O Caso Daniela teve seu desfecho na noite desta segunda-feira, 29, após 12 horas do início do julgamento, em Agudo. Daniela Ferreira, 19 anos, era natural de Vera Cruz e desapareceu em 2012. Rogério de Oliveira, de 40 anos, foi condenado a 36 anos e 10 meses de prisão, sem direito de apelar em liberdade, pela morte da jovem e pela ocultação do cadáver. O corpo de Daniela nunca foi encontrado. Após o anúncio da condenação, a mãe da vítima disse que tinha esperança de que o acusado contasse onde escondeu o corpo, o que não aconteceu. Oliveira cumprirá a pena no Presídio Estadual de Agudo.
O homem foi a júri popular em sessão presidida pela juíza de Direito Magali Wickert de Oliveira. A acusação foi promovida pelo promotor Sandro Marones com assistência do advogado Daniel Tonetto. O corpo de jurados foi formado por sete homens.
A primeira testemunha a falar foi o delegado Eduardo Machado, que conduziu o inquérito. Ele afirmou que o réu tentou estuprar outra garota, antes de abordar Daniela. No entanto, como a jovem conseguiu chamar um táxi num posto da Brigada Militar, ele teria mudado o alvo. O delegado lembrou ainda que o réu havia praticado dois crimes semelhantes, em 1990, com roubo à residência e estupro de uma jovem.”Aos companheiros de cela ele deu detalhes do que fez com Daniela”, afirmou o delegado.
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Até agora, apesar da insistência da juíza, Oliveira nega a autoria da morte de Daniela. Ele também afirma que não assediou de forma violenta a outra garota, que estaria na mesma festa onde a vítima estava, mas que conseguiu escapar de táxi. O réu disse que encontrou Daniela em uma rua, mas que ela teria lhe cumprimentado porque teria o confundido com outra pessoa. Depois, teriam conversado sobre o baile e iriam trocar telefones, mas não tinham como anotar os números. Eles então combinaram de se encontrar em outra oportunidade, segundo Oliveira.
O réu afirmou que, logo depois, um carro parou junto dele e de Daniela, de onde dois homens saíram e renderam a jovem. Um deles estaria armado com um revólver. Segundo Oliveira, ele e Daniela teriam sido colocados no banco de trás do veículo. O carro seguiu por cerca de dois quilômetros quando, de repente, parou. O réu teria descido e corrido para longe. Oliveira atribuiu o material genético compatível com ele, que foi localizado na camisa de Daniela, à conversa que tiveram pela rua e ao suposto sequestro.
Durante as respostas à Promotoria, Oliveira disse que está sendo vítima de um complô para incriminá-lo. Em relação aos crimes anteriores de cunho sexual pelos quais ele foi condedado, o promotor Sandro Marones questionou se ele estaria arrependido. “É claro que sim”, respondeu. Na sequência, o réu se negou a responder se havia sido abusado pelo padastro na infância. Após diversas outras questões da Promotoria não serem respondidas, houve certo tumulto no local. O assistente de acusação apontou que há diferença entre o depoimento anterior de Oliveira em juízo e o que é prestado hoje. Quando a defesa começou a questionar o réu, ele contestou alguns depoimentos e disse que a delegada da Polícia Civil falsificou informações.
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A Juíza questionou Oliveira sobre os motivos que alguém teria para criar uma história deste porte contra ele. “Motivos pessoais”, afirmou. Ela perguntou então se ele gostaria de falar mais alguma coisa antes de o julgamento ser suspenso, e o réu insistiu em querer falar mais. Porém, a sessão foi suspensa da mesma forma até às 15 horas.
Após o retorno do julgamento, o promotor Sandro Marones exibiu o vídeo em que Oliveira aparece passando por Daniela na noite do crime. Todos os presentes na sessão permaneceram em silêncio absoluto durante a apresentação. Apenas a mãe da vítima, Celi Fuchs, não conteve as lágrimas e chorou ao ver as últimas imagens da filha. Com o término do vídeo, Marones começou sua fala. Ele disse que o réu vem tendo todos os direitos garantidos, mesmo tendo falado de forma prolixa e repetitiva. “O direito de ampla defesa está garantido”, acrescentou.
