Colocar a tecnologia a serviço da comunidade é o objetivo de uma turma do curso Técnico em Eletromecânica do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia Sul-riograndense (IFSul) de Venâncio Aires. Incentivados pelos professores Imar de Souza Soares Júnior, da disciplina de Sistemas Hidráulicos e Pneumáticos, e Henrique Wild Stangarlin, de Manutenção Industrial, os 17 estudantes do quarto semestre criaram, no decorrer dos últimos meses, três protótipos de equipamentos adaptados para pessoas com deficiência.

Os alunos foram desafiados a criar triciclos que atendam pessoas com alguma limitação de movimento, seja temporária ou permanente, ou mesmo para idosos. Com o sucesso do projeto, a intenção é doar os equipamentos para a comunidade ou a entidades para que se possa usufruir do legado deixado pela turma. “Foi algo que nos despertou no último semestre, quando nos questionamos sobre o porquê de construir equipamentos que ficavam parados no laboratório, ao invés de criar algo que fosse benéfico para a comunidade”, explica o professor Henrique.

A produção dos triciclos envolve as cinco disciplinas do último semestre do curso: Automação Industrial, Manutenção Industrial, Gestão de Projetos, Sistemas Hidráulicos e Pneumáticos e Inglês. “Nossa ideia é integrar o conteúdo, de maneira que as disciplinas possam dialogar umas com as outras, agregando várias áreas de conhecimento ao mesmo tempo, não as trabalhando de forma isolada”, complementa Stangarlin. As atividades incluem o desenho do projeto, soldas, parte elétrica, mecânica, ajustagem, motores e outras demandas que os alunos precisam executar e são avaliadas pelos docentes.

Os triciclos funcionam com um motor e bateria automotiva. “Preferimos utilizar a energia limpa, sem adição de combustível”, explica Júnior. Além dos três aparelhos adaptados, um quarto projeto também vem sendo desenvolvido pelos alunos: o tombador de tonéis. “É um equipamento que servirá para facilitar o levantamento dos tonéis que têm restos de materiais da usina para serem descartados. Antes, esse serviço precisava ser feito de forma braçal”, comenta o professor Imar.

Pelo bem social
A ideia dos protótipos surgiu há dois semestres, quando um aluno do IFSul sofreu um acidente que lhe causou sequelas nas pernas e dificultou o acompanhamento das aulas. “Surgiu um movimento para tentarmos adaptar uma cadeira para ele. Então chegamos na ideia do triciclo, que permite ao ocupante se locomover com opções que vão desde seguir em frente, dar ré, até ligar o pisca e buzinar, entre outras”, salienta Imar.

Ainda de acordo com o professor, os alunos projetam ideias das mais diversas que, por vezes, acabam esbarrando em dois problemas: o custo e o tempo. “Eles pensaram em colocar cobertura, painéis fotovoltaicos e outros materiais, mas é difícil produzir tanto em poucos meses. Além disso, temos um aporte da instituição em materiais elétricos, soldas e usinagens, mas as peças eletrônicas somos nós, professores, que precisamos custear, ou os próprios alunos”, ressalta Henrique.

No último semestre, três protótipos já haviam sido fabricados por alunos do IFSul em um projeto-piloto. Contudo, dois desses triciclos não foram concluídos por falta de recursos. Mesmo assim, a iniciativa de criar uma inovação benéfica para a comunidade acabou ganhando repercussão. “Um senhor, o seu Gastão, que possui dificuldade de locomoção, nos procurou para saber se poderíamos doar para ele um equipamento. Explicamos que estávamos iniciando a produção de novos projetos e que iríamos considerar o seu pedido”, salienta Imar, que trabalhou durante oito anos no Senai de Santa Cruz do Sul.

Ainda segundo o professor, Gastão fez uma visita aos alunos e explicou as necessidades de saúde que exigiriam o uso do triciclo adaptado. “A turma se comoveu com a situação dele. Estamos fazendo o possível para conseguir adaptar um projeto que seja adequado para as suas necessidades.” Na noite dessa quarta, os triciclos e o tombador de tonéis foram apresentados em um seminário no auditório do IFSul. Segundo os professores, no próximo dia 19, durante a formatura dos alunos do curso, os protótipos serão entregues para pessoas e entidades, caso estejam concluídos.