O comportamento das pessoas tem muito a ver com hábitos. Sedentários, obesos, alcoolistas, perdulários, etc., tem em comum hábitos prejudiciais às suas vidas. Em contra partida, muitas pessoas praticam hábitos bons, como ter uma alimentação saudável, fazer exercícios físicos, cuidar das finanças. Claro, alguns hábitos não são prejudiciais, ou são menos, como dormir sempre do mesmo lado da cama, frequentar os mesmos lugares, fazer os mesmos trajetos para ir ao trabalho, ouvir um mesmo tipo de música, etc. Enfim, não importa o que a pessoa é: sua vida é repleta de hábitos. O americano Charles Duhigg cita, em seu livro “O Poder do Hábito”, a definição de William Jones de que “toda a nossa vida, na medida em que tem forma definida, não passa de uma massa de hábitos – práticos, emocionais e intelectuais – sistematicamente organizados para nossa felicidade ou nosso sofrimento e nos conduzindo irresistivelmente rumo a nosso destino, qualquer que seja ele”.
Os hábitos, dizem os cientistas, surgem porque o cérebro está o tempo todo procurando maneiras de poupar esforço. Um pesquisador descobriu que mais de 40% das ações que as pessoas realizam todos os dias não eram decisões de fato, mas sim hábitos. Assim como repetimos inumeráveis hábitos, não racionais nem conscientes, como, por exemplo, vestir primeiro a perna direita ou esquerda da calça, o mesmo podemos fazer com o nosso dinheiro, adquirindo o hábito de poupar, evitar compras descontroladas, elaborar e seguir um planejamento financeiro.
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A maioria das pessoas acredita que suas decisões financeiras são sempre feitas com fundamentação e com muitas análises e justificativas. Isso pode ser verdade, quando envolve valores maiores que podem impactar de forma considerável o orçamento. Mas, os gastos cotidianos, sobre os quais não nos preocupamos ou aparentemente não necessitaríamos avaliar a decisão a tomar, ficam por conta do “piloto automático”, quer dizer, pela repetição de hábitos.
Hoje, já se sabe que, geralmente, os problemas financeiros não são decorrentes de baixos salários, crises econômicas do país ou algum imprevisto, como a perda do emprego ou negócio, por exemplo, embora, em alguns casos, isso seja verdade. Tanto assim que até pessoas com rendas acima da média também têm dificuldades até para pagar suas contas mais essenciais, que dirá conseguir acumular algum patrimônio. Muitos problemas financeiros ocorrem simplesmente pelo fato de as pessoas repetirem hábitos prejudiciais quando se trata de dinheiro. Não elaborar e acompanhar um orçamento pessoal ou familiar, comprar por impulso, não definir objetivos financeiros, não poupar, não planejar seus investimentos, etc. são alguns deles.
Os padrões que utilizamos para a construção de qualquer hábito também servem para nossa organização financeira. Ainda de acordo com Charles Duhigg, citado anteriormente, todo hábito, tanto o que queremos eliminar, quanto o que queremos adquirir, tem os mesmos três componentes: 1º) o gatilho: perguntar-se o que ganha ou perde com um hábito; 2º) a ação: consciente do gatilho, interromper a ação que leva a gastar demais ou tirar algum obstáculo que faz, por exemplo, não dar bola para a condição financeira; 3º) a recompensa: não se recompensar por não ter comprado, mas por ter insistido na mudança de comportamento; ou, então, se conseguiu vencer uma tentação de comprar, comer ou fazer algo prazeroso.
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A maioria das pessoas que tem consciência de seus maus hábitos gostaria de saber se existe uma fórmula mágica de mudar isso rapidamente. Charles Duhigg diz que, como os indivíduos, os hábitos e os anseios pessoais são todos diferentes, ficaria difícil estabelecer uma fórmula única. Mas, o autor propõe um esquema básico de quatro passos que ele considera um ponto de partida: 1º) identificar a rotina: o que faz comprar alguma coisa; 2º) experimentar com recompensas: ao vencer uma tentação de gastar ou comprar qualquer coisa, recompensar-se de forma diferente; 3º) isolar a deixa: ao sentir a necessidade de comprar ou gastar, anotar cinco coisas no momento em que surge o impulso: o lugar onde está, que horas são, qual o estado emocional (feliz, chateado, deprimido, etc), quem está por perto e qual foi a ação anterior ao impulso; 4º) ter um plano: uma vez tendo consciência porque tem o hábito de comprar ou gastar demais – identificou a recompensa que move o comportamento, em que momento ele acontece e a rotina em si – é hora de experimentar outra rotina e recompensa; por exemplo, no shopping deu aquela vontade de comprar um item qualquer, dar uma volta nos corredores, ver outras vitrines, conversar com alguém, enfim, fazer algo diferente.
Quem não está satisfeito com sua atual situação financeira pode mudar isso. Algumas dicas: 1ª) conhecer e organizar suas finanças: fazer um diagnóstico, levantando e acompanhando suas despesas, por um período de 30 dias (quem tem ganhos fixos) e 90 dias (quem tem ganhos variáveis); 2ª) começar a pensar nas suas finanças de forma contínua; 3ª) incorporar a administração financeira à sua rotina; 4ª) utilizar lembretes para atualizar sua planilha; 5ª) traçar metas financeiras de curto prazo (até um ano), médio (até 10 anos) e longo prazo (mais de 10 anos).
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Com base no diagnóstico inicial das finanças pessoais e familiares, as pessoas tem em mãos uma radiografia de seus gastos, tornando-as mais conscientes na hora de fazer alguma compra e, às vezes até sem perceber, conseguem economizar. A atitude inicial e principal é identificar os hábitos prejudiciais que precisam ser mudados. Depois, educar-se financeiramente. Não só aprender a elaborar e acompanhar um orçamento, fazer cálculos, pesquisar preços, que são providências necessárias, mas não fundamentais. A educação financeira que a metodologia DSOP, por exemplo, está disseminando pelo Brasil e em outros países, vai além: ela trabalha o comportamento das pessoas. É a mudança do modelo mental – coisas em que acreditamos, como, por exemplo, que uma pessoa só é feliz quando tem tudo o que deseja – e de hábitos. O sucesso financeiro não depende do quanto se ganha, mas de como se lida com o que se ganha. Esse é um hábito que pode ser aprendido. Pode não ser necessariamente fácil, nem rápido, nem sempre simples. Mas é possível. Se alguém acredita que pode mudar – e faz disso um hábito – a mudança desejada se torna real.
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