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Japão: singeleza e moderação com prosperidade

Vista do Monte Fuji e do templo de Chureito, nos arredores de Tóquio

Wabi-sabi (solidão e decaimento) é uma antiga filosofia zen-budista que inspira o estilo artístico e arquitetônico japonês, focado na simplicidade e na limitação de recursos. É uma forma de valorização da beleza da imperfeição e da efemeridade. O que é criado a partir dessa ideia é, em geral, muito simples e, mesmo assim, exala calma e reflexão, como nos pequenos templos, por vezes inacabados, nos rústicos vasos de cerâmica ou nas cercas de bambu que precisam ser substituídas a cada cinco anos. Essa característica influencia também a visão dos japoneses sobre a finitude da vida, os desencantos pessoais e o poder devastador das intempéries e, por vezes, da natureza humana.

Em 6 de agosto de 1945, às 8h15 da manhã no horário local, um bombardeiro americano B-29 lançou sobre Hiroshima a primeira bomba atômica usada em uma guerra, apelidada de “Menininho”. O destino da cidade, uma entre vários possíveis alvos, foi selado pelas excelentes condições meteorológicas daquele dia na região. Conforme orientação técnica recebida de Robert Oppenheimer e de sua equipe de cientistas, a detonação ocorreu a 600 metros de altura, a fim de que a energia da fissão nuclear do núcleo de urânio, equivalente a 15 mil toneladas de TNT, causasse a maior destruição possível.

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Hiroshima e Nagasaki: cogumelos nucleares de Hiroshima e Nagasaki em agosto de 1945

A ciência, aplicada nesse caso de forma hedionda, devastou 13 quilômetros quadrados em um piscar de olhos. A explosão e os efeitos da radiação mataram quase 80 mil pessoas e arrasaram mais de 60% dos prédios da cidade. O Japão, ainda assim, não se rendeu. Três dias depois, “Homem Gordo”, uma bomba de plutônio ainda mais potente foi detonada sobre Nagasaki, elevando para quase 300 mil o número de vítimas civis dos ataques ordenados pelo presidente Harry Truman. O Japão, que antes dos ataques já estava bastante enfraquecido militarmente, assinou a rendição incondicional em 14 de agosto de 1945.

Sempre fiquei intrigado com o que os japoneses, até hoje o único povo atacado por uma bomba nuclear, pensa sobre o massacre que as duas cidades sofreram. Conversando com vários deles, fiquei com a impressão de que, mais do que ressentimento e indignação, prevalece a ideia de ter sido uma oportunidade para refletir sobre o que o país possa ter feito para chegar àquele ponto. Talvez se refiram às ocupações japonesas anteriores em países vizinhos, sempre de forma cruel e impiedosa.

No final, o que aprendemos com nossos problemas e dramas é a única coisa que podemos controlar. Independentemente de os cruéis ataques serem justificados ou não, o Japão é hoje uma nação mais unida, colaborativa e pacífica. A Cúpula da Bomba Atômica, ruína que permanece em Hiroshima como memorial, é também uma representação da filosofia wabi-sabi, que enxerga harmonia e reflexão na impermanência e nas falhas da essência humana.

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Cúpula da Bomba Atômica permanece como um memorial em Hiroshima

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Deixando o cenário do pesadelo nuclear, no retorno a Kobe, meu quarto no hotel não estava pronto e eu teria que esperar 30 minutos no saguão. Apesar de não ter demonstrado nenhuma incomodação com o fato que para mim era normal, notei a extrema apreensão da atendente e de seu supervisor na recepção. Como compensação, presentearam me com um jantar em um restaurante especializado na famosa carne bovina local. A Carne de Kobe, de origem controlada pelo governo japonês, provém de uma das estirpes do gado Wagyu. Valorizada pelo sabor, maciez e pela “marmorização” da gordura, chega a valer 600 dólares por quilo e só passou a ser exportada pelo Japão em 2012.

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Gado Wagyu é tratado com massagens e dieta de grãos, cerveja e chocolate

Os animais são tratados com uma tradição quase ritualística, que inclui massagens, cervejas e até chocolates misturados a uma dieta de grãos. O que parece uma regalia é, na verdade, uma forma de aumentar o apetite dos animais e maximizar a produção de gordura infiltrada nos suculentos filés. O sabor inigualável da carne, que derrete na boca, me deixou torcendo para que outra gafe hoteleira ocorresse durante a estada na cidade.

Um adjetivo japonês, Shibui, é usado para descrever algo ou alguém que envelhece com graça e, como um bom vinho, fica melhor ou mais sábio com a idade. É uma característica evidente na cultura nipônica, que valoriza a harmonia nas relações e procura amenizar eventuais conflitos. Sem dúvida, temos muito a aprender com o formidável povo do sol nascente.

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