Hoje não vou falar de previdência. Quero tratar de um assunto diferente, sobre o qual muitas pessoas têm perguntado: por que o escritório de Candelária é uma réplica das ruínas de São Miguel das Missões? Vou contar essa história.
A terra onde meu avô paterno foi morar e se instalar no início do século passado, para ali constituir família, Roque Gonzales, um dia foi da redução jesuítica de São Miguel, ou seja, foi integrante dos Sete Povos das Missões. Lembro que, quando eu era criança, meu avô contava sobre panelas de barro e outros objetos que encontravam nas margens de rios e outras histórias. Algumas talvez fossem lendas. Lembro que falava de um túnel de 100 quilômetros, de um sino de ouro, etc… Ou seja, essas histórias estão presentes nas minhas lembranças de infância. Nessa terra meus pais também passaram a morar (meu pai já é falecido; minha mãe ainda vive lá), meu irmão constituiu família e eu vivi até os 18 anos.
Quando eu era criança, uma vez por ano meus pais nos levavam para visitar o Santuário de Caaró e as ruínas de São Miguel das Missões. Lembro de subirmos no alto da igreja e corrermos pelas pedras largas, de brincarmos no gramado em frente e tomarmos sorvete antes de voltar para casa. Em meados da década de 80 as ruínas passaram a ser patrimônio histórico da humanidade, assim reconhecido pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco).
Publicidade
Naquele tempo, eu não tinha muita noção da importância histórica desse lugar. Estudei sobre isso na escola, já que foi um momento marcante para o Rio Grande do Sul, uma vez que essas terras chegaram a ser espanholas. Menos ainda eu tinha noção do valor dessa terra, do que ali aconteceu e de como essa história marca todo um povo. A frase emblemática do índio Sepé Tiaraju – “essa terra tem dono” – significou a resistência dos indígenas a um acordo internacional (Tratado de Tordesilhas), entre Espanha e Portugal, que extinguiu aquela vida comunitária de São Miguel e outros povos das Missões.
O espetáculo reproduzido todas as noites nas ruínas de São Miguel, chamado “Som e Luz”, chama os índios que ali viveram para testemunhar, mais uma vez, a história contada por meio de um diálogo entre a igreja em ruínas e a terra onde tudo aconteceu. Já assisti uma dezena de vezes e tenho vontade de assistir muitas ainda e levar muitos amigos para ver, não só porque é uma história muito bonita e envolvente, baseada em fatos reais, mas porque me representa de certo modo. Faz parte da minha personalidade lutar pelos direitos, pelo que acredito que é certo (evidentemente que, como todas as pessoas, posso também errar, mas sempre querendo acertar). E talvez a identidade com a região das Missões explique isso.
VEJA MAIS TEXTOS DE JANE BERWANGER
Publicidade
Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!
This website uses cookies.