A pandemia do coronavírus pode ter alterado a rotina nas cidades, no Brasil e no mundo. Porém, na natureza os ciclos precisam ser obedecidos. E é assim que, quando pouco mais da metade do tabaco da safra 2019/20 foi negociado pelos produtores junto às indústrias, outro grupo de agricultores já começou o plantio do novo ciclo.
Isso ocorre com mais frequência no litoral de Santa Catarina, mas também começa a se tornar cada vez mais normal no Rio Grande do Sul. Ao longo desta semana, famílias do Sul do Estado, hoje grande polo de produção de tabaco, aproveitaram a chuva, após prolongada estiagem, para agilizar o transplante das mudas nas lavouras.
Foi o que fizeram Luiz Cleverson Schneider, 30 anos, e a esposa Solange, 31, que possuem chácara de 15 hectares na Estrada Vila Aurora Olaria, a dois quilômetros da área urbana de Camaquã (com 66 mil habitantes, fica a 200 quilômetros de Santa Cruz do Sul). Eles são pais do casal Isabele, de 7 anos, e Vitor, de 7 meses.
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Ao lado de dois ajudantes, plantaram nesta semana cerca de 30 mil pés, totalizando 45 mil já levados à lavoura – haviam plantado 15 mil ainda no dia 30 de abril. Naquela ocasião, precisaram fazê-lo com água, e depois ainda “aguaram” duas vezes para que as plantas resistissem ao sol. Mas desde a madrugada de segunda para terça-feira choveu 40 milímetros na região.
Além dos 45 mil pés já transplantados, Schneider ainda pretende faz um plantio complementar, de 75 mil pés, em julho, fechando em 120 mil. “Até reduzimos um pouco a quantidade em relação à safra passada, cerca de 20 mil pés a menos”, comenta. Com a quantidade que planta o sogro, Amilton Bihals, em cuja proximidade eles também estão instalados, o total da família chega a 220 mil pés.
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E com uma peculiaridade: Luiz e o sogro possuem a única propriedade de Camaquã que se dedica a cultivo integral de tabaco orgânico, comercializado junto à empresa Japan Tobacco International (JTI). Com isso, diante da necessidade de observância plena dos preceitos orgânicos, eles ainda precisam ficar muito mais atentos ao manejo e às orientações técnicas em geral.
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ORGÂNICO
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A colheita do tabaco agora plantado deve se iniciar em agosto, seguindo o ciclo normal de três meses. “Como a previsão é de que venha mais uma La Niña pela frente no segundo semestre, o que vai acarretar de novo em pouca chuva, a gente buscou antecipar mais o plantio agora, para escapar do calor e da possível falta de chuva no verão”, explica.
Conforme Luiz, em entrevista por telefone para a Gazeta na noite de quinta-feira, a maioria dos vizinhos aproveitou as chuvas para agilizar o plantio nas lavouras preparadas para o cedo. Ao mesmo tempo, ele ainda possui cerca de 15% do tabaco da safra 2019/20 em casa para ser comercializado. “Deu média de 9,6 arrobas por mil, ainda um bom resultado diante da estiagem”, comenta. Além de tabaco, o casal cultiva produtos de subsistência, como milho, feijão e batatinha, e cria animais.
Segundo ele, o tabaco sempre fez parte das atividades na família, desde o período em que, ao lado de uma irmã e de um irmão, trabalhava com os pais. No tabaco orgânico, opção dele, da esposa e dos sogros, colheram a sexta safra, e ele se diz satisfeito diante da possibilidade de obter remuneração diferenciada. “Alguns produtores na região adotam um cultivo chamado de baixo resíduo”, explica. “Mas nós decidimos fazer a produção toda orgânica.”
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