Cultura e Lazer

Histórias de Düren, ou seriam de Ágatha?

Ao longo de anos, os leitores da Gazeta do Sul acostumaram-se a se deliciar, nesta página, a contracapa do Magazine, a cada final de semana, com as peripécias narradas pelo jornalista santa-cruzense Ricardo Düren, radicado em Vera Cruz. Em meados deste ano, a publicação das histórias foi interrompida, uma vez que Düren se transferiu para novo ambiente profissional (hoje, atua junto à equipe de Zero Hora e de GauchaZH).

Mas um plano que ele já acalentava se concretizou, e parcela daquelas crônicas (69 delas) acaba de ser reunida em livro. Causos da Ágatha e companhia resulta de edição que promoveu por intermédio do Clube de Autores, em volume de 231 páginas. Exemplares podem ser adquiridos em plataformas digitais (o próprio site do Clube de Autores; Amazon, Estante Virtual, entre outros).

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Para o livro, Düren fez seleção de textos entre dezenas que foram publicados neste espaço. Em especial, o período abrangido é o da pandemia, entre o final de 2019 e meados de 2022. Foram semanas e meses em que ele próprio, sua esposa e seus filhos estiveram submetidos, em família, às vivências de quarentena e de isolamento social, nas quais os leitores também podem se espelhar.

No caso de Ricardo, ele, hoje com 41 anos, e a esposa Patrícia, 38, puderam testemunhar as implicações daqueles dias incomuns para a rotina de seus quatro filhos. Na convivência doméstica, a criatividade e a perspicácia de sua filha caçula, Ágatha, hoje com 10 anos, renderam muito assunto. Assim, nada mais justo que a filhota aparecer, ao lado do papai escritor, na foto de divulgação do livro de cujas histórias é personagem central, em narrativas apresentadas como reais, mas com ares de ficção. E com direito a ilustrações feitas pela galerinha.

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Alguém até poderia aventar, em reflexão sobre o estatuto da literatura, se os causos são da Ágatha, a personagem, ou do pai Ricardo, o escritor. Certamente o mérito é de ambos. À Ágatha, cujo protagonismo é reconhecido pelo pai no próprio título do livro, juntam-se, claro, os causos da “companhia”: o Ricardo Júnior, que está com 17 anos; a Isadora, que está com 14; e a Yasmin, de 11 anos (além, claro, da mamãe Patrícia).

Formado em Comunicação Social – Jornalismo e doutor em Letras pela Unisc, Ricardo já assinara três livros anteriores: Assassinato na Real Biblioteca, de contos e crônicas, em 2013, pela Editora Gazeta; Crônica policial, em 2020, em edição do autor; e O homem da sepultura com capacete: uma história inspirada em fatos reais, também em 2020, este novamente pela Editora Gazeta. Nas crônicas que agora conformam a nova obra, sobressai a sutileza de manter o radar sempre ativo a fim de captar frases, ditos, chistes, trocadilhos e peripécias em família.

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Por tal exercício, a leitura do livro de Düren inspira a todos, em especial a pais, a prestarem máxima atenção às situações que envolvem a rotina de seus filhos, e não importa que idade tenham. Aliás, em paralelo, ele estava concluindo sua tese de doutorado e, assim, a cada semana, as crônicas de certo modo contrabalançavam a escrita acadêmica.

O conjunto acaba por formar um retrato da rotina em família ao longo do período incomum que foi a pandemia, com a quarentena e o distanciamento social, constituindo um recorte de época das vivências cotidianas. Por outro lado, passados esse anos, a garotada cresceu, e, com a chegada à adolescência, os interesses e as curiosidades já são outros.

Essa é uma das razões pelas quais ele próprio acabou por interromper essa série de crônicas. Mas fica, perenizada em livro, com enredos para lá de inusitados (também filosóficos), uma fase mágica no clã dos Düren, com a qual os leitores podem se divertir e emocionar.

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Saímos ao comércio, eu e a Patrícia, sob pretexto de ir tratar com Papai Noel da entrega dos presentes. Ao retornarmos, fomos bombardeados por perguntas:

– Vocês falaram cara a cara com ele? – quis saber a Yasmin. – Ou foi por videoconferência, por causa da pandemia?

Respondemos ter tratado diretamente com ele, mas respeitando o distanciamento, dado que havia cordões de isolamento.

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– E está tudo certo? – preocupou-se Ágatha. – Ele anotou nossos pedidos?

(***)

Estes dias, eu mesmo andava meio soturno, angustiado com minhas coisas de adulto – compromissos, prazos, contas a pagar em meio à alta dos preços… Para afastar a ansiedade, decidi atacar uma banana da fruteira e nem percebi que havia um pequeno orifício na fruta. Quando a descasquei, pronto para abocanhá-la, deparei-me com um minúsculo bilhete, cuidadosamente dobrado e inserido dentro da casca. Em uma microcaligrafia, o bilhetinho me avisava: Vai dar tudo certo.


Ficha

Causos da Ágatha e companhia, de Ricardo Düren. Santa Cruz do Sul: Clube de Autores, 2022. 231 p.



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Carina Weber

Carina Hörbe Weber, de 37 anos, é natural de Cachoeira do Sul. É formada em Jornalismo pela Universidade de Santa Cruz do Sul (Unisc) e mestre em Desenvolvimento Regional pela mesma instituição. Iniciou carreira profissional em Cachoeira do Sul com experiência em assessoria de comunicação em um clube da cidade e na produção e apresentação de programas em emissora de rádio local, durante a graduação. Após formada, se dedicou à Academia por dois anos em curso de Mestrado como bolsista da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES). Teve a oportunidade de exercitar a docência em estágio proporcionado pelo curso. Após a conclusão do Mestrado retornou ao mercado de trabalho. Por dez anos atuou como assessora de comunicação em uma organização sindical. No ofício desempenhou várias funções, dentre elas: produção de textos, apresentação e produção de programa de rádio, produção de textos e alimentação de conteúdo de site institucional, protocolos e comunicação interna. Há dois anos trabalha como repórter multimídia na Gazeta Grupo de Comunicações, tendo a oportunidade de produzir e apresentar programa em vídeo diário.

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