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Índia: um país de contrastes

Quando comecei a planejar a minha viagem de volta ao mundo, a Índia não era um país negociável, eu queria ir sim ou sim. Confesso que na minha inocência e ignorância eu não imaginava o que implicava entrar em contato com este país de cultura tão singular.

Eu estava cheia de planos. Queria fazer retiro de Yoga e meditação em um Ashram (centro para evolução espiritual), ficar dez dias em silêncio, passar um mês por lá, explorando o país. Todas estas ideias começaram a brotar na minha cabeça quando eu li o livro e mais tarde assisti ao filme “Comer, Rezar e Amar”, que amei.

E sim, eu fiz quase tudo isso que eu tinha planejado, menos ficar dez dias em silêncio, porque assim como a personagem Liz protagonizada por Júlia Roberts no filme, eu sou um tanto quanto tagarela para conseguir esta façanha. Mas não o fiz, principalmente, porque trocando uma ideia com verdadeiros Yoguis, que já o tinham feito, eles me disseram que tens que estar bastante preparada espiritualmente para aguentar a experiência.

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Enfim, comecei minha experiência por lá com 11 dias de retiro e detox em um Ashram, em Rishikesh, uma cidadezinha situada aos pés do Himalaia, no norte da Índia. Minha rotina incluía duas aulas de uma hora e meia de Yoga (Ratha e Ashtanga), aula de Pranayama (respiração), filosofia e meditação. Tratamento Ayurveda, massagens relaxantes, alimentação balanceada, sem carne e com vários sucos e chás desintoxicantes. Foi maravilhoso, nunca me senti tão bem energética e espiritualmente em minha vida. Parecia uma monjinha.

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Depois viajei uma semana e pouco sozinha, fui para umas montanhas, chamadas Mussoorie e Landour, onde era mais fresco, porque em maio é difícil aguentar os 45 graus de Nova Deli e outros muitos lugares da Índia. Achei que aí ia estar tranquila, mas nunca me senti tão assediada e incomodada. Pela primeira vez em minha viagem não queria estar ali onde eu estava. Estrangeiros na Índia são o centro das atenções e como sou uma pessoa que necessita muito do meu espaço, me senti muito invadida. Sentia uns 20 olhos me olhando fixamente. Me pediam selfies a cada meia hora.

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Na semana seguinte tive a companhia da minha melhor amiga mexicana e de um guia local (também Yogui) chamado Vicky. Conhecemos Jaipur, Agra, Varanasi e Mumbai. Vale muito a pena e não é caro contratar alguém local para te acompanhar durante a viagem. O Vicky foi nosso motorista, guia e amigo para todas as horas. Quando viajas com uma pessoa local as pessoas te respeitam mais e já não te abordam tanto. Além disso, eles sabem onde podem e não podem te levar, dando dicas importantes sobre os costumes locais.

Jaipur e Varanasi (a cidade espiritual) foram meus lugares favoritos. Jaipur é chamada a cidade rosa e tem uma arquitetura única, muito diferente, mais arábica. Varanasi é o verdadeiro caos, é onde cremam os corpos e jogam as cinzas no Rio Ganges. Mas ao mesmo tempo é simplesmente mágica. Ali, pela terceira vez, tomei banho no Rio Ganges, vendo o sol nascer, foi incrível!

Nunca vi tanta pobreza em minha vida ao mesmo tempo que nunca vi tanta beleza e pluralidade cultural reunida em um mesmo lugar. Nunca fui a um lugar tão diferente, tão singular e ao mesmo tempo tão contraditório e antagônico. O que vivemos nestas terras foi único, surpreendente e muito especial. Como disse meu mestre no Ashram: “a Índia é um país muito pobre materialmente, porém, muito rico espiritualmente”. O não ter tantos bens materiais para eles não significa pobreza ou má sorte, mas sim desprendimento, evolução.

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Duas coisas que me impressionaram muito na Índia (foram muitas mais):

A vaca sagrada: vi vacas em todos os lugares. No meio do asfalto, os carros que desviem, ora bolas. No centro, literalmente, quase dentro das lojas. Vi vaca comendo pão de forma. Uma loucura. Porque ela é sagrada? Essa crença tem origem no Hinduísmo e eles acreditam que elas estão ligadas a fertilidade e as divindades. Ela é considerada mais pura que os humanos da casta mais importante na Índia e uma segunda mãe para eles porque também proporciona leite. Depois que elas param de dar leite, as famílias muitas vezes preferem soltá-las na rua, porque sabem que na rua elas serão melhor cuidadas/mimadas pelas demais pessoas. Por isso se veem tantas vacas por lá. Esse animal é tão sagrado e venerado que ele sabe, as vacas são imponentes por lá. Confesso que dão até um certo medinho, elas te encaram sabe, é sinistro, impõem respeito, eu diria.

O sexo dos bebês: a inocente aqui foi perguntar a uma mulher grávida (esta da foto, se repararem estou com a mão na barriga dela) se era um guri ou uma guria. Enfim…acontece. Depois o Vicky nos explicou que é proibido saber o sexo do bebê na Índia. Porque? Porque muitas vezes se a família sabe que é uma mulher comete o aborto. As razões podem ser diversas, mas principalmente, porque se é uma mulher a família terá que pagar o dote ao marido quando ela se casar. Os indianos gastam tudo o que têm com a cerimônia de casamento e com o dote. Então, se uma família é humilde talvez não tenha condições de fazê-lo.

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Se eu recomendo visitar este país? Definitivamente, sim! Mas, todavia, porém, contudo… Esteja preparado. Leia bastante a respeito, vá de cabeça aberta e disposto a fazer sacrifícios por uma experiência única.

Eu acho que é impossível voltar o mesmo da Índia! Esse país mexe muito com você!

Vai! E vai com tudo!

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