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História da cerimônia de coroação britânica: do local à ligação com a religião

Foto: Arquivo Pessoal

Charles III foi o quadragésimo monarca coroado na Abadia de Westminster

O óleo preparado e consagrado pelo Patriarca Teófilo III, em Jerusalém, é servido em uma colher de prata do século 12 e, com ele, o Arcebispo da Cantuária (Canterbury) unge o novo rei na testa, nas mãos e no peito. Sentado em uma cadeira de 700 anos, construída para guardar uma pedra escocesa que um dia supostamente rugiu, o monarca é o cerne de uma cerimônia de aliança, amor e compromisso que atenua a aura de brutalidade natural do poder.

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Nesse sábado, 6 de maio, parte significativa da população do planeta esteve sintonizada em uma rara cerimônia religiosa, cercada de luxuosa pompa, na qual Charles III se tornou o 40º rei coroado na esplêndida Abadia de Westminster. Um espetáculo de ostentação que pode parecer fora de lugar no século 21. Minha única aflição, como contribuinte da Receita Pública de Sua Majestade, é saber que o fausto ritual será pago pelo erário.

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Coroações não são requeridas por lei, já que o herdeiro assume a função imediatamente após a morte do soberano precedente. A nação, por outro lado, não abre mão do evento que, além do significado religioso, carrega a tradição milenar que materializa a união do país e fortalece seu símbolo maior: a Monarquia.

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Palco do grandioso evento, a milenar abadia foi construída pelo Rei Eduardo, o Confessor (1003-1066), que, apesar de estar ali enterrado, não viu sua inauguração, morrendo uma semana antes da consagração do templo. Último rei anglo-saxão, o piedoso Eduardo foi canonizado pelo Papa Alexandre III em 1161. A primeira coroação na abadia foi a de Guilherme, o Conquistador (1028-1087), normando que subjugou a Inglaterra e colocou uma dinastia francesa no poder.

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1953: Rainha Elizabeth II na Cadeira de Eduardo, o Confessor, usada há sete séculos em coroações

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O estilo gótico que vemos hoje no templo de Westminster foi adicionado por Henrique III no século 13, rivalizando com as magníficas catedrais francesas. Em 1559, Elizabeth I, excomungada pelo Vaticano, tornou-o oficialmente parte da Igreja da Inglaterra. Há mais de 3.300 pessoas sepultadas naquele que podemos chamar de panteão britânico, incluindo 30 monarcas, oito primeiros-ministros, personalidades da cultura e da ciência como Isaac Newton, Charles Darwin, Charles Dickens, Rudyard Kipling e Lawrence Olivier, políticos e líderes militares como o escocês Thomas Cochrane, criador da Marinha do Brasil e Marquês, além de saqueador, do Maranhão. Na entrada da igreja, em local de destaque, está o túmulo do soldado desconhecido.

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Embora a coroação seja uma cerimônia cristã e, desde o século 16, protestante, no ápice do ritual a unção do soberano remonta ao pré-cristianismo do antigo testamento, como diz a letra da composição de Händel usada nas coroações dos últimos três séculos: “Zadoque, o sacerdote e Natã, o profeta, ungiram o Rei Salomão”. Embora o monarca não seja mais visto como escolha divina, a religião tem status oficial na política britânica. A Câmara dos Lordes no parlamento tem 26 religiosos cativos, incluindo o próprio Arcebispo da Cantuária, formando a bancada dos Lordes Espirituais (ex officio). Para quem acha muito, lembro que, em Brasília, a chamada Frente Parlamentar Evangélica (Bancada da Bíblia), com 132 deputados e 14 senadores (25% do parlamento), é muito mais numerosa e colérica do que as batinas de Westminster.

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Abadia de Westminster foi inaugurada em 1066 e é considerada o panteão britânico

A monarquia é o símbolo nacional, mas o monarca é há séculos uma criatura do parlamento britânico, real poder político da nação. Por isso, a coroação inicia com um contrato formal. No juramento, uma das promessas feitas pelo soberano é a de submeter-se sempre ao parlamento e jamais se colocar acima da lei. Além disso, deve seguir a religião de seu povo. Como consequência, ao cruzar a fronteira com a Escócia, o monarca troca de religião, assumindo o presbiterianismo, prática oficial do país vizinho.

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Para nós, brasileiros, estranhos a tanta pompa e tradição, fica pelo menos a lição de como, através do simbolismo e da identidade nacional, é possível unir uma nação sem precisar negar sua diversidade, sem gerar divisão entre o povo e sem buscar um inimigo comum para benefício próprio. Em tempos de descrédito na política, vale lembrar que, ao olharmos para os eleitos, estamos diante de um espelho. O que não gostamos em legisladores e mandatários é, frequentemente, o que abominamos em nós mesmos.

Vida longa ao Rei… e a seus súditos!

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