Quando era criança, sempre fui apaixonada por histórias épicas, com guerreiros corajosos e valentes. Vão-se os anos e continuo apaixonada por histórias em quadrinhos e filmes de super-heróis e esse desejo de fazer o bem nunca me abandonou. Estranho, que algumas formas tão simples de fazer o bem estejam ao alcance das mãos, e a gente as deixe ir. Na semana passada escrevi sobre o direito de chorar em público, e a Bruna, que eu não conheço, me escreveu que “estava em prantos e as minhas palavras a abraçaram”. Espero que meu texto tenha feito tão bem pra ela quando o e-mail que ela me enviou.
Refletir a respeito desses pequenos gestos, que podem vir a ter tanto significado, é revelador. Que eu tenha juntado palavras e feito o bem. Ou que uma estranha tenha decidido enviar um e-mail. Ou que você tenha oferecido um sorriso. Elogiado um trabalho. Convidado alguém para um café. Às vezes, uma atitude como essas pode mudar tudo. São pequenas formas de heroísmo que custam muito pouco, às vezes nada.
Alguns dias atrás, viralizou a carta de despedida da australiana Holly Butcher, que morreu aos 27 anos, após uma longa batalha contra o câncer. Na missiva, a jovem ofereceu conselhos para aproveitar melhor a vida. O ponto que mais me chamou a atenção em seu texto foi onde ela pedia que o leitor, se quisesse fazer uma boa ação, salvasse vidas doando sangue. “Doações de sangue (mais bolsas que eu poderia contar) me ajudaram a continuar viva por mais um ano. Um ano que eu serei eternamente grata, que eu passei aqui na terra com minha família, amigos e cachorro. Um ano em que eu tive alguns dos melhores momentos da minha vida”, escreveu.
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Como doadora regular de sangue – afastada temporariamente das doações por conta das tatuagens – me senti tocada em pensar que essas doações que fiz podem ter tido tanto efeito para desconhecidos, em momentos de imensa dificuldade. E isso me lembrou do final de 2011, quando uma amiga de infância sofreu um acidente gravíssimo. A moto que ela conduzia colidiu frontalmente com um caminhão na RSC-287, e em coma no hospital, ela precisou de doações de sangue. Fiz minha doação, e pela primeira vez, o receptor da bolsa tinha um rosto e uma história que eu conhecia.
Algumas semanas depois quando essa amiga foi para o quarto, fui visitá-la. Acompanhada pela mãe, ela ainda estava debilitada e não conseguia conversar. Antes de ir embora, me desculpei pela demora em ir vê-la e sua mãe pegou minha mão e disse com olhos marejados de gratidão: “Não se desculpa não. Tu não tinha vindo, mas o teu sangue veio”. Aquilo me encheu de uma emoção muito pura, de alegria de ver ela viva, de orgulho por ter feito – mesmo que de forma modesta – parte de sua recuperação. Era mágico pensar que algo que fiz em tão pouco tempo teve tal impacto. Nunca me senti tanto como as heroínas das minhas histórias.
Veja:
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– A carta de Holly Butcher pode ser conferida na íntegra no Portal Gaz.
– Banco de Sangue Hemovida, do Hospital Santa Cruz, sempre precisa de doações. O local funciona das 7h30 às 13 horas e o telefone para contato é o (51) 3056 2103.
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