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Incertezas políticas afetam o crescimento econômico; entenda

Foto: Rodrigo Assmann

Patrícia: expansão dos gastos públicos precisa ser analisada de maneira pragmática

A ausência de sinalizações concretas até agora sobre quais serão os rumos da política econômica a partir de janeiro, quando Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tomará posse como presidente da República, causa insegurança e adia as perspectivas de um crescimento econômico mais robusto. É o que diz uma das economistas mais respeitadas do Rio Grande do Sul, Patrícia Palermo, que palestrou nesta semana na reunião-almoço Tá na Hora, da Associação Comercial e Industrial (ACI) de Santa Cruz.

Em entrevista antes do evento, Patrícia, que é doutora em Economia pela Ufrgs e presta consultoria para diversas entidades e empresas, criticou a demora na definição da equipe econômica e o fato de medidas de grande impacto fiscal já estarem sendo discutidas – em referência à chamada PEC da Transição, que prevê gastos de R$ 198 bilhões fora do teto em 2023. “Começamos nesse processo de transição uma operação sem conhecer ainda o cirurgião-chefe. Nem conhecemos os nomes ainda e já estamos discutindo algo que vai ser extremamente relevante para a dinâmica fiscal do ano que vem”, disse.

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Lula já afirmou que só irá anunciar a composição do ministério após a diplomação, marcada para segunda-feira. Segundo Patrícia, no entanto, é importante que o novo governo se comprometa com responsabilidade fiscal, a exemplo do que ocorreu no primeiro mandato do petista, iniciado em 2003. “Naquela época, houve uma carta aos brasileiros em que se reforçou esse compromisso. Agora, as informações não são claras. E toda vez que jogamos nuvens de fumaça sobre o que vai acontecer à frente, todo mundo vai desacelerando”, observou.

Uma das sinalizações mais aguardadas, conforme ela, é quanto a uma âncora fiscal, uma vez que Lula já fez críticas ao teto de gastos e pretende aumentar o número de ministérios e retomar programas sociais. Patrícia afirma que o instrumento é necessário para evitar que a dívida pública assuma “uma trajetória explosiva”. “Goste ou não, o teto vem cumprindo a sua missão. Por isso incomoda tanto: porque impõe para os governantes uma coisa muito importante e básica na vida de todo mundo, que é fazer escolhas. Não se pode deixar o gasto público como vinha crescendo”, comentou.

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Na visão de Patrícia, se a estratégia do presidente eleito for garantir os recursos necessários para fazer frente ao aumento de despesas por meio de crescimento econômico, como já afirmaram alguns aliados de Lula, será preciso investir forças em reformas estruturantes, sob pena de a população mais pobre, que é mais atingida pelas escaladas inflacionárias e pela estrutura tributária regressiva, ser prejudicada.

“Se você quiser ter mais gastos e ao mesmo tempo negar as reformas necessárias para gerar o crescimento e fazer com que esse gasto seja sustentável, vamos cair em um brete que acaba com mais tributação ou inflação”, ressaltou.

Contexto é diferente de 2003

Patrícia Palermo lembrou ainda que o cenário que Lula encontrará em janeiro é muito distinto de quando assumiu pela primeira vez, duas décadas atrás. Naquela época, o Brasil pôde surfar em um contexto global favorável e o grande desafio do presidente era ganhar a confiança do mercado. “Basicamente, ele dependia dele mesmo. Tínhamos um mundo que crescia muito, uma locomotiva chamada China que arrastava as economias emergentes para outro patamar de crescimento e um status fiscal muito mais tranquilo em termos de formação de superávits primários e em nível de dívida/PIB”, explicou.

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Hoje, por outro lado, o cenário fiscal é mais frágil e a economia mundial vacila, com a Europa à beira de uma recessão por conta da crise energética, os Estados Unidos em uma trajetória de juros altos e a China com taxas de crescimento mais baixo em meio aos lockdowns persistentes. Isso, conforme ela, reforça a necessidade de indicativos mais claros sobre quais políticas serão adotadas.

Questionada sobre qual deve ser a prioridade de uma eventual reforma tributária, Patrícia afirmou que simplificação é a “grande necessidade” e que o processo não pode levar a aumento de carga, pois isso elevaria o custo da produção e reduziria a competitividade do País. Outro aspecto importante é o tempo para encaminhar a reforma. “Sabemos que os dois primeiros anos do governo são os anos de ouro para as reformas. Por isso não podemos ter outras incertezas no ar. Se gastar muita energia com outras pautas, acabará desfocando de uma necessidade elementar, como a simplificação tributária”, observou.

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Posição dos investidores é de cautela

Segundo a estrategista da XP Investimentos Jennie Li, que também participou do Tá na Hora, a posição dos investidores é de cautela em função das dúvidas quanto à política econômica. Conforme ela, que tem experiência no mercado internacional, com as dificuldades no contexto global e os “sinais mistos” do novo governo até o momento, muitos estão em compasso de espera. “Já vemos movimento de empresas segurando um pouco para ver o que vai acontecer”, disse.

Jennie Li: tendência é que equipe econômica congregue técnicos e quadros do PT. Foto: Rodrigo Assmann/Divulgação

A especialista, no entanto, acredita que não há motivos para adotar uma postura conservadora, apostando em um cenário ruim no ano que vem, uma vez que o martelo ainda não está batido. “Mercado não gosta de incerteza, mas as incertezas trazem volatilidade. E volatilidade também traz oportunidades para investimento. Eu ainda tenho esperança de que podemos ir para um caminho bom”, alegou. Li afirmou ainda que houve avanços nos últimos anos que podem fortalecer o País na busca pelo crescimento. “O Brasil não é o mesmo de cinco, seis ou sete anos atrás. Fizemos reformas importantes, o Banco Central é independente. Estamos até bem posicionados para conseguir navegar nesse cenário.”

Questionada sobre a possível indicação de Fernando Haddad para o Ministério da Fazenda, ela afirmou que a tendência é o mercado procurar um nome “um pouco mais ortodoxo e técnico”. “Nomes que não sejam assim, o mercado tende a não gostar, tanto que vimos reação nas últimas semanas. E é importante o mercado sinalizar”, comentou. Na sua visão, tudo indica que a futura equipe econômica vai congregar pessoas “mais ligadas ao PT” e quadros “mais técnicos”. Entre os nomes que também são citados, estão o atual governador da Bahia, Rui Costa (PT), e dois ex-presidentes do Banco Central, Henrique Meirelles e Pérsio Arida.

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