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Hunan, China: uma janela para o espírito da nação

Changsha, capital da província chinesa de Hunan (ou Hunã), é uma cidade com 8 milhões de habitantes e uma pujante economia, correspondente ao dobro do PIB da cidade de São Paulo, ou 20% do PIB brasileiro. No início do século 20, contudo, Changsha passou por sérias dificuldades. Duas enchentes do Rio Xiang, em 1906 e 1909, inundaram a região, forçando a maioria da população a se refugiar em abrigos improvisados nos arredores da capital.

A situação de fome e penúria se agravou rapidamente e, em abril de 1910, uma tragédia abalou os espíritos dos nativos. Uma mãe desesperada, sem poder comprar arroz para os filhos, agarrou-se às duas crianças e jogou-se em um lago. O marido, ao saber da tragédia, também se suicidou. Foi a gota d’água para desencadear uma revolta generalizada contra o poder central chinês e a crescente ocupação estrangeira do período pós-imperial. O governo foi implacável, executando dezenas de líderes revoltosos e expondo suas cabeças em estacas espalhadas pela cidade.

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Entre as testemunhas daqueles tumultuados anos em Changsha estava um adolescente que, 40 anos depois, se tornaria o primeiro líder da República Popular da China e cujo rosto aparece hoje em todas as notas da moeda chinesa, o renminbi. Filho de agricultores nos subúrbios de Changsha, o jovem Mao Tsé-Tung (1893-1976), leitor voraz de Confúcio e dos clássicos chineses, iniciava a carreira de professor.

Segundo ele mesmo declarava, os trágicos acontecimentos e a injustiça com os cidadãos de Hunan criaram a consciência política que o acompanharia vida afora. A cidade e a província têm orgulho de ser a terra natal do “grande timoneiro”, figura controversa, porém de indubitável influência global que, bem ou mal, unificou e alavancou a nação que em breve retornará ao posto de maior potência mundial.

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A noroeste da capital, outra região da província é o destino chinês mais procurado por viajantes em busca de belezas naturais e aventuras radicais. A Área Cênica de Wulingyuan, patrimônio da Unesco desde 1992, compreende quatro parques nacionais em uma vasta região dotada de excelente infraestrutura turística.

A Floresta Nacional de Zhangjiajie oferece uma paisagem natural de riachos, desfiladeiros, cavernas e falésias. Destacam-se os mais de 3 mil pilares de arenito quartzoso, formações geradas há 300 milhões de anos, quando a região era um oceano. Um deles, chamado de Coluna do Céu, tem mais de mil metros de altura e serviu de inspiração para a montanha Aleluia no filme Avatar, de 2010. Ao longo de um penhasco, três elevadores panorâmicos percorrem 326 metros para levar turistas ao pé das incríveis formações rochosas, em um cenário surreal.

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No centro da cidade de Zhangjiajie, um teleférico de 7.500 metros liga a estação ferroviária ao cume da Montanha Tianmen (Portal do Céu), ascendendo mais de 1.200 metros. De lá, turistas caminham por quilômetros de passarelas, algumas com piso de vidro, construídas nas encostas. Em abril deste ano, quatro pessoas se suicidaram saltando de mais de 1.600 metros de altura. Desde então – em mais uma peculiaridade chinesa – foram espalhados avisos nos parapeitos, informando que é proibido saltar.

A maior atração do local é o arco natural Tianmen, uma janela de 132 metros de altura na montanha de mesmo nome. De lá, avista-se a impressionante escadaria de 999 degraus conhecida como “Escada para o Céu”. Os visitantes mais acomodados podem fazer uma viagem de 25 minutos por um túnel escavado na montanha usando uma série de 12 longas escadas rolantes que, juntas, perfazem cerca de um quilômetro de comprimento. Para descer de forma mais rápida e radical, uma plataforma serve como base para arrojados saltos em wingsuits (trajes planadores) a 150 km/h.

Mais do que com a quantidade de turistas (14 milhões de visitantes anuais), fiquei impressionado com o acesso democrático a todos os parques, frequentados por idosos, deficientes físicos e famílias com crianças de todas as idades. Os atributos naturais e políticos de Hunan são mais uma prova de que, por mais que visitemos a civilização viva mais antiga do planeta, o dragão chinês jamais deixa de nos surpreender.

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Saltos radicais com trajes planadores viraram tradição em Zhangjiajie | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior
Passarelas de até 1.600 metros de altura oferecem um magnífico visual | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior
Uma escadaria de 999 degraus leva à base do arco natural de Tianmen | Foto: Acervo pessoal de Aidir Parizzi Júnior

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Naiara Silveira

Jornalista formada pela Universidade de Santa Cruz do Sul em 2019, atuo no Portal Gaz desde 2016, tendo passado pelos cargos de estagiária, repórter e, mais recentemente, editora multimídia. Pós-graduada em Produção de Conteúdo e Análise de Mídias Digitais, tenho afinidade com criação de conteúdo para redes sociais, planejamento digital e copywriting. Além disso, tive a oportunidade de desenvolver habilidades nas mais diversas áreas ao longo da carreira, como produção de textos variados, locução, apresentação em vídeo (ao vivo e gravado), edição de imagens e vídeos, produção (bastidores), entre outras.

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