Há mais de um século

Estamos nos aproximando do fim de outro ano difícil, mas que trouxe notícias boas, com a superação gradual da pandemia, graças à vacinação. Sabia-se desde o início que só a imunização poderia frear o contágio e, em consequência, as mortes causadas pela Covid-19 no Brasil. Hoje, quando os números mostram a redução de casos na maioria das regiões, percebemos o acerto de quem apostou nisso desde o começo. O temor quanto a novas variantes do vírus persiste, mas a sensação, de modo geral, é de que a situação chegou a um patamar controlável.

Mesmo assim, há quem insista em desprezar a relevância da imunização. A polêmica da vez é a cobrança do passaporte vacinal – e, por tabela, de qualquer regra condicionando a circulação de pessoas à comprovação de que se vacinaram. O argumento contrário é, em geral, sempre o mesmo: a defesa da liberdade individual (para alguns, valor maior do que a própria vida), supostamente afrontada pela exigência de obrigatoriedade. Não é um discurso novo.

Há mais de um século, em 1904, uma campanha de imunização compulsória no Rio de Janeiro (capital do País) provocou a Revolta da Vacina. O inimigo era a varíola, o presidente era Rodrigues Alves e o responsável pelo programa de combate, o médico sanitarista Oswaldo Cruz. As restrições para quem não se vacinasse eram severas: proibição de assinar contrato de trabalho, viajar, matricular-se em escolas e até mesmo casar.

Publicidade

A revolta não estourou sem motivos. Há relatos de que as brigadas sanitárias invadiam casas e imunizavam a população à força. (O escritor Moacyr Scliar retratou esse período com vivacidade no romance Sonhos tropicais, de 1992.) E se hoje, em 2021, pessoas conseguem acreditar nas mais bizarras fake news, imagine como era convencer a opinião pública há mais de um século. Por exemplo, acreditavam que a vacina contra a varíola transformava seres humanos em animais. Mas estávamos, é claro, em 1904.

E veio a rebelião. De 10 a 16 de novembro, um motim popular resultou em 110 feridos, 30 mortos e 945 prisões. O governo revogou a vacinação obrigatória. Mais tarde, em 1908, o Rio foi atingido pela mais violenta epidemia de varíola da história. E as pessoas procuraram a vacina de forma espontânea, para preservar o que mais lhes importava: suas vidas.

LEIA OUTRAS COLUNAS DE LUÍS FERNANDO FERREIRA

Publicidade

Quer receber as principais notícias de Santa Cruz do Sul e região direto no seu celular? Entre na nossa comunidade no WhatsApp! O serviço é gratuito e fácil de usar. Basta CLICAR AQUI. Você também pode participar dos grupos de polícia, política, Santa Cruz e Vale do Rio Pardo 📲 Também temos um canal no Telegram! Para acessar, clique em: t.me/portal_gaz. Ainda não é assinante Gazeta? Clique aqui e faça sua assinatura agora!

Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

Share
Published by
Heloísa Corrêa

This website uses cookies.