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ELENOR SCHNEIDER

Inclusive o chefe

No dia 27 de outubro, após rápido procedimento cirúrgico de minha mulher, estávamos saindo do Hospital Ana Nery quando nos deparamos com uma cena surpreendente. Vimos dezenas de funcionários da instituição, com sacolas de coleta nas mãos, inclinados, agachados, perscrutando minuciosamente cada centímetro do pátio e do estacionamento. Os olhares eram implacáveis, pelo visto nada poderia escapar.

A primeira impressão que tive era de que se tratava de uma gincana. Depois pensei que algum paciente perdera um dente de ouro e era questão de honra da casa localizar e devolver o objeto precioso. Cogitei também ser uma sessão de ginástica para exercitar a coluna. Talvez uma agulha tivesse sumido da enfermaria e era urgente resgatá-la. Quem sabe, alguém perdera uma lente de contato ou uma unha postiça. Vendo aquele exército branco em ação, qualquer hipótese deveria ou poderia ser considerada.

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Andando mais, questionei uma das atrizes do evento. A resposta veio sucinta: estamos catando o lixo da área externa do hospital. Nada era muito ostensivo, estavam quase imperceptíveis as bitucas, os papéis de bala, sacos vazios de bolachas, de chocolate, tampas de garrafas, canudinhos, enfim, todo esse entulho que muitas pessoas descartam, achando que o chão é a lata de lixo do universo.

Um pouco mais adiante encontrei o chefe, o diretor do hospital, sacola na mão, catando detritos, integrado ao grupo de trabalho. Cumprimentei-o pela ação. Gilberto Gobbi respondeu: se queremos um ambiente preservado, limpo, comecemos por nós mesmos. Voltei a olhar para o chão e meus olhos fotografaram a limpeza do espaço, como se cada um tivesse cuidado amorosamente de sua própria casa.

Não é a primeira vez que enveredo por esse tema da preservação do ambiente, da natureza. Não tenho dúvidas de que poucos leitores deste jornal ainda ignoram quanto mal causam essas atitudes desrespeitosas. Mas, esses mesmos leitores podem ser educadores, agentes de transformação. Enquanto pensamos que só nós – os outros não – descartamos óleo saturado na pia da cozinha, só nós jogamos a garrafa vazia na rua, esquecemos que, se milhares de pessoas pensam assim, estamos longe de um espaço digno de viver.

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Tudo é uma questão de educação que, em princípio, tem duas fontes primárias: a família e a escola. Ali está o seminário, o local de semear as boas atitudes. Não podem os seus agentes desistir jamais. Nenhum dos objetos descartados no pátio do hospital deveria ter morada no pátio de casa ou da escola. Essas boas práticas um dia poderão alcançar as ruas. Para obter o sucesso, a insistência, a vigilância devem ser constantes, até se criar uma consciência coletiva de que essa grande casa é nossa, é de todos e, por isso, precisa receber nossa consideração, nosso respeito, nosso amor.

Há pouco dias, caminhava pela quadra linda que fica na frente da prefeitura. Era um sábado, cedo da manhã. Os trabalhadores da limpeza estavam retirando garrafas, latinhas, copos, carteiras de cigarro jogados no canteiro das flores que embelezam o local. Penso que faltam lixeiras pela cidade, mas ali não era o caso. Há lixeiras suficientes para receber os detritos. Lixeira tem, falta mesmo é educação.

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