A trilha de uma renovação urgente e contemporânea. O poder da mãe natureza como o único caminho possível. A destruição como construção. A atualização de perspectivas. É nesta atmosfera de veia feminista e anticapitalista que a banda paulistana de post punk grrrl In Venus lança hoje seu primeiro disco cheio, Ruína – ouça aqui, via PWR Records, Efusiva, Hernia de Discos e Howlin’ Records.
Composta por Cint Ferreira (voz e teclados), Patricia Saltara (baixo), Camila Ribeiro (bateria) e Rodrigo Lima (guitarra), a In Venus desponta em um momento prolífico da atual cena grrrl paulistana, que inclui grupos como Rakta e Charlotte Matou um Cara. A sonoridade de Ruína é combativa e ritualística em seus mínimos detalhes, calcada no post punk e num manifesto político escrito pela própria vocalista – leia completo aqui. Os arranjos emprestam elementos de variados estilos, como o no wave, o shoegaze e o slowcore, entre outros, utilizados pelo produtor Lucas Lippaus.
“Como banda, em 2016 passamos por um processo interno de ruína, ao mesmo tempo em que testemunhamos destruições externas, golpes e aniquilamentos na esfera sociopolítica do nosso país e em outras partes do mundo”, revela Cint. “Isso nos afetou num nível que tivemos de rever o que já havíamos criado e acabamos optando por partir do zero, refazendo tudo, para chegar ao que estamos lançando agora”, acrescenta a cantora e também autora das nove faixas do álbum.
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Com letras escritas em português e inglês, Ruína abre com “Youth Generation”, que segundo o produtor Lippaus “apresenta de tudo que a banda tem a oferecer para o ouvinte, como ambientações, microfonias e viscerabilidade”. Na sequência, “Burn” traz uma sonoridade firme e sintética, cuja linha de voz foi criada direto no estúdio. A letra fala da dor e da libertação em relações destrutivas e as dinâmicas geradas quando tudo se aproxima do fim.
A melancólica “Better Days” vem na terceira posição, refletindo sobre sentimentos mais profundos, da depressão e da tentativa de enxergar uma luz no fim do túnel. O arranjo oferece uma estética mais dura, com dedilhados e notas compostas no baixo e preenchimentos intensos nos momentos maiores da música. “Digital Relationships” é a mais agitada do disco. Com uma pegada que evoca New Order, o destaque fica com a bateria, de timbre eletrônico na caixa e efeitos de ambiência mais saturados na guitarra.
“Mother Nature”, primeiro single divulgado pela In Venus vem com uma melodia ecoada. De acordo com Cint, “a faixa remonta nossa relação com o feminino, com a natureza (grande mãe) e nas sensações de bem estar que esse ambiente pode trazer”, explica. A linha de baixo foi a única de todo o álbum não reproduzida por Lippaus, e sim pela baixista Priscila Lopes. Em sexto lugar, “Go” chega decorada por uma percussão tribal, criada pelo convidado especial Dinho Lacerda que imprimiu em dobras de surdo uma métrica típica do maracatu.
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Herdando referências do no wave, a sétima “What Do You Fight For?” é a música mais dissonante de Ruína, de intensidade agressiva e que prepara o terreno para o punk rock de “Cotidiano”, de final barulhento e sombrio. Na letra, Cint questiona o machismo e a cumplicidade masculina como sua principal ferramenta de manutenção. O último grito é dado em “Inverno da Alma”, a mais direta do álbum e que serve de trilha sonora para a violência, incluindo em sua fase final um poema sobre o tempo e suas prisões, escrito também por Cint.
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