Junto à lápide de Antônio José Severo, no jazigo familiar que encontra-se no cemitério comunitário de Alto Paredão, foi gerada a centelha da chama crioula, símbolo que marca o início de mais uma Semana Farroupilha. O ato simbólico foi a primeira atividade dos festejos, realizada no sábado, 4, logo às 7h30, no distrito de Santa Cruz do Sul. Do local, o fogo foi levado por cavaleiros até o CTG que tem o nome do filho ilustre da comunidade.
Foi seu Antoninho, como Severo era conhecido, quem doou a terra para a construção do centro de tradições gaúchas na localidade. No sábado, representantes dos 16 municípios da 5ª Região Tradicionalista (RT) foram até lá para a solenidade de unificação da chama crioula regional. Liderada pelo comandante do Comando Regional de Polícia Ostensiva do Vale do Rio Pardo (CRPO/VRP), coronel Valmir José dos Reis, uma equipe da Brigada Militar fez o acompanhamento dos protocolos de segurança do evento, que incluíram o uso de máscara e a medição da temperatura no acesso à propriedade.
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A centelha trazida do cemitério foi unida a outra, esta que foi gerada em um fogo de chão, dentro do terreno do CTG Antônio José Severo. Após a unificação das duas, junto a uma estrutura montada em um palanque, onde estavam diversas autoridades, os hinos brasileiro e rio-grandense foram entoados. Lideranças políticas e comunitárias falaram ao público. Relembrando os protocolos adotados para que o evento acontecesse, o coordenador que está à frente da 5ª RT há 14 anos, Luiz Clóvis Vieira, ressaltou a importância dos eventos para as entidades tradicionalistas.
“Neste sábado, estamos tendo essa oportunidade histórica de mostrarmos as belezas do Alto Paredão. Uma atividade como essa é um suspiro de vida à nossa tradição. A juventude clama por atividades. Hoje vemos festas clandestinas em loteamentos e lugares proibidos e não podemos trazer os jovens para dentro do CTG porque está fechado. Precisamos retomar os eventos para que as entidades possam ensaiar e trazer as crianças para dentro do CTG”, comentou Vieira.
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“Um evento desse porte nunca aconteceu aqui na nossa região. Nossa ideia é que os 16 municípios da 5ª RT tenham a oportunidade de fazer uma geração de centelha como essa”, complementou o coordenador. Dentre as autoridades presentes no ato, estavam o vice-prefeito Elstor Desbessell (PL) e o deputado federal Marcelo Moraes (PTB), além de vereadores e lideranças comunitárias da localidade.
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Nos últimos 20 anos, o acendimento da chama crioula – movimento iniciado pelo MTG em 1947 – vinha sendo concentrado em um único local do Estado, sendo dali distribuído para todas as regiões tradicionalistas. No ano passado, em virtude do avanço da pandemia, não houve ações. No entanto, em 2021 ficou definido que cada região tradicionalista faria um ato simbólico. “Deu muito certo. Basta olhar o movimento que está ocorrendo em Alto Paredão. Essa participação de todos é muito gratificante”, comentou o presidente do Movimento Tradicionalista Gaúcho (MTG), Manoelito Carlos Savaris.
Ele veio de Caxias do Sul especialmente para a solenidade. “Este ato está ocorrendo em diversos outros lugares pelo Estado e eu escolhi participar deste aqui, em Alto Paredão, um cantão de Santa Cruz. A essência do tradicionalismo está em locais como este, de gente simples, com amor pelo que faz, e que nasce por conta da origem campesina do Rio Grande do Sul. O movimento tradicionalista existe nas cidades porque é lá que precisa refazer a tradição. Aqui no interior as pessoas são tradicionais, fazem isso no dia a dia. E essa natureza nos brinda com esse espetáculo”, disse o presidente, fazendo menção às belas paisagens da localidade.
Emocionado pela homenagem feita a seu Antoninho, o ex-vereador e ex-deputado estadual Osmar Severo relembrou a união de forças que houve para construir o CTG na localidade. “Fico muito orgulhoso de seguir os passos do meu pai. Ele era um homem do bem. Hoje ele está ausente, mas seguro por ele a bandeira do tradicionalismo, fidelidade, trabalho e carinho. Meu pai merece essa homenagem que estão fazendo. Ele não existe mais, mas a alma dele hoje está iluminada”, disse o ex-vereador.
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Antônio José Severo morreu em 1989. Mas não sem antes escrever seu nome na história do tradicionalismo e de Alto Paredão. Uma dessas histórias vivenciadas por ele chegou a virar uma lenda na localidade. Entre os moradores, se comenta sobre a música Tordilho Negro, de Teixeirinha, que cita uma “estância do paredão” e que teria sido composta com referência à localidade.
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Segundo Osmar Severo, a versão oficial da história mistura elementos da realidade, de um encontro entre seu pai e Teixeirinha em Venâncio Aires, com o engajamento que a música deu a partir das referências criadas. “O meu pai era fã do Teixeirinha e me levou para vê-lo uma vez em um circo, em Venâncio Aires. Foi quando falou que ele fazia música sobre diversas pelagens de cavalo, mas que faltava do tordilho negro, pois meu pai tinha criação dessa raça no Paredão. O próprio Teixeirinha concordou que faltava, e depois fez essa letra que cita um tornilho negro na estância do paredão”, comentou Severo.
O nome atual do CTG é Antônio José Severo, mas inicialmente foi chamado de Presilha Crioula. Embora o mito sobre a música tenha se criado na comunidade, o próprio Osmar revela a verdadeira inspiração da letra. “A verdade precisa ser dita: a estância do paredão é em Bagé, lá na região da Mery Terezinha. Depois do sucesso da música, eu mudei o nome do CTG para Presilha Crioula da Estância do Paredão, com o lema Tordilho Negro. Essa onda pegou na época, principalmente depois que o Nico Fagundes mencionou o nome no programa de televisão e no jornal, o que acabou ampliando essa história”, explicou.
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