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Há 200 anos, as famílias alemãs chegavam ao Rio Grande do Sul

A vinda dos imigrantes alemães para o Brasil ocorreu por meio de um Convite Imperial, realizado por Dom Pedro I. Considerada a Primeira Fase da Imigração Alemã, ela iniciou em 1824, em São Leopoldo. A Colônia de Santa Cruz foi a primeira a ser ocupada na Segunda Fase da Imigração, em 1849, depois da Revolução Farroupilha (1835-1845).

Em Santa Cruz do Sul, a colônia foi criada com o propósito de receber o grupo de colonizadores que era composto por 12 pessoas, das quais quatro eram crianças. Eles vieram da Prússia (Estado dentro do Império Alemão) e da Silésia (região histórica dividida entre a Polônia, a República Checa e a Alemanha). Na época instalaram-se na Picada Velha, hoje conhecida como Linha Santa Cruz e a Província foi a responsável pela instalação desta colônia.

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A história conta que esses imigrantes fugiam de uma Europa cheia de problemas, conflitos, miséria e fome. Aqui, tinham esperança de ter na nova terra um espaço no qual pudessem plantar e colher produtos para alimentar as famílias e eles não precisassem mais passar fome.

De início, não tinham ferramentas adequadas para a agricultura. As casas foram construídas por eles, em um período em que isso significava fazer até mesmo o corte das pedras e madeiras. Para trabalhar no espaço demarcado para as colônias, nos primeiros 18 meses os imigrantes receberam do Governo Imperial auxílio com sementes e ferramentas. Com o tempo, outros grupos de imigrantes vieram depois da primeira leva, e foram colonizando juntos este espaço.

Os próprios imigrantes cortavam as pedras e as madeiras para construírem suas casas

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As dificuldades

A falta de um médico próximo era uma das dificuldades enfrentadas pelas famílias. Além disso, não havia escola, professores, pastores ou padres. O que era um problema para elas, pois acreditavam que se não houvesse uma oração, não haveria sucesso na colônia. Em virtude de entre os colonizadores existirem quatro crianças, a necessidade de encontrar professores para auxiliar na sua educação era premente.

As mulheres tinham papel importante na preservação da cultura alemã

Como não foram atendidos pelo Governo da Província, a própria comunidade contratou professores e fundou sua própria escola. Na ausência de profissionais qualificados para essa função, a pessoa mais culta da sociedade era escolhida para desempenhar as atividades de professor e as mães, em casa, já ensinavam as primeiras letras. Inclusive, o papel da mulher nessas famílias era essencial na preservação da língua alemã, através do canto, das leituras e também das cantigas de ninar.

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Os imigrantes alemães também trouxeram e cultivaram diversos valores na colônia que fundaram. No que tange à religiosidade, cada família tinha consigo uma Bíblia em seu baú de viagem, bem como um livro de orações e cantos religiosos. Obras populares também faziam parte dessa bagagem, como forma de lembrar e manter a cultura do seu lugar de origem.

Outra dificuldade era que a casa comercial mais próxima estava localizada em Rio Pardo. Isso exigia que viajassem para fazer as compras dos produtos necessários, o que significava a perda de dois dias para a produção agrícola: um dia para ir e outro para voltar. Lá eles adquiriam os produtos que não produziam, como sal, café e querosene.

Nas viagens de 30 quilômetros para Rio Pardo, que duravam até dois dias, imigrantes adquiriam produtos como café e sal

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Lazer, festividades e tradições

Os imigrantes que vieram para Santa Cruz do Sul trouxeram com eles vários costumes. Muitos eram tradições da Alemanha, e outros foram adaptados aqui do Brasil. Para ocupar o tempo e se divertir, os colonos muitas vezes se reuniam com suas famílias em almoços e jantares, assim como nas datas festivas, como Natal e Páscoa. Para eles, essa era uma maneira de se reunir e interagir com a própria família e com a comunidade, mantendo ativas as tradições e os costume dos alemães.

Entre as festividades que foram trazidas, os imigrantes se reuniam nas sociedades que se formavam para realizar encontros, atividades de tiro ao alvo, jogos de loto, de lanceiros e outros mais específicos, como bolão de mesa e bolão de bola presa. Essa formação deu origem a muitas cooperativas, como o Sistema de Crédito Cooperativo (Sicredi). Os colonizadores se reuniam nessas cooperativas, tornando-se uma colônia cada vez mais forte e unida.

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A Páscoa trouxe os ovos pintados como uma tradição tipicamente alemã, assim como os ninhos com guloseimas escondidos nos pátios das casas. Já o preparo para as festividades natalinas também era um momento muito especial para os alemães. Ficou conhecido como Tempo de Advento, no qual prevalece a fabricação de bolachas natalinas, bolos de Natal, bolos com frutas e a confecção dos presentes para as crianças.

Outra curiosidade é que na época em que os imigrantes chegaram à colônia, não existia a possibilidade de comprar presentes. Como a única festa em que as crianças realmente ganhavam alguma lembrança era no Natal, os adultos confeccionavam brinquedos a partir de madeira e pano. Esse período era contemplado com canções natalinas de tradição alemã que eram cantadas em família. Um exemplo mundialmente conhecido, que foi trazido pelos alemães para o Brasil e outros lugares do mundo, é a música Noite Feliz. Ela foi composta em 1818, onde hoje é a Áustria, mas na época era um país de língua alemã.

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Os aniversários eram comemorados com uma festividade familiar, apenas com uma comida um pouco melhorada e flores sobre a mesa.

Outra tradição importante era a presença da música na rotina dos colonizadores. Desde os primórdios, a música reunia a família e também a comunidade na igreja. Como as famílias geralmente eram numerosas, sempre tinha alguém que sabia tocar algum instrumento musical. Eles costumavam cantar para amenizar a saudade da terra natal.

Texto feito com base no livro “A colonização alemã em Santa Cruz do Sul: um registro fotográfico”, de Laura Gomes e Lindiara Hagemann

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Heloísa Corrêa

Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.

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