Em relação a tese de que Oliveira teria sido vítima de um complô para incriminá-lo, o promotor defende que o argumento “não tem verossimilhança”. Além disso, ele ressaltou a honestidade do delegado Eduardo Machado e do administrador do presídio, Eloir Friedrich que, conforme o réu, teriam armado uma história contra ele. “Estamos tratando com um criminoso perigoso e reincidente”, reforçou o promotor. Marones também afirmou que, ao construir sua tese de defesa, Oliveira acabou se perdendo. Na sequência, entregou documentos aos sete jurados que continham os depoimentos das testemunhas.
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“Maníaco não tem ego, tem desprezo pelo semelhante. Pensa sempre apenas em si próprio. Ele não tem humanidade”, afirmou Marones sobre as novas versões que o réu trouxe para o julgamento de hoje. O advogado de defesa, Sérgio dos Santos Lima, revidou a Promotoria e questionou as datas e algumas informações nos depoimentos das testemunhas. “Acho que não lemos o mesmo processo”, disse o advogado ao promotor. Após um tempo de discussão, o assistente de acusação, Daniel Tonetto, reforçou o compromisso que os jurados têm em decidir o futuro do réu. “Vocês podem deixar um psicopata desses livre ou fazê-lo passar décadas na prisão”, disse.
Na réplica, o assistente de acusação, advogado Daniel Tonetto, disse que Rpgério seria um assassino e um estuprador. Após, ele falou aos jurados que o suspeito teria mentido para a vítima. “Ele queria sexo de qualquer maneira. Passou a mão na vagina d euma mulher que estava na boate e quando viu que não conseguiria ela, foi para cima de Daniela”, falou. Conforme o promotor Sandro Marones, o acusado teria apresentado teses infundadas em sua defesa e lembrou aos jurados da confissão que teria feito a colegas de cela. Para ele, a camisa com material genético do réu e da vítima é a prova de que Oliveira seria o autor do crime.Em seguida, o promotor encerrou sua fala pedindo aos jurados a condenação de Oliveira.
A defesa também teve uma hora para se manifestar. O advogado Wender Lima pediu aos jurados que absolvam o réu se restarem alguma dúvida. Além disso, ele reforçou que as provas de DNA do material coletado na camiseta não seriam precisas. Encaminhando para o final da defesa, o advogado Sérgio Lima repetiu todos os argumentos que citou durante o julgamento.
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Ao fim das manifestações da defesa e da acusação, a juíza pediu para que o público, a imprensa e as testemunhas se retirassem da sala para que os jurados iniciassem a votação, que ocorreu em três partes: sobre o homicídio, sobre a ocultação de cadáver e sobre atentado ao pudor. Em cada uma delas responderam três questões, sendo elas se houve crime, se o réu teria participação no crime e se absolve ou não o réu. Quando os jurados terminaram, todos retornaram para a sala. Depois, a juíza anunciou a sentença.
O júri inicialmente havia sido agendado para 23 de abril, mas foi adiado em decorrência de um pedido de desaforamento (troca de comarca), feito pela defesa de Oliveira. O motivo seria a comoção popular em torno do caso. O recurso foi negado pela 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça gaúcho, no dia 13 de maio, pois não teriam sido apresentados elementos concretos que comprovem a possível parcialidade da comunidade.
O CASO
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Daniela foi vista pela última vez em 29 de julho de 2012
Daniela desapareceu no dia 29 de julho de 2012, na saída de um baile no Clube Centenário, em Agudo. Na época, o suspeito cumpria regime semiaberto no Presídio Estadual do município e estaria no baile também. Ele foi identificado por câmeras de segurança cruzando pela jovem por volta das 6 horas, quando ela retornava para casa. Desde então, Daniela nunca mais foi encontrada. O resultado da perícia nas roupas do suspeito indicou a presença de material genético da jovem. Ainda que nunca tenha sido encontrado corpo, ele foi acusado pelo assassinato de Daniela.
VÍDEO
Em agosto de 2012 a Gazeta do Sul conversou com a família da jovem. Confira abaixo o depoimento da irmã e imagens das câmeras de segurança que mostram o suspeito passando pela vítima no dia do crime.
Com informações do jornal A Razão.
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