Nasci em Fontoura Xavier. Se hoje sou um pouco menos “guria de apartamento”, devo isso à infância que passei por lá. Foi em terras fontourenses que adquiri o apelido “Bolinha” – do qual não consegui me livrar – e aprendi que comer pinhão em volta do fogão a lenha é uma delícia. Quando eu ainda era moradora de Fontoura, Guamirim para os íntimos, ou Terra do Pinhão para quem vem de fora, decidi que deveria largar o bico (chupeta) de vez. O Natal se aproximava e eu, com 3 ou 4 aninhos, precisava fazer por merecer. Me aproximei da janela e respirei fundo. Juntei minhas forças e joguei o bico no galinheiro da vizinha. Só não esperava que a minha tentativa de ser destemida acabasse tão rápido. Não tardou para que eu abrisse o berreiro e fosse, aos prantos, pedir para o pai buscar meu acessório.
Minha família se mudou para Santa Cruz quando eu ainda tinha 4 anos, mas era julho ou dezembro se aproximar para a Natany preparar a malinha e passar as férias inteiras na casa da dinda, na zona rural.
Nunca esqueço o dia em que “me tornei independente”. Aos 8 anos, meu pai me deixou dentro do ônibus e passei a ir sozinha para Fontoura. Quando lá chegava era recepcionada com bolo formigueiro, pé de moleque e bolinho de chuva com leite condensado (agora vocês entendem o porquê do apelido).
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Em Fontoura, também fiz uma trupe de amizades que guardo com muito carinho. Para visitá-los, dinda e eu estabelecíamos horários. Das 9 às 11h30, meu paradeiro era lá na Camila. Das 15 horas até o anoitecer, lá ia eu para o extenso terreno que abrigava as casas da Chana, do Éder e do Lucas.
Na Camila, andávamos de balanço até tontear. Quando cansávamos, era hora de inventar alguma coisa dentro de casa. Uma vez brincamos de cabeleireira. O único problema foi que ela cortou o meu cabelo de verdade…
Já com o outro trio de amigos, inventávamos de tudo. Show de talentos, esconde-esconde e por aí vai. Às vezes eu e a Chana descíamos no galpão e brincávamos de cozinhar com barro. Que lamaceira!
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No verão também tinha a piscina, daí eu e a prima Kayra fazíamos competição de quem dava o melhor “tibum”!
Nessas temporadas, eu era tão mimada que a dinda elaborava até cardápio de jantar. O meu dia preferido era segunda: sopa de feijão. Nos outros, pizza, lasanha, massa caseira com galinha caipira e mais algumas gordices integravam o nosso rebuscado menu. A comidinha dela, aliás, é que nem de vó. Como não conheci as minhas, decidi, sem titubear, que a dela é a melhor do mundo.
Mês passado fui visitar a terrinha e lembrei de tudo isso. A cidade cresceu, meus amigos seguiram seus caminhos, mas uma coisa não mudou. A dinda segue preocupadíssima com a minha alimentação. Nega maluca, empadinha de coco e aquele feijão que eu amo tanto estavam lá a minha espera. Comidinha que revela todo o amor que eu recebi e escancara a saudade daquele tempo em que a preocupação mesmo era estender a gostosura do tempo que era ficar na rua.
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