Importa é o DNA moral

Trabalhei longos 40 anos na Gazeta. Quase 30 como editor, diretor de redação e de conteúdo do Grupo. Aprendi muito com quem me delegou confiança, com cada colega que encontrei e com algumas dezenas que tive a oportunidade de incorporar na equipe. Em diferentes funções.

Vários deles bateram asas e saíram mundo afora levando na bagagem o talento, o conhecimento e as experiências que construímos juntos. Outros tantos fixaram raízes e hoje estão curtindo o merecido descanso ou atuando na linha de frente da redação integrada e das áreas de apoio para a produção do jornal e oferecer informação em diferentes plataformas da empresa.

Faço essa menção porque, acima da responsabilidade como gestor, sempre considerei e tratei a equipe que trabalhava comigo com respeito. Um grupo de amigos. E assim os considero até hoje e para sempre. Certo dia, porém, entrou um cidadão (não ligado à empresa) na minha sala, sentou-se à frente da mesa e, após algumas palavras protocolares, lançou-me uma acusação. Fiquei estupefato. Disse ele, em tom de protesto e reprovação, que alguém – não sei quem – lhe teria dito que eu só contratava profissionais declaradamente católicos. Que absurdo!

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Estudei em seminário, me formei em Filosofia, sou católico, mas jamais questionei algum potencial colaborador sobre sua convicção religiosa ou qualquer outra opção ou preferência de qualquer natureza. Na época não se falava em fake news, nem se conhecia essa expressão. Mas também já havia um velado linchamento moral por conta de algum “ouvi dizer que…”. E o estrago estava feito. Naquele dia, eu me senti vítima dele.

Mas era boca a boca, ouvido a ouvido. Hoje, quem tem embasamento de informação e os que não têm, quem exibe fundamento para opinar sobre um assunto e os que apenas se autorizam a dar pitacos, se nivelam em plataformas que nem sempre têm como régua a credibilidade.

Aí se olha para um horizonte imaginário e se fica com a percepção de que há um batalhão de censores de plantão para julgar o que se pode ou não dizer. Ou escrever. O que se fez e o que não fez. A questão não é mascarar erros a que estamos sujeitos e muito menos ignorar as mazelas que são reais, mas que, por vezes, estão além do nosso alcance, sejam elas históricas, sociais, raciais, culturais ou de qualquer outra natureza. Quando nos tornamos reféns de patrulhamentos que se retroalimentam a partir da desinformação, da incompreensão ou da maldade mesmo, estamos aceitando que a mentira subjugue a verdade.

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Precisamos evoluir. Dar um passo adiante. Oferecer e receber crédito com a chancela do caráter, da formação, da educação e acreditar nas potencialidades das pessoas. No âmbito familiar tivemos a oportunidade, em casa e no sítio, de oferecer emprego a várias pessoas. Criamos três filhos sob os cuidados de babás. Aprendemos com cada uma dessas pessoas que não se pode rotular ninguém por uma condição. Nem para mais e muito menos subestimar o potencial de alguém.

Mas se puder deixar uma sugestão, diria a todos os que precisam de oportunidades para trabalhar e os que lidam com capital humano em qualquer nível: habilidades, aptidões se ensina e se aprende. Caráter se molda desde o berço e se carrega no DNA da existência. Mais cedo ou mais tarde, ele vai se sobrepor às aparências e às convenções. Inclusive às fake news, por mais maldosas que sejam.

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