Istambul, anteriormente Bizâncio e Constantinopla, foi capital de dois vastos impérios e centro de arte e ciência por vários séculos. Hoje a cidade é o maior centro urbano da Turquia, com mais de 10 milhões de habitantes, e a única no mundo que se estende por dois continentes, separados pelo Bósforo. A parte europeia é ainda dividida pelo estuário do Chifre Dourado, que demarca Istambul antiga, ao sul, e os novos setores de Galata e Beyoglu, ao norte. Istambul precisa ser apreciada com um mínimo de conhecimento histórico, sob o risco de se perder parte importante do seu fascínio e significado. Do sarcófago de Alexandre, o Grande, no Museu Arqueológico, passando por ricos templos, luxuosos palácios e pitorescos bazares, poucas cidades no mundo me causaram tamanho encantamento.
Monumento arquitetônico mais extenso da cidade, o Palácio de Topkapi é um complexo murado de 700 mil metros quadrados cujos jardins, pavilhões, mesquitas, fontes e vasto harém serviram de residência para os sultões, de 1459 a 1839. Além dele, há muitos lugares imperdíveis para vivenciar em Istambul. O imenso Bazar Coberto, labirinto com mais de 5 mil lojas que requer mais de um dia e um bom mapa para ser visitado, é uma aventura por si só e um tesouro de antiguidades, tapetes, ouro, prata, porcelana, além de oferecer uma oportunidade única de aplicação prática de técnicas de negociação.
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As mesquitas de Solimão (1557) e a de Ahmet (Mesquita Azul, 1616) impressionam pelas dimensões, opulência artística e significado religioso. Para mim, contudo, nada se compara ao esplendor e à rica história da basílica e hoje mesquita de Santa Sofia, concebida originalmente com o nome de Igreja da Divina Sabedoria de Deus. Ao entrar pela imensa Porta Imperial, que na era bizantina só podia ser usada pelos imperadores, percorre-se uma travessia histórica e cultural pelos últimos 15 séculos.
Construída por Constantino em 325 para ser a Catedral de Constantinopla, Santa Sofia (do grego, sabedoria) foi destruída algumas vezes nos primeiros dois séculos por incêndios e conflitos. Sua concepção atual tem 1.500 anos, projetada pelos cientistas gregos Antêmio de Trales e Isidoro de Mileto e construída por 10 mil pessoas em apenas cinco anos. Por mais de dez séculos, foi a maior catedral do mundo, com nave principal de 77 metros de comprimento, 71 metros de largura e cúpula de 56 metros de altura decorada por reluzentes mosaicos e sustentada por quatro vastas colunas de granito.
Os painéis de mármore nas paredes foram trazidos da vizinha Marmara, ilha que deu origem à palavra “mármore” e ao Mar de Marmara, entre o Bósforo e o Mar Mediterrâneo. Foi em Santa Sofia que, em 1054, aconteceu a excomunhão do patriarca Miguel I, determinando o Grande Cisma do Oriente que perdura até hoje. Com a tomada dos turcos otomanos, em 1453, minaretes foram adicionados e antigos mosaicos terminaram cobertos com gesso. Medalhões pendentes nas paredes da nave contêm os nomes de Maomé e dos primeiros califas do Islã. No início do século 20, os magníficos mosaicos bizantinos ressurgiram, graças ao trabalho de restauração ordenado por Atatürk, em 1931. Desde 2020, por uma decisão polêmica muito contestada do governo de Recep Erdogan, o local deixou de ser museu e voltou a ser uma mesquita.
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Riqueza artística e arquitetônica à parte, Santa Sofia é um livro aberto de história, lutas e conquistas. Lugares ímpares como essa antiga basílica exalam a alma de povos e culturas que ali depositaram sofrimento, súplica, esperança e glória, de alguma forma personificados em São João Crisóstomo, que ali pregou e escreveu homilias, tratados e liturgias. A propósito, sobre o santo de diferentes denominações religiosas orientais e ocidentais, cito aqui uma curiosidade pessoal: estive em três igrejas que alegam conter o crânio de João Crisóstomo, em Florença, Pisa e, a mais provável delas, a Catedral de Cristo Salvador, em Moscou. Nada mais justo que um homem tão prolífico, conhecido no século 4 como “boca de ouro” pela eloquência e espiritualidade, tenha tido, virtualmente, múltiplos cérebros.
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