A homenagem sem precedentes que o Atlético Nacional de Medellín, da Colômbia, prestou dias após o acidente aéreo que vitimou a delegação da Chapecoense vai muito além do carinho de um país. Trata-se de um tapa de luva em nós, brasileiros, acostumados a esnobar os irmãos da América do Sul.
Historicamente tratamos os hermanos de língua espanhola com desdém, menosprezo e pouco respeito. O termo “castelhano” é sinônimo de picaretagem, de pouca seriedade ou ausência de qualidade em relação a produtos fabricados nos países vizinhos.
Em menos de 48 horas, a comunidade de Medellín e os dirigentes do Atlético Nacional, ao lado das autoridades, organizaram um evento que mobilizou milhares de pessoas. Com um cerimonial impecável em que a Chape foi tema central, a multidão que pouco sabia sobre o time catarinense se cotizou. Mostrou ao mundo como fazer da solidariedade algo mais que um conceito abstrato.
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No Brasil, a demagogia que permeia as iniciativas oficiais por certo não viabilizaria uma manifestação de tamanha grandiosidade em tempo recorde. A falta de objetividade e os interesses escusos comprometem a realização de projetos que tenham a solidariedade como pano de fundo.
Chapecoense e Atlético Nacional ganharam milhões de fãs e associados. Impelidos pela dor sem precedentes envolvendo um clube esportivo, uma legião de torcedores transformou os dois clubes – coincidentemente embalados pela cor verde, da esperança – em paixão de proporções mundiais.
Acostumados a vislumbrar os vizinhos da América da Sul como primos pobres, nós, brasileiros, engolimos a nossa empáfia para calçar as sandálias da humildade e admitir que levamos um banho de carinho. Colombianos saíram de casa em famílias inteiras, lotando o estádio de Medellín e seu entorno, com mais de 80 mil pessoas. Demonstraram que solidariedade vai além das palavras. Valem, de verdade, os atos concretos, as ações efetivas, a ajuda real.
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Além da comoção, a Colômbia ajudou a minimizar a dor dos familiares das vítimas através da agilização para identificar e liberar os corpos mutilados pela tragédia. O comportamento exemplar dos nossos vizinhos permitiu velar os mortos em solo brasileiro pouco tempo depois do acidente. Em contraste, no Brasil, os caixões de jogadores sepultados no Rio de Janeiro ficaram dez horas no aeroporto carioca até a liberação.
Sob qualquer aspecto é preciso dar a mão à palmatória para reconhecer que o inesquecível episódio do acidente aéreo com a delegação da Chapecoense mostrou a grandeza dos nossos vizinhos. Temos que reconhecer que, ao contrário do nosso comportamento arrogante e superior diante dos irmãos da América do Sul, os colombianos deram uma aula de como tratar seus vizinhos. E que, à exceção da língua, as nossas realidades são idênticas.
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