Nutro uma paixão incondicional pelo rádio. Sim, é aquele mesmo, o antigo veículo de comunicação que, apesar da imagem obsoleta, continua presente em muitos ambientes. Acordo todos os dias às 6 horas. A primeira coisa que faço – depois de dar um “cala boca” no despertador – é ligar o radinho, que consome mensalmente quatro pilhas alcalinas, mas não reclamo.
No banho e ao longo do chimarrão que aquece a leitura dos jornais, o equipamento eletrônico é companheiro das primeiras notícias do dia. Poderia usar o aplicativo do celular. Mas estar com o parceiro à pilha é um hábito arraigado, muito difícil de abandonar.
Coleciono inúmeras histórias de ex-colegas de profissão, verdadeiros “pilotos de microfone”, embora tenha trabalhado pouco tempo em rádio. Atuei na Rádio Independente (de Lajeado), com o saudoso mestre Lauro Mathias Müller. E também tive a honra de atuar na nossa Rádio Gazeta, que, entre 1983 e 1985, funcionava em AM e FM.
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Mesmo com a rápida passagem por Santa Cruz do Sul, guardo na memória diversos episódios inesquecíveis. Lembro do saudoso Ernani Iser, craque no microfone; de Elstor Assmann, o rei das imitações; do vozeirão de Norberto Frantz, além de Flávio Faleiro, narrador esportivo/repórter policial; de José Augusto Borowsky, amigão de décadas, e de Paulo Beneduzzi, entre tantos outros que aprendi a admirar.
Há poucos dias, participei da abertura do 26º Congresso Gaúcho de Rádio e TV, realizado em Canela. Reencontrei velhos profissionais, que labutam no segmento há muitas décadas, fruto de intensa dedicação, talento e vocação. Enquanto ouvia os discursos, lembrei-me de uma história contada pelo amigo jornalista e radialista Fernando Weiss, da rádio A Hora, de Lajeado.
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Depois de um programa ao vivo realizado em Encantado durante a tragédia das enchentes que assolaram o Vale do Taquari em setembro, Weiss contou que, depois de uma longa jornada ao microfone, orientando moradores sobre a subida do Rio Taquari, ele foi ao supermercado para comprar o jantar.
Ao chegar no estacionamento, foi abordado por um homem de uns 50 anos. Primeiro, ele fez a tradicional pergunta:
– Tu és o cara da rádio que dá as notícias da enchente?
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Respondida a pergunta, surpreendentemente o interlocutor se abraçou ao radialista. E, entre lágrimas, confessou:
– Tu salvou meus pais! Muito obrigado! Eles têm mais de 80 anos, estavam sem luz, sozinhos e sem celular. Aí apelaram para o radinho de pilha. Ouviram a notícia da subida rápida da água e saíram correndo de casa, que duas horas depois, foi arrastada pelas águas – contou o ouvinte.
É apenas um relato entre milhares que colhi durante a visita que fiz, a trabalho, aos quatro municípios mais afetados pelas enchentes no Vale do Taquari. Meu amor pelo rádio só aumentou, porque se trata de um veículo único.
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