Ibarama município hospitaleiro, que guarda e preserva muitas histórias. Tem na agricultura uma base forte e, no comércio, um propulsor do desenvolvimento. São 34 anos de emancipação, mas um longo percurso se olhar para trás, para o passado. Terra de muito trabalho, de religiosidade e preciosidades, como as tantas belezas naturais. Descrever Ibarama, assim como os demais municípios da região Centro Serra, não cabe em poucas linhas. Suas histórias são feitas de pessoas, e estas sempre têm muito a contar. São desafios e conquistas que têm marcado gerações. Aqui, será resgatado um pedacinho do que Ibarama é e um dia já foi, pelo olhar de alguns dos filhos desta terra.
Ela consegue acompanhar da porta de casa o vai e vem dos carros, a movimentação dos pedestres. Enxerga, ano após ano, bem próximo de si, a sede da administração municipal. Cuida da casa, na qual nasceu, e do jardim, que costuma estar sempre florido, assim como seu nome, e com um sorriso demonstra ternura. Rosa Nardi Serena, ou simplesmente Rosinha, aos 77 anos, guarda memórias de uma vida dedicada à família, escola e comunidade. Esse é o tripé no qual solidificou a trajetória na terra natal, Ibarama (antigo distrito São Paulo e depois Vila Ibarama).
Desde a infância atenta aos estudos, dona Rosa lembra bem das moças bonitas que frequentavam o internato, vindas de toda a região, e que participavam do teatro, das aulas de piano. Recorda que desejava ser como elas. O internato ao qual se refere é a residência das meninas, alunas da Escola Particular Santa Terezinha, dirigida pelas Irmãs do Sagrado Coração de Maria, existente em Ibarama quando pertencente a Sobradinho, e instituição de ensino onde ela estudou.
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Caçula entre quatro filhos, é irmã do ex-prefeito de Sobradinho que empresta o nome ao conhecido parque da Fejão, Parque Municipal Marci Luiz Nardi. “Ele foi prefeito enquanto Ibarama ainda pertencia ao município-mãe. Se dedicou muito. A atenção dele por Ibarama era grande, tanto na agricultura quanto no que mais era necessário. Muito se empenhou”, recordou.
Professora por aproximadamente 30 anos na Escola Catarina Bridi e por um período na Escola Luiz Augusto Colombelli, dona Rosa também ministrou curso de língua e cultura italiana e teve a oportunidade de viajar à Itália, retornando às origens da família e de muitas outras que povoaram a comunidade. “Através desta valorização se busca reviver a história, usos e costumes italianos, como a gastronomia, as danças e os cantos”, salientou, lembrando que é integrante do Coral Municipal Luciano Pavarotti e do Grupo de Cantoria Stella Alpina.
Das décadas passadas, recorda-se ainda das casas de comércio, serrarias, marcenarias, sapatarias, ferrarias, do hotel e da arquitetura com forte estilo italiano, assim como na religiosidade, marca bastante presente. Guarda também a lembrança do Hospital Santo Antônio, casa de saúde onde os familiares eram tratados de forma particular, pois não haviam convênios.
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Entre os avanços que viu aflorar, a chegada da energia elétrica e a criação da Sociedade Hidráulica. “A luz era proveniente da força de motores. Funcionava apenas à noite, até às 22 horas. Já a água, em muitas casas havia poço com bomba manual ou corrente com balde. Das fontes, diversas famílias se abasteciam”, destaca. No decorrer deste período lembra ainda da criação do Grupo Escolar de Ibarama, por intermédio do governo do Estado e lideranças locais.
Foi chegado então o movimento emancipacionista, que se desenrolou através de uma comissão. “O movimento foi um sucesso. Logo foram as eleições que acompanhamos com entusiasmo. O progresso foi evidente. Foram pensados projetos para instalação da Prefeitura, da Câmara de Vereadores e os líderes surgiram rapidamente”, menciona.
Com o passar do tempo, houve o traçado de ruas, buscou-se um local para construção de um Posto de Saúde e ocorreu a implantação do Sistema Único de Saúde (SUS), entre tantas outras mudanças e conquistas. Entre elas a criação da nova Escola Municipal Luiz Augusto Colombelli, até o nono ano, e a instalação do Ensino de 2º grau Catarina Bridi, hoje ensino médio.
