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Ilhado na enchente

30 de abril de 2024, oito horas da manhã. Nunca cheguei a pensar que alguma vez na vida passaria por algo desse tipo. A terça-feira começou diferente. Naquele dia, acordei mais cedo e já comecei a acompanhar as situações de enchente pelo Portal Gaz. Vi vários colegas se deslocando para bairros e localidades, e tinham nos informado que em Sinimbu a enchente estava muito feia. Talvez pudesse ser a maior da história e não havia ninguém para ir até lá. Me ofereci para buscar informações e fazer alguns registros, pois meu trabalho é contar a história por meio da fotografia. Por isso, escolhi ser repórter fotográfico.

No caminho, em Rio Pardinho, já notei a água subindo rápido e algo que nunca tinha visto: ela bem perto de passar por cima da RSC-471. Na altura do campo do Rio Pardinho parei para fotografar uma casa com água, mais ou menos com um metro de altura. Enquanto fazia a foto, um senhor passou por mim e disse: “Olha, se tu demorar muito aí pra cima, ali na Linha Ficht, tu não passar depois!”. Concordei que poderia não passar, mas só iria rápido em Sinimbu fazer alguns registros e logo retornar.

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Fiz a foto e subi a Sinimbu. Não consegui entrar na cidade. Fiz as fotos na rótula, próximo ao famoso Kaffeehaus, e logo voltei. Chegando no mesmo ponto em Rio Pardinho, não consegui passar. A água da enchente já estava cobrindo parte da rodovia e chegava a quase um metro de altura por cima do asfalto.
Pensei em esperar e foi o que fiz. Fiquei das 8h45 até por volta das 12h15 aguardando o nível da água baixar. Demorou. Um morador resolveu passar de carro, e fiquei olhando e pensando: se ele conseguir, eu também consigo. Só tinha que lembrar onde era o meio do asfalto para não errar e ir para o acostamento e cair em uma valeta. O morador passou, criei coragem, engatei a primeira marcha e fui devagarinho.

Do posto Tio Willy em Rio Pardinho até a altura do Sítio Thomás Ecke, consegui superar a água. Então imaginei que voltaria para a Redação. Na altura da Linha Ficht, a inundação tinha quase 2 metros de profundidade. Esperei, os bombeiros vieram e retiraram alguns moradores, registrei o que pude. Como começou a escurecer, acabei indo para a casa de uma colega aqui do jornal, que me ofereceu um lugar para ficar até a água baixar. Algo que foi acontecer apenas na manhã seguinte, por volta das 7 horas.

Nunca imaginei ir para uma pauta que seria rapidinha e ficar preso, ilhado no caso. Estava sem contato de celular, sem luz e sem poder avisar os colegas do jornal e meus familiares, que moram em Cerro Branco, município também fortemente afetado pela cheia. A família perdeu todos os móveis da casa, roupas, lembranças e também o restaurante que era a fonte de renda. Algo que meu pai e minha mãe, junto com a minha irmã mais nova, demoraram a vida toda para construir, viram sendo levado em questão de minutos. Tirando os bens materiais, agradeço por estar tudo bem com eles e me solidarizo com as demais famílias de Cerro Branco, Rio Pardinho, Sinimbu e de todos os municípios da região que também foram atingidos.

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Guilherme Bica

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