A magistral filósofa alemã Hannah Arendt (1906-1975) sintetizou que o fenômeno da violência e seu incremento é decorrência da ausência da política. Leia-se “política”, aqui, como expressão de todo esforço racional de superação de diferenças.
Diferenças de todas as naturezas, quer sejam sociais, econômicas e culturais. E não se trata apenas de superação das diferenças, mas sim, principalmente, do metódico esforço de sua identificação e sua mediação.
Faz tempo, disseminou-se um clima de insegurança em todas as comunidades. As dificuldades operacionais dos órgãos repressivos, os conflitos de competência legal, a impunidade como regra (veja o nível de descrédito da justiça!), associadas à abordagem superficial e irresponsável dos oportunistas ideológicos, traduzem-se num estado de pânico social.
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A predominância desse estado emocional nos afasta das soluções objetivas. Por falta de competência e mediação política, não superamos questões primárias como a concentração da renda, da riqueza e da terra, a desigualdade dos níveis de instrução e acesso escolar, por exemplo, entre outras demandas. Em síntese, a desigualdade social é nosso desastroso “cartão de visitas”.
Parênteses: compreensível, lógico, o recorrente discurso que clama por respostas práticas e objetivas para o enfrentamento da criminalidade, seja pelo aparelhamento e reforço policial-repressivo, seja pelo reexame e adoção de outros modelos punitivos na área judicial.
Entretanto, são medidas óbvias e paliativas. São alternativas que não superam os núcleos geradores da violência, eis que estes continuam intocáveis e não superáveis em razão da não vontade, a não ação política.
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Se o Estado se omite, se a sociedade se omite, em partes ou no todo, os vazios de organização e poder civilizado são ocupados por outras formas de organização e poder, regra geral pelo predomínio do medo e da violência. Não há vácuo de poder, ensina a história. E nem falei dos anarquistas de ocasião!
Esclareça-se que a omissão política não é exclusividade do parlamento, assim como a não ação da sociedade seja algo que possamos imediatamente identificar, responsabilizando setores sociais e pessoas. É um fenômeno geral e coletivo, que se traduz num estado de inércia e contemplação.
Repito, é a ausência de política, de debate, de responsabilização. Uma espécie de infantilismo social, incapaz de ceder “seus brinquedos”, conceder e participar. Incapaz de crescer!
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