Alguns amigos – na verdade muitos – andam incomodados com algumas postagens em que trato da finitude da vida. Dizem que virei um velho ranzinza, pessimista e conformado com a proximidade do ocaso. Acho normal. Democracia é liberdade de manifestação, de opinião, de pontos de vistas diferentes. É da discussão civilizada que nascem as ideias. Diferente da troca de ofensas das redes (anti) sociais.
Chegar aos 58 anos – às vésperas dos 59 – tem vantagens, acredite. Uma delas é antecipar algumas reações e resultados. Empreendo um grande esforço ao ver amigos menos experientes tomados pela euforia que sei, de antemão, que terá desfecho muito diferente da expectativa criada. Evito desanimar as pessoas diante do otimismo exacerbado que muitas vezes leva à decepção.
“Pessimista é um otimista bem-informado”, repito. Isso inclui experiências do tipo “já vi isso acontecer e não deu em nada” ou “calma, na prática a teoria é outra”. Meu pai, falecido aos 52 anos, costumava dizer:
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– Deveríamos viver duas vezes. Na primeira, a gente aprendia os “segredos do bem viver”. Na segunda, viveríamos a plenitude das coisas. Mas qual seria a graça de saber a resposta para tudo com antecedência? – repetia.
Viver é tentativa e erro. Um aprendizado permanente, não importa a idade. Todos os meus colegas de trabalho são mais jovens. Brincam com minha condição de semi-idoso – expressão que cunhei – desde o dia 8, quando passei a ser “aposentado de papel passado”.
Apesar das dores – “cotovelo de tenista”, distensão na virilha, rompimento do tendão do dedo anular e hérnia de disco –, a vida tem sido muito boa, só tenho a agradecer. Interpreto os percalços como solavancos normais, embora alguns nos tirem do sério. Além disso, os avanços da medicina e da fisioterapia minimizam as mazelas, dando qualidade de vida.
Envelhecer é uma arte porque exige adaptações numa fase da vida cuja tendência é “se achar”, ou seja, ter a certeza de que sabemos tudo. Longe disso, as armadilhas estão à espreita quando se relaxa, achando que não existem mais novidades.
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Com os filhos e os jovens à volta me abasteço de energia. Também “sugo” otimismo quando o desânimo bate forte, naqueles momentos em que gostaria de morar na praia, acordar tomando chimas e vendo as ondas quebrando na areia.
Quando somos jovens, é difícil acreditar que na maturidade ainda há mistérios a desbravar, gente boa para conhecer e vitórias a conquistar. Aos amigos preocupados com minhas recaídas depressivas aviso que continuo acreditando. Na vida e nas pessoas.
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