Georg Wilhelm Friedrich Hegel (1770-1831) afirma que o ser humano só se pode constituir pela confrontação de, pelo menos, dois desejos assimétricos (não iguais). Assim, se tornaria escravo aquele que colocasse sua vida acima de sua liberdade, e por isso pararia de lutar. E, contrariamente, se tornaria senhor aquele que colocasse sua liberdade acima de sua vida, e por isso continuaria lutando!
O filósofo alemão observava que a história humana é exuberante no estabelecimento e afirmação de relações de senhorio e servidão, e que passam, regra geral, pelas guerras, uma forma extremada de submeter um povo à vontade do outro.
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O equilíbrio de poder que havia entre os Estados Unidos e a União Soviética de algum modo sempre refreou a hipótese de ocorrência de uma nova guerra, ou a disseminação de várias guerras.
Mas com o “desmonte” da URSS esse equilíbrio não existe mais. Consequentemente, os EUA estão livres para tornar a guerra uma prática corriqueira e banal, o que de fato já estão fazendo e continuarão a fazer.
Assim, temos e teremos uma sucessão de microguerras, a pretexto de qualquer palavra de ordem. A Guerra do Iraque foi um exemplo. Hoje há outras.
Mas se os norte-americanos destruíram o Estado Iraque, sua infraestrutura e suas instituições sociopolíticas, não foram, todavia, capazes de liquidar a vontade dos que optaram por resistir.
Nesse sentido, a resistência iraquiana e sua insubmissão – negação da servidão demonstram que à falta de base política e/ou legitimidade local, toda ocupação fracassa, ainda que baseada em poderio tecnológico superior.
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Também é verdade que a ocorrência da guerra é um fracasso da política. Da ausência ou incompetência de interlocução. O redescoberto e famoso Sun Tzu já dizia que “a guerra perfeita é aquela que não chega a ser travada. O estrategista perfeito é o que consegue quebrar a vontade do outro sem ter de arcar com os custos e os riscos de uma guerra de verdade”.
Por que estou escrevendo sobre isso? Porque lembrei da Amazônia. De repente, vem à tona uma enxurrada de notícias e denúncias de pesquisadores e membros das forças armadas acerca de constituição de bases sociais e econômicas estrangeiras, com envolvimento das tribos locais e tentativa de legitimação da ocupação.
Independentemente de nossa limitada capacidade de gerenciamento daquele megaproblema (ou será megassolução?), creio pertinente uma exemplar reação, sob pena de resultar na submissão e a prevalência do espírito do escravo. Uma boa oportunidade para o “pessoal do governo” reler Hegel!
(Publicado originalmente em junho de 2008)
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