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LITERATURA

Há 100 anos, morria o escritor Lima Barreto

Foto: Reprodução

Nesta terça-feira, 1º, ocorre o centenário de falecimento de um dos mais importantes nomes da literatura brasileira. O escritor carioca Afonso Henriques de Lima Barreto, que assinou obra como Lima Barreto, morreu no dia 1º de novembro de 1922, em sua cidade natal, o Rio de Janeiro, aos 41 anos. Não só foi um dos maiores cronistas dos primeiros anos do século 20 na então ainda capital federal, como pode ser considerado um dos expoentes da literatura elaborada por intelectuais negros no País, em uma época ainda fortemente marcada pela recente abolição da Escravatura, em 1888.

Pois Lima Barreto nasceu justamente no dia em que a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea, em 13 de maio. Ele tinha sete anos quando esse ato histórico foi concretizado. Afonso descendia de duas famílias que haviam vivenciado o drama da escravidão. Se nasceu no dia, no mês e no ano da abolição da escravidão para o povo de sua raça, morreu no mesmo ano da Semana da Arte Moderna, que, por sua vez, viria a revolucionar o ambiente cultural artístico nacional.

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Afonso perdeu a mãe, professora de primário, quando tinha quatro anos, e o pai era tipógrafo. Com pouco mais de 20 anos, começou a fazer as primeiras contribuições em revistas. E em 1909, com menos de 30, publicou o romance “Recordações do Escrivão Isaías Caminha”, que se firmaria para sempre na literatura em língua portuguesa. A ele se seguiu outra obra-prima, “Triste fim de Policarpo Quaresma”, em 1911, pela originalidade do olhar sobre a realidade social do Rio, capital brasileira, mas que era um retrato da sociedade brasileira como um todo, vista “de dentro”, da casa humilde para fora. Originalmente, o romance foi publicado em partes no “Jornal do Commercio”, mas logo reunido em volume, pago do próprio bolso por Lima Barreto.

Se por um lado se projetava como intelectual ou escritor, por outro se via mergulhado em crises de depressão, que levaram ao alcoolismo. Sendo um dos problemas que foram se alimentando reciprocamente, e que o levaram a internações em hospício, afinal o tipo de clínica de tratamento existente na época. Ainda mais que, em paralelo, a crítica oficial, em jornais ou revistas, praticamente ignorou por completo o autor e sua obra, certamente guiada pelo status quo da época, diante de um escritor combativo, que desnudava as incongruências e as hipocrisias em todas as áreas da sociedade da metrópole naqueles 20 primeiros anos do século 20.

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Em 1915 lançou “Numa e a ninfa”, e em 1919 outro livro essencial, “Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá”. Entre uma crise depressiva e outra, e sempre apelando para o álcool, seguia produzindo com prolificidade; em 1923, já postumamente, viria o romance “Os Bruzundangas”, assim como “Clara dos Anjos”, lançado em 1948. Em 2017, a Companhia das Letras relançou a edição conjunta de “Diário do hospício”, com registros ácidos, a la Dostoiévski, da internação no local em 1919, e ainda do romance inacabado “O cemitério dos vivos”, lançado pela primeira vez em 1956, e no qual igualmente tematiza aquele ambiente e as lembranças do período.

Um século depois de sua morte, segue presente e muito viva a obra de Lima Barreto, quase que exigindo uma leitura constante, até para, por intermédio dela, refletir sobre os tristes dias em que convivemos.

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