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Índia: o País que se tornou independente pela luta de Mahatma Gandhi

Em 1869, durante a dominação britânica, nasceu no estado de Gujarat um indiano tão franzino quanto famoso. A família de Mohandas Karamchand Gandhi, de casta ligada ao comércio e com recursos, o enviou a Londres, onde se formou em Direito. Trabalhou então na África do Sul, onde concebeu sua inovadora política de protesto, a resistência pacífica, ou Satyagraha (do sânscrito, satya = amor; e verdade, agraha = firmeza e força). Voltou à India aos 46 anos, e foi apelidado pelo poeta Tagore de Mahatma (grande alma). Sua humildade e espírito, voltados ao mesmo tempo à ação, foram chave para expulsar o poderoso império britânico da Índia, em 1947. Os britânicos, que levaram a Índia de 30% para menos de 5% do PIB mundial, antes de se retirarem, ainda deixaram mais uma ferida ao dividir o país, criando Paquistão e Bangladesh, e provocando um banho de sangue entre muçulmanos e hindus, cujas sequelas não foram até hoje atenuadas.

Mahatma Gandhi, famoso também por seu estilo de vida frugal e, ao mesmo tempo, regido por uma moral rígida, dizia coisas como: “Se eu precisar de cinco bananas para sobreviver, comer uma sexta é uma forma de roubo” ou “Se eu preciso de uma camisa para viver, ter uma segunda camisa é o mesmo que tirá-la de alguém”. Sua forma pacífica e gentil de protesto, aliada a uma inteligente estratégia, acabou imitada em muitos movimentos posteriores, como o dos direitos civis nos Estados Unidos, de Martin Luther King, e o dos funcionários de estaleiros poloneses do Solidariedade, de Lech Walesa. A grande lição política do século 20 foi exatamente esta, a de mostrar a força da união de povos humildes e oprimidos.

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Seis meses após a independência da Índia, pela qual Gandhi lutou tanto, um hindu fundamentalista, que considerava Mahatma complacente com os muçulmanos e culpado pela divisão do país, fulminou-o com três tiros. No Memorial de Gandhi, sobre a pedra que marca o local de sua cremação em Delhi, estão inscritos o que ele chamou de sete pecados sociais: “Política sem princípios, riqueza sem trabalho, prazer sem consciência, conhecimento sem caráter, comércio sem moralidade, ciência sem humanidade e religião sem sacrifício”. Muitos anos mais tarde, uma imagem do papa João Paulo II, com a mão na pedra e o olhar pensativo, me pareceu representar a necessária e utópica união entre religiões e povos, com o líder maior do povo judaico-cristão reverenciando aquele que uniu, em circunstâncias extremas, hindus e muçulmanos.

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A Índia é tudo aquilo que um turista vê. Mas também o seu oposto. O país é espiritual e material; pacífico e violento; rico e pobre; antigo e moderno. É perigoso generalizar sobre um país com mais de um bilhão de pessoas, divididas em milhares de castas, com sete religiões e mais de 20 línguas oficiais. Então, como conhecer esse povo, que fascina o Ocidente? Partir de sua história é essencial, desde a primeira civilização, que surgiu há 5 mil anos, até a recente independência, incluindo a relação com China e Paquistão e a explosão tecnológica atual. A jornalista Florência Costa, que foi correspondente do jornal O Globo na Índia entre 2006 e 2012, escreveu Os indianos, parte da coleção Povos & Civilizações, da Editora Contexto.

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