A história, contada com uma ou outra variação, diz o seguinte. Durante uma partida de beisebol, dois jogadores da mesma equipe estavam lado a lado no campo, enquanto ouviam uma enxurrada de insultos racistas das arquibancadas. Difícil saber exatamente o que sentiam, talvez um mix de emoções – tristeza, indignação, apatia. Um deles diz: “Quem sabe amanhã todos usemos 42, para que ninguém mais consiga nos diferenciar.”
O jogador que inspirava tamanha intolerância – chegou mesmo a ser ferido nos jogos e teve a família ameaçada – era Jackie Robinson, o primeiro negro a atuar nas chamadas grandes ligas desse esporte nos Estados Unidos dos anos 40. Do seu pioneirismo e coragem nasceu o Jackie Robinson Day, ou “dia do 42”, sempre em 15 de abril, quando todos os atletas jogam com esse número nas costas – o mesmo que ele usou em sua carreira. A data é simbólica: foi em 15 de 1947 que ele atuou pela primeira vez.
A lembrança é em consideração à morte do ator americano Chadwick Boseman, em 28 de agosto, pois no cinema ele representou Robinson em um filme de 2013, expondo uma história que era mais conhecida pelos apreciadores desse esporte.
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Robinson e tantos outros, em variados países e circunstâncias, representam algo que tem potencial de provocar mudanças profundas: a atitude individual. Embora o registro histórico mostre que ele tinha plena consciência da importância do que estava fazendo, rompendo a chamada “linha da cor” no beisebol, é certo que suas preocupações eram mais prosaicas, como jogar no esporte que amava e cuidar da família. Mas sua coragem individual impactou a luta contra o preconceito e a segregação, como tantas outras iniciativas isoladas.
Quando pensamos, por exemplo, nos recorrentes problemas do nosso país – tão conhecidos que dispensam enumeração –, a tendência é aspirar por grandes feitos e movimentos que mudem a história. Ninguém imagina que um gesto simples e isolado, quase despretensioso, possa ter grande impacto. Estender a mão a alguém, apoiar materialmente ou com palavras, dar um constante exemplo de bom caráter – ou até um sorriso – causam efeitos em cadeia cuja extensão desconhecemos. Não é preciso participar de um grupo, um movimento, uma organização, para mudar o mundo. Assim fez Jackie Robinson: lutou para sobreviver à violência e à humilhação e legou a todos seu exemplo. Fez o que todos deveríamos: iluminou o pedacinho de mundo que coube a ele.
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