Salários atrasados, falta de material de trabalho e insumos, ameaças e demissões. Esses são alguns dos relatos feitos por cinco funcionários do Hospital Cristo Acolhedor, de Sobradinho. A situação foi revelada na semana passada por uma funcionária que alegava falta de condições de trabalho, medo de represálias e abalo emocional de todo o quadro de servidores.
Os funcionários, que pediram para ter a identidade preservada, falaram com a equipe de reportagem do jornal Gazeta da Serra e apresentaram conversas e áudios de um grupo em um aplicativo de mensagens em que estão servidores e direção. Nelas, por várias vezes, os trabalhadores cobraram seus salários.
Segundo relatos, uma das funcionárias teria sido coagida pela direção do hospital e acabou desligada poucos dias após o ocorrido. Um dos profissionais chegou a dizer que quando são feitas cobranças relacionadas à folha salarial, a consequência acaba sendo a demissão.
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Mesmo quem trabalha normalmente, sem faltas, atrasos ou atestados médicos, não tem recebido de forma regular. Além disso, os funcionários denunciam retaliações. “Se for demitido, o diretor fala que é para procurar os seus direitos, porque eles não vão pagar. Isso é muito ruim, afinal não podemos questionar nem no grupo e nem diretamente a eles o motivo dos atrasos”, comentou outro. Eles afirmaram, inclusive, que não havia sequer a presença de diretores no dia a dia do hospital.
Segundo os funcionários, uma diretora assumiu a instituição há cerca de duas semanas. No entanto, as dificuldades persistem. Mesmo quando o salário era pago, receber o dinheiro se tornou um problema, afirmam. Isso porque a direção teria aberto novas contas-salário em outra instituição bancária sem comunicar os empregados. “Números estranhos nos ligavam para confirmar os dados e achávamos que era golpe. Quando questionamos, fomos informados que deveríamos seguir os passos, pois o pagamento seria feito dessa forma”, ressaltou um dos entrevistados.
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Prestadores de serviços também estariam com dificuldade para receber. Os relatos dão conta de que não há médicos porque a empresa responsável pelos profissionais não estava sendo paga. Isso teria, inclusive, dificultado a realização de plantões no Hospital Cristo Acolhedor.
Grupo diz que faltou comida para pacientes
Além do aspecto financeiro e gerencial, os trabalhadores relataram condições insalubres devido à falta de dedetização. Segundo eles, já teriam sido encontrados ratos, baratas, mosquitos, piolhos e até animais peçonhentos. Um dos profissionais ressaltou que faltariam inclusive itens para atendimentos, como medicamentos e luvas. “O pessoal chega a trazer de casa ou ir até a farmácia para comprar uma caixa de luvas para trabalhar, e isso não foi uma ou duas vezes, foram várias”, acrescentou um dos profissionais.
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Os exames também seriam limitados ou mesmo negados pelos médicos devido às dívidas com os fornecedores. Com isso, os pacientes permanecem em observação por dias, sem internar, para que a Prefeitura pague os exames. “Estamos trabalhando em um campo de guerra. Se não fazemos como eles querem, é rua, sem nenhum direito”, desabafou outro.
Em entrevista à Rádio Gazeta FM 98,1, o presidente da Associação São Marcos, mantenedora dos hospitais São João Evangelista, de Segredo, e Cristo Acolhedor, de Sobradinho, Shauan de Oliveira Júnior, negou a falta de insumos, como o diesel para o gerador, água e alimentos. Os servidores ficaram indignados com as declarações e fizeram novas acusações. “Não havia comida nem para os pacientes internados e nem para nós, funcionários. O hospital estava sem água, como ele foi falar aquilo?”, indagou um dos empregados.
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Outra trabalhadora acrescentou que, além dos salários, não há pagamento de férias, FGTS, piso salarial e reajustes anuais, entre outros direitos. Segundo ela, além da coação por parte da direção, houve demissões que causaram medo no restante da equipe.
Investigações
O Ministério Público do Trabalho e a 8ª Coordenadoria Regional de Saúde (CRS) confirmaram que estão cientes da situação do hospital e uma investigação está em andamento. O Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos de Serviços de Saúde de Santa Cruz do Sul (Sindisaúde-SCS), com abrangência em todo o Vale do Rio Pardo, também tem conhecimento das ocorrências. Segundo o presidente Joel Carlos Haas, a instituição não recolhe o FGTS e também não paga verbas rescisórias, férias, e deixa de quitar até mesmo acordos trabalhistas ajustados em juízo.
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“Diante de todo esse cenário, o sindicato, através de sua assessoria jurídica, tem buscado bloqueio de contas para viabilizar pagamentos”, observou. Segundo ele, os prédios estão penhorados. Haas ainda questionou a falta de ação das autoridades municipais de Sobradinho. “Para nós, já há muito tempo deveria ter feito a intervenção.”
Após as denúncias, a direção do Hospital Regional Cristo Acolhedor contatou a Gazeta da Serra. O diretor Shauan de Oliveira Júnior se mostrou surpreso e prometeu conceder entrevista na próxima semana, pois está em viagem. Ele garantiu que vai apresentar as notas de compras de alimentos e outras provas contra as acusações.
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