No dia 19 de agosto de 2011, por sugestão do então diretor de conteúdo da Gazeta do Sul, jornalista Igor Muller, iniciei o blog – Falando de dinheiro –, hospedado no Portal Gaz. Assim, completo 10 anos de postagens semanais. Até o fim do ano passado, os artigos eram publicados no citado blog e, em janeiro deste ano, migraram para o link “colunistas” da Gazeta digital.
Vale lembrar que, desde 2002, já mantinha coluna semanal, na Gazeta do Sul, com o nome de Tempo e Dinheiro; primeiramente, no caderno Magazine, convidado pela então editora Mara Pante; posteriormente, com a extinção daquele caderno, a coluna era publicada na página 3 da Gazeta do Sul, onde ficou até passar para os “Blogs”.
Como tinha escrito no primeiro artigo do blog Falando de Dinheiro, em 19 de agosto de 2011, era um desafio. Não tanto quanto em 2002, quando finanças pessoais – ainda não se falava em educação financeira – era um termo novo nos meios de comunicação e havia um certo ceticismo sobre o assunto. É devido ao pioneirismo regional, talvez até estadual, da Gazeta do Sul – e sou grato por isso – que me permitiu a inserção desse tipo de assunto nas páginas do jornal.
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Ao fazer essa reflexão inicial, fui assaltado por uma dúvida. Qual seria a forma correta de identificar a coluna: falando em dinheiro, de dinheiro ou sobre dinheiro? Consultado a respeito, o professor Elenor Schneider me tranquilizou, dizendo que as três formas estariam corretas, mas que ele optaria por “falando sobre dinheiro”.
Falar sobre dinheiro ainda é difícil e delicado. Para muitas pessoas, não importa o gênero, a profissão, religião ou classe social, falar sobre dinheiro é um tabu. Lembra algo pessoal, proibido, causa constrangimento e até desconforto. É o que comprovou um estudo realizado, nos Estados Unidos, pelo banco Wells Fargo, que apurou que o maior tabu identificado entre as pessoas que responderam à pesquisa era falar sobre dinheiro.
A dificuldade do brasileiro de falar sobre dinheiro também apareceu em pesquisa nacional, realizada pelo Serviço de Proteção ao Crédito (SPC Brasil) e pela Confederação Nacional de Dirigentes Lojistas (CNDL), que revelou que três em cada dez pessoas não sabem ao certo o valor do salário do companheiro. O estudo ainda mostrou que o hábito de discutir o orçamento familiar com o parceiro e com outros membros da família é pouco frequente; 18,1% o fazem, com cobranças recíprocas, apenas quando a situação financeira está ruim. Talvez seja esse um dos principais motivos que fazem o dinheiro virar um problema na vida da maioria das pessoas, manifestando-se em preocupações financeiras, noites mal dormidas, brigas e separações de casais, estresse, falências pessoais ou de negócios, etc.
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A conversa sobre dinheiro não pode restringir-se a fazer anotações em uma planilha ou escolher o melhor investimento, procurando tornar-se mais “inteligente financeiramente”. São providências importantes, mas meramente técnicas, que compõem as finanças pessoais – pesquisar preços, preparar e seguir um orçamento pessoal ou doméstico, saber fazer algumas contas, conhecer produtos financeiros e melhores estratégias de investimento, etc.
Mais importante que o conhecimento, no entanto, é o comportamento das pessoas. Um gênio que não consegue controlar as emoções pode se tornar um desastre financeiro. Já pessoas sem grandes conhecimentos técnicos, mas com meia dúzia de habilidades comportamentais, são capazes de manter uma vida financeira tranquila e até acumular um patrimônio. Por isso, falar sobre dinheiro deve ser mais amplo: de onde vem e para onde vai, faz sentido? Está alinhado aos valores pessoais e familiares?
O criador da DSOP Educação Financeira e autor de livros sobre o assunto, o pós doutor Reinaldo Domingos, no livro Terapia Financeira, publicado pela primeira vez em 2008, já tinha clara a necessidade de completar as técnicas das finanças pessoais com o comportamento. Esta seria a verdadeira Educação Financeira. Na definição de Reinaldo, “Educação Financeira é uma ciência humana que busca a autonomia financeira, fundamentada por uma metodologia baseada no comportamento, com o objetivo de construir um modelo mental que promova a sustentabilidade, crie hábitos saudáveis e proporcione o equilíbrio entre o ser, o fazer e o ter, com escolhas conscientes para a realização de sonhos”.
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Questões relacionadas a dinheiro são – e sempre foram – estressantes. É o caso de algumas pessoas que manifestam padrões persistentes, previsíveis e frequentemente rígidos de comportamentos autodestrutivos relacionados ao dinheiro, que provocam estresse, ansiedade, sofrimento emocional e incapacidade em áreas importantes da vida. Em geral, elas sabem que devem mudar o comportamento, mas simplesmente não conseguem fazê-lo. Ou, se conseguem, são incapazes de manter a mudança. Para conseguir vencer essas dificuldades, um número crescente de pessoas está buscando ajuda em terapias financeiras.
Por fim, como define Dan Ariely, no livro A Psicologia do Dinheiro, “qualquer quantidade de qualquer dinheiro pode ser usada a qualquer momento para comprar (quase) tudo”. Mas, para isso, quase todos precisam aprender alguma coisa. Quanto mais cedo, melhor. O melhor investimento nas escolas é ensinar a todas as crianças a amar o dinheiro. É lamentável que um movimento de professores esteja se manifestando contra o ensino da Educação Financeira, nas salas de aula, entendendo tratar-se de uma forma de induzir nas crianças o espírito capitalista, como se isso fosse ruim. Na verdade, a Educação Financeira comportamental quer, justamente, trabalhar uma forma mais consciente de lidar com o dinheiro, por meio de uma mudança de atitude e evitar o que mostrou recente pesquisa: 19% das pessoas inadimplentes tem menos de 24 anos e boa parte deles já tem o nome negativado, antes mesmo de conseguir o primeiro emprego e ter uma renda mensal.
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