Apesar da distância, o Rio Grande do Sul pode sentir os efeitos do conflito entre Rússia e Ucrânia, principalmente na agricultura. A maior preocupação é o fornecimento de fertilizantes. O Brasil precisa importar entre 80% e 85% do que é utilizado e a Rússia é o principal fornecedor, com fatia de 23%. Somente no caso do nitrato de amônia, 98% do volume total de 1,5 milhão de toneladas importadas é de procedência russa.
Os fertilizantes foram os principais propulsores em 2021 da maior alta nos custos (51,39%) verificada desde 2010, início da série histórica da Federação da Agricultura do Estado (Farsul) que mede a inflação do agronegócio. No ano passado, o Brasil importou 41,6 milhões de toneladas de fertilizantes, uma quantidade recorde. A Rússia é o maior exportador mundial do NPK, composto por nitrogênio (N), fosfato (P) e potássio (K) – 16% no bolo de consumo mundial.
A Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda) divulgou nota na última quinta-feira para informar que o Brasil tem estoque de fertilizantes para mais três meses, de acordo com dados de agentes de mercado. O aumento no preço, que já era observado antes da guerra, tende a acelerar em meio aos bloqueios e sanções econômicas.
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Gerente de Compras da Agro-Comercial Afubra, João Paulo Porcher salienta o impacto anterior no setor de fertilizantes, ainda em 2021. Com a pandemia, fábricas fecharam e o reflexo foi a escassez e o aumento dos preços, por motivos como baixa produção, câmbio, frete marítimo e valorização das commodities agrícolas.
A projeção para 2022 era de um cenário delicado no primeiro trimestre, com normalidade maior a partir de abril. Em janeiro, a estiagem impactou os negócios e a tendência de mercado apontava para preços mais baixos de matéria-prima. Com o conflito da Rússia contra a Ucrânia, o panorama mudou. Pela dependência brasileira, haverá uma interferência nos preços a curto prazo. “Há muitas minas de potássio na Rússia e em Belarus, por exemplo. Junto com o Canadá, são líderes no mercado mundial. Ainda produzem muito nitrogênio, encarecido pela alta cotação do petróleo e do gás natural, essenciais na elaboração do produto final. Com os embargos ocidentais e a interrupção nas exportações, há um impacto mundial”, explica.
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Porcher destaca que as empresas brasileiras importadoras de insumos do Leste Europeu retiraram as listas de preços para venda dos fertilizantes assim que o primeiro míssil caiu em solo ucraniano. Ele analisa que a consequência poderá ser observada nos próximos meses, com preços mais altos, diferente do cenário previsto, que era de estabilidade. Outro fator é a disponibilidade de produtos, questão em pauta no Ministério da Agricultura. “O Brasil vai tentar um acordo comercial com o Canadá para atender o mercado brasileiro. Os produtores podem enfrentar dificuldades. Conforme o andamento da guerra, podemos ter uma situação crítica para o plantio de inverno. Precisaremos de alternativas para evitar o desabastecimento.”
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Secretário de Desenvolvimento Rural de Rio Pardo, Ramiro Pereira Rêgo acredita que os impactos devem atingir os produtores a partir de maio, quando começam o ciclo do plantio de inverno e o planejamento para as lavouras de primavera e verão. “A projeção é de alta de preços e escassez de produtos, o que vai gerar um aumento no custo. Além disso, teremos quebra de 60% na soja, por conta da estiagem. É um horizonte desalentador para o setor.”
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Diretor técnico da Emater/RS-Ascar, Alencar Paulo Rugeri analisa que os reflexos estão por vir na produção gaúcha e coloca em dúvida a dimensão que o conflito na Ucrânia pode ocasionar. “Seremos afetados conforme o tempo que a guerra vai se estender”, afirma. Economista-chefe da Federação da Agricultura do Rio Grande do Sul, Antonio da Luz acredita em impactos sentidos ao longo do ano. “Ainda não temos a plenitude da dimensão do que pode ocorrer.”
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