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FORA DE PAUTA

Herói ou trapalhão?

Era mais um dia daqueles sem mais nem menos, nada de especial. Chegava em casa um pouco cansado, começo de noite, ainda pensando em alguma coisa que precisaria fazer no dia seguinte. Olhei pela porta de vidro e a Lu já anunciou para aquele serzinho que eu estava ali. Sentada no chão, absorta nos seus brinquedos (e potes, os preferidos), Maria Flor levantou os olhinhos espertos, abriu um sorriso largo e provocada pela mamãe mandou um “Papa”. Eu não sei explicar com exatidão o que senti, mas sem exageros, naquele momento eu queria que o tempo parasse. Poderia ficar vivendo aquela cena, encantado, por um bom tempo.

Já falei neste mesmo espaço que há tempos venho pensando que a beleza da vida não está nos grandes feitos ou atos, mas naquelas coisinhas do dia a dia que nos fazem gente. Um abraço, um afago, um cheiro… na simplicidade e nos afetos nos reconectamos com nossa humanidade.

Desde que Maria Flor nasceu, nem sequer um dia deixamos de estar juntos. Eu não conseguiria. Ela tem sido a luz de nossas vidas e acho maravilhoso ver cada novidade que ela apresenta. Aliás, aquele clichê de que ter uma filha ou filho é ter o seu coração batendo em outro corpo é uma falácia, não chega nem perto de simbolizar o sentimento real. A paternidade é muito mais do que isso! É nosso encontro com o divino, com o imponderável, com o amor mais grandioso e ao mesmo tempo mais singelo.

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E aqui quero colocar algumas questões ainda. Eu não sou herói ou um paizão. Sou apenas pai da minha filha. Não faço nada além da minha obrigação ao compartilhar noites mal dormidas ou todos os desafios de criar uma criança com minha esposa. Revezamos para que o outro possa descansar quando o sono de nossa pequena é cheio de sobressaltos. Trocar fraldas, arrumar a Maria para levar na escolinha, dar banho, lavar e dobrar as roupas, ajeitar a mochila, fazer comidinha, consolar, afagar e estar presente é apenas parte do meu dever. Como sociedade, já deveríamos ter superado essa conversinha do homem que “ajuda” a mulher. Um casal divide, coopera, compartilha. É uma relação de parceria e companheirismo. Assim somos, eu e a Lu.

Ao mesmo tempo, já houve momentos em que senti menosprezado meu papel. Para não criar melindres, prefiro não citar situações específicas, mas é comum ter as minhas funções como pai minimizadas. E o que mais incomoda é que, em geral, são mulheres que têm essa abordagem. Pode parecer bobagem, mas isso chateia quem está aprendendo e tentando fazer o melhor. Sem querer ser perfeito ou um exemplo, mas um aprendiz empenhado. Entretanto, de certa forma, compreendo esse posicionamento machista. Infelizmente, é incomum ver homens fazendo aquilo que deveriam fazer e isso ainda causa estranhamento.

Fico pensando em quando nasci, lá em 1989, e tive na figura do meu pai algo muito semelhante ao que tenho tentado fazer agora com a Maria Flor. Sem dúvidas, há mais de três décadas a dedicação dele no meu cuidado deve ter causado perplexidade em muita gente. Alguns quem sabe compadecidos com aquele homem que fez massagens no pezinho torto do filho até que colocou no lugar. Naquele cara que esteve presente em cada momento e nunca se furtou em ser um pai de verdade, um pai real. O Dedeco foi e é meu grande exemplo.

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Minha filhinha completa um ano em menos de um mês. Desde o nascimento dela, tenho vivido um turbilhão tão grande que às vezes preciso parar, respirar e agradecer. Por cada aprendizado, por cada conquista. Pela oportunidade de estar ali, presente, como deve ser. E digo com orgulho que, com todos os meus conflitos, dilemas e medos, eu sou Pai.

À Maria Flor, todo o meu amor.

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