Inclusão de PCDs no mercado de trabalho ainda é desafio

O Agosto Laranja, mês dedicado às ações de conscientização e prevenção às deficiências e suas necessidades específicas, busca também promover a inclusão da Pessoas com Deficiência (PCDs) na sociedade e no mercado de trabalho. Criada em 1991, a Lei de Cotas para PCDs obriga as empresas com cem ou mais colaboradores a destinar de 2% a 5% das vagas a pessoas com deficiência. Contudo, muitos são os desafios para concretizar este tipo de contratação, explica o auditor fiscal do trabalho e integrante do Conselho Municipal de Direitos da Pessoa com Deficiência de Porto Alegre, Rafael Faria Giguer.

“Não basta somente contratar para cumprir a cota, tem que investir em acessibilidade estrutural e funcional: adaptar as rampas, alargar as portas e retirar outras barreiras que possam comprometer ou dificultar o trabalho da pessoa com deficiência. Além disso, deve-se promover campanhas de sensibilização dentro da empresa, para reduzir a discriminação e ressaltar a importância da diversidade”, esclarece.

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Giguer, que é deficiente visual e atua na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, afirma que a qualidade das vagas inclusivas oferecidas ainda é baixa. E quanto maior o nível de escolaridade da pessoa com deficiência, maior é sua dificuldade para conseguir uma colocação no mercado de trabalho.

“É preciso avaliar o profissional com deficiência por sua qualificação e comportamento, e não por suas limitações físicas, visuais, auditivas, intelectuais ou sensoriais. Eu, por exemplo, sou engenheiro e nunca consegui trabalho na minha área nem em outra qualquer, no setor privado. Fiz concurso público e conquistei a vaga de auditor fiscal, onde atuo para garantir o direito de outras pessoas com deficiência à inclusão no mercado de trabalho”, ressalta. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o número de pessoas com deficiência que possuem nível superior é quase três vezes maior que as cotas existentes hoje.

Em Santa Cruz do Sul, apesar de todas as dificuldades para inserção desses trabalhadores, o auditor fiscal destaca que o número é considerado positivo e que inclusive está acima da média nacional. São 44 empresas que possuem cem ou mais colaboradores e que, por força da lei, devem manter no seu quadro de 2% a 5% de pessoas com deficiência. Do total de 970 cotas para PCDs, 873 estão preenchidas e restam ainda 93 para ocupação. Giguer destaca a importância de as empresas contratarem pessoas com deficiência.

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“Serve para buscar uma sociedade mais inclusiva, onde todas as pessoas tenham direito. As pessoas com deficiência, por definição, possuem algumas limitações e não conseguem fazer tudo, mas elas têm direito a acessibilidade, trabalho, vida, educação e tantas outras coisas. A transformação ocorre com a inclusão destas pessoas na sociedade”, afirma.

Realizadas todos os dias, com uma turma no período da manhã e outra à tarde, oficinas atendem PCDs a partir dos 16 anos

Mais de 120 pessoas encaminhadas para o mercado

Por meio do Programa de Trabalho, Emprego e Renda, a Associação de Pais e Amigos de Excepcionais (Apae) de Santa Cruz do Sul já inseriu mais de 120 pessoas com deficiência intelectual e múltipla, atendidas na entidade, no mercado de trabalho. A professora Cristina Faller Petry, que atua nas oficinas de preparação para o trabalho, explica que as atividades ocorrem todos os dias, com turmas divididas nos turnos da manhã e tarde. Podem participar PCDs com idade a partir dos 16 anos. “É um trabalho realizado em equipe, que envolve a direção e a coordenação pedagógica e profissionais como pedagoga, psicóloga e assistente social. O processo engloba uma avaliação dos alunos da Escola de Educação Especial da Apae e os encaminhados pela rede municipal com potencial para o mundo de trabalho”, conta. Os assistidos podem permanecer por tempo indeterminado no local.

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A assistente social Mara Inês Wojhan ressalta que o objetivo é prepará-los para que executem suas atribuições profissionais de forma satisfatória. “Ensinamos a desempenhar atividades cotidianas com autonomia pessoal e independência. São habilidades de vida diária e sociais, hábitos e atitudes essenciais”, afirma. Além das oficinas e do encaminhamento aos postos de trabalho, a entidade acompanha o processo de adaptação. “Uma mediação é feita entre a empresa e o trabalhador para que a inclusão aconteça, como forma de garantir que as limitações da pessoa com deficiência sejam respeitadas e que ela receba um salário justo pelo seu trabalho”, explica.

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Autonomia e independência

Foi graças ao trabalho e à integração com outras pessoas que Cássia Fagundes Tolfo, de 42 anos, adquiriu independência, autonomia e confiança, fundamentais para seu desenvolvimento. Natural de Cruz Alta e com deficiência intelectual, desde 2006 ela reside com a irmã, Maristela Fagundes Tolfo, em Santa Cruz. Cássia é uma das assistidas da entidade que participa das aulas do Programa de Trabalho, Emprego e Renda.

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Maristela ressalta que a irmã é um exemplo de superação. “Em Cruz Alta ela já frequentava a Apae, mas depois que começou as atividades aqui percebemos um avanço muito grande. Ela se tornou responsável, e embora não saiba as horas, sabe que tem que levantar cedo para ir ao trabalho e faz isso com prazer, sem reclamar. Ela também sai para caminhar sozinha na quadra de casa, o que antes era impossível. Desenvolveu mais confiança, autonomia e independência.”

Cássia já atuou em indústrias de tabaco, de calçados e de brinquedos e atualmente trabalha como auxiliar de higienização em uma empresa de vale-refeição de Santa Cruz. “Eu gosto muito de trabalhar. Gosto da minha chefe, que é minha madrinha na empresa, e também dos meus colegas”, diz.

Cássia Fagundes Tolfo, 42 anos | Foto: Maristela Fagundes Tolfo

Felipe Pereira de Oliveira, de 25 anos, que tem deficiência intelectual, frequenta a Apae desde criança. No local, ele é assistido nas áreas pedagógica e clínica, com terapia ocupacional, fonoaudiologia, psicologia e serviço social, para melhorar seus potenciais e ter autonomia nas atividades. Ao completar 16 anos, foi encaminhado para participar das oficinas de qualificação ao trabalho.

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Ele, que já atuou como safreiro, não esconde a alegria de estar inserido na sociedade. Além de garantir renda para ajudar no sustento da família, o trabalho contribuiu para seu bem-estar e qualidade de vida. “Foi muito bom poder trabalhar na safra. Eu conheci muitas pessoas, fiz amizades e, com o salário, além de ajudar minha família, comprei coisas que antes não conseguia comprar. Agora busco uma vaga de trabalho efetiva.”

Felipe Pereira de Oliveira, 25 anos | Foto: Marina Wink

Como funciona a lei

A Lei de Cotas (lei 8.213/1991) e a Lei Brasileira de Inclusão (LBI), de 2015, garantem o direito ao trabalho às pessoas com algum tipo de deficiência física, sensorial, intelectual ou mental. Desta forma, as empresas que possuem cem ou mais colaboradores devem preencher de 2% a 5% de suas vagas com pessoas com deficiência. As que descumprirem as obrigações da Lei de Cotas estão sujeitas a penalizações. “O Ministério Público do Trabalho pode ingressar com ações civis públicas e termos de ajustamento de conduta. Além disso, elas estão sujeitas a multas da fiscalização do trabalho que podem chegar a R$ 265 mil”, afirma o auditor-fiscal, Rafael Giguer.

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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