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Por um mandato secretária municipal da Saúde, Rosa esteve muito próxima das realizações e dos desafios da gestão. “Todas as administrações se empenharam muito para bem atender a população em todas as áreas. Saúde sempre foi a mais difícil: menos verbas, mais doenças e necessidades”, pontua.
Na área da agricultura, destaca a criação de açudes para ampliar a diversificação das propriedades e a parceria com a Emater na construção de fontes drenadas, o Grupo de Trabalhadoras Rurais e os artesãos. Destaque também para os esportes, em especial o futebol de campo.
Como alguém que nasceu e viveu sempre nesta terra, o desejo é de ainda mais crescimento. “Parabenizo o município de Ibarama. Que continue progredindo sempre mais com a força do seu povo empreendedor”, reforça Rosa.
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O município possui uma grande representação na agricultura. Entre as iniciativas em destaque está o resgate e multiplicação de sementes crioulas, tendo entre os grandes incentivadores os agricultores ibaramenses Leonel Kluge, de 82 anos, e a esposa, Eda Rosa Kluge, 78 anos. Prestes a completar 60 anos de casados, os moradores da localidade de Lomba Alta, são guardiões das sementes crioulas, que assim como mais membros da comunidade e da Associação de Guardiões, da qual seu Leonel é presidente, buscam proteger, multiplicar e disponibilizar sementes e mudas, não apenas de milho, mas de diferentes cultivos. “Desde ‘gurizote’ sempre gostei de milho crioulo e quanto mais colorido, aquele que eu plantava. Tenho uma variedade que entre eu, meu pai e minha mãe está sendo cultivada há mais de 100 anos. Desde as primeiras terras que compramos, nunca paramos de plantar milho crioulo e de alguns anos para cá é somente ele. Para plantar milho crioulo tem que ter muito amor, pois tem que ter certo cuidado, e este faz um grande bem, possui grande valor”, destaca seu Leonel que nunca parou, e batalhou para conquistar a Festa Estadual do Milho Crioulo no município.
Com apoio da Emater/RS-Ascar, do município e de instituições de ensino e pesquisa, continuam desenvolvendo trabalho de incentivo, desde os pequenos guardiões, e recebem pessoas de diferentes localidades para conhecer mais sobre as sementes. “Vamos preservar aquilo que nossos antepassados deixaram para nós. Tenho orgulho de trabalhar com as universidades e instituições. Há um grande valor nas sementes, visualizados através das pesquisas. Tive a oportunidade de representar o Rio Grande do Sul em um seminário em Montevidéu e outro na PUCRS. Um agricultor com até a quinta série, em meio a professores, doutores. Me fizeram muitas perguntas, me homenagearam. Me senti muito bem”, conta o produtor sobre alguns dos eventos dos quais participou representando com orgulho o município.
Na propriedade onde residem, produzem um pouco de tudo e possuem riqueza guardada, para além das sementes que tem sido cultivadas por gerações. É o Recanto do Riacho, um paraíso natural, que ganhou uma ajudinha da família para se tornar ainda mais acolhedor em meio à natureza. Um verdadeiro recanto, regado por sombra e água fresca e a pouco mais de 2,5 quilômetros da cidade.
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Para o casal, Ibarama tende a crescer, e este também é o desejo deles. “Quando começou a falar em emancipar, formaram uma comissão e foram trabalhando. Para nós, que pertencíamos a Sobradinho, melhorou muito. A partir dali passamos a contar com banco e outros estabelecimentos aqui. A única diferença, que decaiu, é que antes de emancipar tínhamos hospital e hoje não mais. Mas mudou mesmo, completamente. Quantas viagens não se precisa mais fazer a Sobradinho. Temos tudo perto. Temos Posto de Saúde, banco, mercados. Uma coisa ou outra tem que fazer no município-mãe”, avalia Leonel, que ainda acrescenta: “o que faz o município crescer é a administração. Sempre acho que os vereadores têm que ajudar. Terminou a eleição, tem que se abraçar e fazer juntos para o bem do município”, enfatiza.
O prédio onde fica o centro administrativo do município pertenceu à família de dona Eda, o que para ela é motivo de orgulho. “Cresceu muito Ibarama. Fiquei muito feliz que o moinho do meu pai virou a Prefeitura”, destaca. “Na época estavam procurando um prédio. Era o antigo Moinho de Gervásio Dal Ri. Então foi vendido para ser o prédio da Prefeitura, com a condição de levar o nome dele, o qual até hoje continua”, acrescenta Leonel.
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