A vinda dos imigrantes, por mais que em alguns momentos tenha sido romanceada, teve momentos muito desafiadores. E isso se dá no contexto da formação de um novo Brasil, que precisava mão de obra para desempenhar inúmeras atividades – inclusive, a produção de alimentos.
Segundo o professor Jorge Luiz da Cunha, os gêneros de primeira necessidade se tornavam escassos e o preço subia de forma alarmante. “Esta situação ocupou o governo imperial nos primeiros anos da independência. O estabelecimento de colônias de estrangeiros, pequenos proprietários que utilizavam sua própria força de trabalho, nas regiões não ligadas diretamente à produção destinada ao mercado externo, atenuou os efeitos da crise de mão de obra na produção de alimentos e permitiu a migração de escravizados dessas regiões para as regiões monocultoras, substituindo o braço escravo pelo braço imigrante na produção de alimentos”, explica.
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Além da questão da supressão do tráfico, há um ponto que não pode ser desprezado na análise do contexto que motivou o começo da imigração e colonização alemã no Brasil, diz o professor: a necessidade política de formação de esquadrões de soldados que defendessem a independência brasileira ante as pretensões portuguesas.
Segundo ele, o modo como se processou na Europa o recrutamento de colonos e soldados, e o fracasso da organização dos batalhões de estrangeiros, resultaram em completo descrédito da imigração para o Brasil entre os opositores de D. Pedro I no Brasil, de um modo contundente, e entre a maioria dos governos europeus, especialmente na Alemanha.
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O reflexo disso foi que, com a lei de orçamento de 1830, projetada para os anos financeiros de 1831 e 1832, foram abolidas quaisquer despesas com imigração e colonização para todas as províncias do império brasileiro. “A lei de orçamento de 1830 espelha a crescente oposição à política de D. Pedro I e foi uma reação ao excesso de dinheiro gasto com os batalhões de alemães. Interrompeu-se também, assim, a contratação de mercenários para o Império como motivação para a entrada de estrangeiros no país, pelo menos até a fundação da segunda colônia alemã no sul do Brasil, Santa Cruz, em 1849.”
Na Província de São Pedro do Rio Grande do Sul, a primeira colônia, fundada em 1824, foi estabelecida em lotes da Real Feitoria do Linho Cânhamo e Estância Velha. A primeira Real Feitoria do Linho Cânhamo foi fundada na Ilha de Canguçu, na Laguna dos Patos, em 1783, dedicando-se à produção de linho para a fabricação de cordoalha náutica para a Coroa. Em 1803, a Real Feitoria do Linho Cânhamo foi transferida para o “Fachinal da Courita” (Feitoria Velha), junto à margem esquerda do Rio dos Sinos. No mesmo lugar, na margem direita do Rio dos Sinos, entre os arroios das Pedras, Portão e Costa da Serra, em terras de campos e matos desapropriados no começo do século 19 para a criação de gado, localizava-se a Estância Velha. A Feitoria Velha e a Estância Velha foram extintas em 1824, com a fundação de São Leopoldo.
Essa primeira experiência no Rio Grande do Sul não dispunha de uma regulamentação legal própria. Os primeiros alemães que nela se estabeleceram receberam as vantagens oferecidas aos colonos de Nova Friburgo, no Rio de Janeiro. São Leopoldo era uma colônia sob a responsabilidade do governo imperial, criada por D. Pedro I, e acobertava os interesses estratégicos da Coroa, que recrutava na Europa imigrantes, em sua maioria destinados aos batalhões de estrangeiros do imperador e à fundação de colônias em regiões remotas do sul do país para a defesa de suas províncias parcamente povoadas.
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Expediente
Edição: Dejair Machado (dejair@gazetadosul.com.br)
Textos: Dejair Machado, Marcio Souza, Marisa Lorenzoni e Romar Beling
Diagramação: Rodrigo Sperb
Confira o caderno na íntegra » Dia do Colono e Motorista: data para celebrar tradição, história e trabalho
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