Que força misteriosa é esta que desloca milhares de pessoas dos mais longínquos lugares para ajudar desconhecidos em cidades que jamais visitaram?
Qual a origem dessa energia capaz de fazer com que um exército heterogêneo abandone suas moradias, empregos e o convívio com amigos para mergulhar numa missão humanitária nos confins do Brasil, mais exatamente no Rio Grande do Sul?
O desprendimento dos voluntários se constitui em um fenômeno que a cada tragédia deixa a todos boquiabertos, intrigados diante de uma vasta mobilização ocorrida nos mais diversos lugares. Eles vêm de todo o Estado, do país inteiro e dos mais distantes quadrantes do planeta. Todos, em uníssono, convergem para as incontáveis comunidades dizimadas pelas águas de maio.
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Desde o começo do mês, o mundo assiste sem compreender à eclosão de uma das mais impressionantes hecatombes climáticas da história. No lado oposto da emergência permanente temos a onipresente burocracia, chaga eterna de nossos órgãos públicos. A paquidérmica estrutura de organismos que deveriam ser ágeis, presentes e eficientes – e que são sustentados pelos nossos impostos – falha. E fortalece a importância vital dessas mobilizações espontâneas. Sem elas, o desastre seria ainda mais cruel. E fatal.
A força do voluntariado é um prodígio comum em países desenvolvidos. Desde a mais tenra idade, crianças e adolescentes são incentivados – e instruídos – a participar de ações que visem o bem comum mesmo em tempos de normalidade.
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Entre nós, no entanto, essa concentração de “energia do bem” ainda é discreta. O engajamento de boa parte da população, talvez, se dê agora, diante de três enchentes fenomenais em sete meses. Como sempre acontece, o aprendizado se dá diante da dor e das perdas que ensinam a valorizar o trabalho voluntário.
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O segredo do sucesso do voluntariado é o seu caráter permanente. Significa que mesmo em tempos de “normalidade” essa multidão de bons samaritanos trabalha incessantemente, de forma organizada e coordenada. Para eles, não é preciso a ocorrência de uma catástrofe para injetar ânimo e determinação nessa gente. Eles fazem o bem sempre porque desenvolveram a capacidade de vislumbrar necessitados em todos os lugares.
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Nosso querido Rio Grande encontra-se devastado, uma caricatura borrada do Estado que aprendemos a amar. A cada foto, reportagem ou depoimento brota o choro do semblante dos gaúchos. Um sentimento de impotência invadiu a todos nós. Uma espécie de culpa por não conseguirmos ajudar mais. Ver homens, mulheres, idosos, crianças, animais e residências destruídos pelas águas deixará marcas profundas em todos nós.
Reconstruir o Estado exigirá muitos recursos. Reconstruir as pessoas vai exigir muito mais!
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