Absenteísmo. Esse é o termo que define um dos principais problemas do Sistema Único de Saúde (SUS): as pessoas que faltam a uma consulta e não desmarcam. Para a responsável pela 13ª Coordenadoria Regional de Saúde (13ªCRS), Mariluci Reis, a situação causa um impacto muito grande à população que mora nos municípios de Candelária, Gramado Xavier, Herveiras, Mato Leitão, Pantano Grande, Passo do Sobrado, Rio Pardo, Santa Cruz do Sul, Sinimbu, Vale do Sol, Vale Verde, Venâncio Aires e Vera Cruz. “Se um paciente não comparecer, dois perdem a vaga. Outro deixa de ser atendido no lugar dele. Isso é muito grave”, destaca.
O absenteísmo, na sua avaliação, é também um dos motivos de a lista de pessoas que aguardam por consultas e cirurgias não avançar. “Se um paciente falta, o profissional que iria atendê-lo, seja para uma consulta, exame ou cirurgia, vai ficar parado naquele horário, esperando. E outro poderia estar sendo atendido naquele horário.”
Por se tratar de um problema recorrente e oneroso ao poder público, a 13ª CRS irá atuar com o objetivo de frear os casos. Para isso, iniciou um levantamento da quantidade de faltas por município.
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Unidades de Santa Cruz registraram 19.755 faltas a consultas
Um levantamento realizado pela Secretaria Municipal de Saúde evidencia a gravidade do absenteísmo em Santa Cruz do Sul. Somente no ano passado, foram registradas 19.755 ausências (13,5 mil consultas médicas, 2.582 de enfermagem e 3.626 odontológicas).
Já em 2025, entre os dias 1º de janeiro e 1º de março, o total de faltas chegou a 3.561. Ao todo, foram 2.696 não comparecimentos em atendimento médicos, 424 de enfermagem e 441 odontológicos.
Entre as unidades do município, a Jacob Schmidt, situada na Rua Barão do Arroio Grande, no Loteamento Vila Nova, concentra a maior quantidade de faltas. No ano passado, foram 2.413 no total, sendo que a maioria – 1.782 – é referente ao atendimento médico. Já nos primeiros meses de 2025, acumulou 350.
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O posto do Faxinal, localizado na Rua Dona Carlota, no Faxinal Velho, aparece em seguida, com 1.466 ausências (1.181 médicas, 140 de enfermagem e 145 odontológicas). Neste ano, a unidade acumula 145.
Apesar do levantamento demonstrar a quantidade de pessoas que não comparece às consultas, o número pode ser maior. Conforme a diretora da Atenção Primária à Saúde, Lizete Plotzki, depende de o profissional notificar a ausência. E quando isso não ocorre, resulta em subnotificação.
Para conscientizar os usuários do SUS, as unidades de saúde instalaram os “faltômetros”. As equipes os atualizam com a quantidade de ausências registradas no mês anterior.
Comunicação é peça-chave contra as faltas

O secretário municipal de Saúde, Rodrigo Rabuske, reiterou que no momento em que um paciente não informa que irá faltar à consulta, a unidade de saúde não consegue fazer a substituição. “Então, além de não atender o paciente que estava marcado, ficamos impossibilitadas de atender alguém que estava precisando. Toda a unidade está esperando o cidadão, para não ter o atendimento. E isso faz com que a fila de espera só cresça”, destacou.
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Rabuske, que assumiu a pasta no início de janeiro, tem se reunido com a equipe para planejar formas de diminuir a quantidade de faltas. Uma das primeiras ações foi a atualização do sistema para reunir as informações sobre os atendimentos. “Queremos ter a quantidade de ausências de forma instantânea, para monitorar e saber quantas estão ocorrendo em cada unidade. Isso vai permitir que possamos elaborar outras ações”, destacou.
Algumas unidades também já começaram a enviar mensagens via SMS aos pacientes que agendaram consultas. A notificação é uma maneira de fazer com que a pessoa não esqueça do atendimento e, caso precise cancelar, entre em contato para notificar.
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“Queremos evoluir e encaminhar a notificação para o WhatsApp, mas vamos implementar aos poucos. É importante mostrar que o atendimento é feito. Mas se o cidadão também não der o valor para isso, acabamos deixando de atender outras pessoas que precisam”, explicou Rabuske.
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A coordenadora de departamento da Atenção Básica, Sibeli Bervanger Erthal, pede para que a população mantenha os dados atualizados junto às unidades de saúde. Em especial, o número de telefone para contato, já que a equipe de atendimento tem dificuldade de se comunicar com o paciente.
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“É um apelo que nós fazemos à população, de informar qualquer mudança na Central de Regulação do Cartão SUS ou nas unidades de saúde. Isso é muito importante, não vai valer de nada toda a nossa mobilização se o contato não estiver atualizado”, justificou.
Outra alternativa em debate para garantir o comparecimento às consultas é enviar ao paciente um mensagem na qual ele poderá fazer a confirmação ou cancelamento. “Se a pessoa não tiver mais interesse ou não puder ir, nós vamos poder colocar outro paciente no lugar”, destacou a diretora da Atenção Primária à Saúde, Lizete Plotzki.
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Entretanto, apesar do avanço nas tratativas para reduzir o número de faltas, a pasta enfrenta um problema relacionado à telefonia. Desde meados do ano passado, parte das unidades de saúde está sem telefone. Conforme o secretário, isso ocorreu devido ao encerramento da licitação do serviço. Um novo processo licitatório, segundo Rabuske, já foi assinado.
“Essa questão dos telefones se arrasta há mais de meio ano. Já alertava sobre isso na tribuna da Câmara de Vereadores. É um problema que afetou toda a Prefeitura, mas principalmente a Saúde”, explicou.
Diante do fato, o pedido é que a população busque contatar as unidades ou os agentes de saúde pelo menos 48 horas antes do atendimento agendado. “Os pacientes cobram muito em relação à espera. Mas eles também têm que fazer a parte deles e dar um retorno quando não vão poder ir na consulta”, destacou a coordenadora de departamento da Atenção Básica.
Em Vera Cruz, pacientes precisam assinar termo de responsabilidade
Diante da grande quantidade de pacientes que não comparece às consultas, a Prefeitura de Vera Cruz decidiu retomar a assinatura do Termo de Responsabilidade e Compromisso de Comparecimento. Assim, o cidadão que se ausentar sem uma justificativa será realocado para o fim da lista de espera.

Em entrevista à Rádio Gazeta FM 107,9, o prefeito Gilson Becker classificou a situação como alarmante. Enquanto 500 pessoas esperam por uma consulta, somente em janeiro deste ano foram registradas 35 faltas em atendimentos com especialistas nas referências do Estado. São 18 a mais do que no mesmo período do ano passado.
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Já no Posto Central, foram 51 ausências em consultas médicas e outras 27 nas duas clínicas médicas prestadores de serviço. Becker destaca que mesmo quando a pessoa vai ao posto de saúde e é encaminhada para atendimento na clínica no mesmo dia, ela não vai até lá. “Apesar de ser um serviço gratuito para o paciente, ele não comparece. É um desperdício da estrutura de saúde, acaba contribuindo para que demore cada vez mais o atendimento”, alertou.
Para o prefeito, é necessário que a população se conscientize e valorize o serviço do SUS. “Não é porque o atendimento é de graça que o cidadão não vai valorizar e cumprir o agendamento. Tudo isso tem um custo. Se não é possível ir, avisa um dia antes”, solicita.
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