Cultura e Lazer

Honk Kong: Alma e identidade na pérola do oriente

Em minha primeira visita à esplêndida Hong Kong, a primeira impressão que tive foi a de que eu estava em um dos filmes de Bruce Lee, onde todos correm e se movimentam freneticamente o tempo todo. Constatei que é mais um caso em que a arte imita a vida. O mundo dos negócios, de lavanderias a grandes agentes financeiros como o HSBC (Hong-kong Shanghai Banking Corporation), é movido por uma massa humana que se move rapidamente nas ruas, nos escritórios, no eficiente transporte público e no vibrante comércio local.

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O que parece ser uma meca do capitalismo à primeira vista torna-se, em última análise, mais um dos tantos reflexos da milenar cultura chinesa. Ao contrário de outras cidades pujantes que cresceram rapidamente no cenário mundial, como Singapura e Dubai, Hong Kong manteve a língua, a identidade e a alma. É um local por vezes caótico, mas ainda assim agradável, para o qual é sempre um prazer retornar. Hong Kong quer dizer “porto perfumado”, em cantonês, graças à intensa produção de incenso no passado. Hoje, o nome se justifica por aromas e sabores da comida cantonesa.

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Buddha de Tian Tan é uma das atrações de Hong Kong, atraindo milhares de turistas

Embora fosse conhecido dos europeus desde que o navegador português Jorge Álvares aportou por ali em 1513, o atual território de Hong Kong era uma pacata colônia de pescadores e agricultores até que, no início do século 19, chegaram os britânicos. A coroa inglesa identificou o lugar como porto estratégico para o acesso ao Rio das Pérolas e ao restante da China. Ávidos pelas especiarias locais e sem ter o que oferecer em troca, o pragmatismo anglo-saxão eliminou o problema da balança comercial gerando uma nova demanda: o ópio. Os navios levavam a droga da Índia para o oriente, viciando rapidamente hordas de chineses.

A dinastia Qing tentou combater o tráfico, mas, com o enorme poder britânico de então, perdeu a primeira Guerra do Ópio, sendo forçada a ceder a ilha de Hong Kong aos britânicos, em 1842. Em 1860, os britânicos tomaram a região de Kowloon, no lado ocidental, durante a segunda Guerra do Ópio. Não satisfeito, o império queria mais terras e, em 1888, a China foi coagida a alugar por 99 anos uma área ainda maior, que incluía os Novos Territórios na China continental. Estava formada a colônia britânica que permaneceu conhecida pelo nome de sua parte insular.

Após a Segunda Guerra, milhões de chineses invadiram Hong Kong, fugindo do regime maoista. Os britânicos aproveitaram o influxo para conceder diminutas terras nos Novos Territórios aos refugiados, em troca de apoio popular. Além da migração populacional, as riquezas, principalmente de Xangai, também “escaparam” da revolução cultural chinesa, encontrando refúgio em Hong Kong. A colônia se desenvolveu rapidamente, criando uma implacável força capitalista sob a batuta britânica.

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Enquanto isso, Pequim seguia um milenar princípio confucionista que os ocidentais raramente entendem: a paciência. Enquanto Margaret Thatcher apostava no esquecimento do final do aluguel, o Partido Comunista Chinês aguardava. Em 1997, Hong Kong foi devolvida à China, com a condição de que permanecesse como região administrativa especial por mais 50 anos. Veremos o que acontecerá até 2047.

Aidir Parizzi e a skyline de Hong Kong, o “porto perfumado” de ritmo de vida frenético

Para os turistas, a paisagem natural é deslumbrante. Combinada com o rápido desenvolvimento econômico e o dinâmico comércio tradicional cantonês, Hong Kong fascina os visitantes e carrega uma espetacular carga cultural. É claro que existem contrastes na cidade mais cara do planeta, com boa parte da população vivendo na pobreza em seus subúrbios.

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Na região supostamente mais individualista da China, uma pesquisa de 2012 da Universidade Chinesa de Hong Kong mostrou que 55% da população coloca a harmonia como objetivo do desenvolvimento, em comparação com apenas 17% que indicam democracia ou liberdade como os principais objetivos. Vale lembrar que a interpretação de harmonia para os chineses não é acomodação ou resignação, e consiste na busca de melhores relações interpessoais e com o meio ambiente. Ao contrário do que muitos pensam, não foi o capitalismo que transformou as pessoas em Hong Kong. A cultura e o caráter local é que moldaram o sistema que rege a pérola do oriente.

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Bruno da Silveira Bica

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Bruno da Silveira Bica

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