ainda.
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Esta será a primeira edição online da feira. O senhor entende que a programação virtual pode ser mais acessível a parte do público, por exemplo, em outros municípios?
Não só outros municípios como outros estados. A feira se nacionalizou. As adaptações que ela teve de sofrer causaram a perda do espaço presencial, ou seja, perdemos nessa edição os encontros com o autor, as filas de autógrafos, por exemplo. Mas, por outro lado, ganhamos a possibilidade de chegar a públicos mais diversos em função do acesso online. Nesse sentido, a feira se torna mais democrática.
Obras do autor
O BEIJO NA PAREDE. Porto Alegre: Sulina, 2013. 3.ed. Porto Alegre: Sulina, 2015. (romance).
ESTELA SEM DEUS. Porto Alegre: Zouk, 2018. (romance).
O AVESSO DA PELE. São Paulo: Companhia das Letras, 2020. (romance).
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