Integração e assimilação não podem ser entendidas como sinônimos. Pela via da integração, diferentes culturas se conhecem e se relacionam, há incorporação de elementos culturais entre as partes, há enriquecimento, sem que uma abra mão de seus valores culturais próprios. Pelo caminho da assimilação uma cultura é assimilada por outra, de modo que os valores, a língua, hábitos, tradições, costumes viram cinzas. Forçar assimilação foi uma tentativa usada pelo governo ditatorial de Vargas, para promover a erradicação das culturas europeias. Assimilação produz empobrecimento cultural.
O caminho do enriquecimento cultural passa pela preservação e cultivo da cultura que distingue uma etnia, com capacidade de respeitar e integrar elementos da cultura de outra. Em muitos casos, a identidade cultural é tratada como se fosse uniforme, como se não existissem culturas regionais, ou formas sociais específicas de um lugar que se diferenciam da cultura dominante.
A celebração da cultura gaúcha e a integração de elementos da cultura alemã foram intensificadas no rescaldo da proibição do idioma e da cultura de origem germânica. Essa intensificação foi instaurada a partir de 1948, com a criação do primeiro Centro de Tradições Gaúchas em Porto Alegre, e em 1956 o primeiro em Santa Cruz do Sul.
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Naquele tempo a cultura alemã ainda não havia cicatrizado suas feridas, fruto das perseguições que havia sofrido. De modo que um centro de tradições alemãs na cidade só foi possível na década de 1980. Isso com muitas reservas. Houve quem achasse melhor não implantar um centro para a cultura alemã em Santa Cruz, por temer os incômodos que poderia gerar.
Diversas são as contribuições e integração de elementos culturais entre a cultura gaúcha e a alemã. Um exemplo que considero emblemático e interessante é o habito de tomar chimarrão. Isso bem antes de existirem os centros de tradições gaúchas. O costume de tomar chás quentinhos os imigrantes trouxeram de sua antiga Heimat, onde faz frio durante grande parte do ano. Chá faz parte da cultura alemã desde tempos imemoriais e continua presente no cotidiano dos alemães, também na refeição matinal, mais do que o hábito de tomar café. Creio que isso facilitou aqui a integração do hábito do chimarrão. Afinal, chimarrão é chá. Chá sorvido de forma um tantinho diferente, mas chá.
Diferentemente do que alguns acreditam, o cavalo, a mula faziam parte da vida dos imigrantes antes de virem para cá. Os animais estavam presentes no auxílio do cultivo da terra e no transporte de produtos agrícolas. No entanto, cavalos de raça, puro sangue, cavalos de sela, como expressão de status, para fins esportivos, etc. eram prerrogativa da aristocracia. Também a sela era um luxo das classes abastadas.
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No entanto, a sela de montaria feminina (Damensattel) foi introduzida no Rio Grande do Sul por via alemã. Essa sela lateral causou muito estranhamento entre os nativos, que não estavam acostumados a verem mulheres montando cavalo. Trouxeram o hábito de esculpir cavalinhos em madeira para as crianças e cantos em forma de brincadeiras infantis, tendo o cavalinho como tema: “Hopp, hopp, hopp, Pferdchen lauf galopp”.
A palavra “acordeão” vem do alemão “Akkordium”, instrumento patenteado em Viena em 1829 por seu inventor, Cyrill Demian. A gaita de botão – Knopfakkordium – era conhecida há muito entre camponeses e artesãos. Tradicionalmente ela é associada à música folclórica, muito presente na Alemanha, na Áustria e na Suíça. Trazida de lá e integrada à tradição do Rio Grande do Sul, passou a ser um lindo símbolo de integração entre a cultura gaúcha e a de origem germânica.
Outro lindo elemento a simbolizar a integração entre a cultura alemã e a gaúcha é a dança de fitas – Bandtanz, uma antiga tradição, viva há séculos em terras germânicas. A dança saúda a primavera e simboliza fertilidade, união e proteção contra o mal por meio do entrelaçamento das fitas. Apresentar a dança das fitas com dançarinos da tradição alemã e da tradição gaúcha na Oktoberfest seria uma bela homenagem à integração entre as duas culturas.
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