Guerra entre Israel e Hamas: conheça livros para entender o conflito no Oriente Médio
Todas as pessoas que talvez encontrem alguma dificuldade para compreender ou entender melhor as nuanças históricas e culturais associadas ao conflito entre israelenses e árabes, entre estes os palestinos, a literatura pode oferecer uma infinidade de possibilidades de maior aproximação com todos esses povos. Seja pela via da história ou da sociologia, mas muito especialmente pela narrativa de ficção, pela poesia, pelas memórias ou ainda por reportagens, as livrarias e os sebos permitem localizar excelentes e oportunas leituras.
Em redes sociais e outros espaços de debate, tem sido muito comum que uns defendam os interesses ou os argumentos de uma das partes, enquanto outros se oponham a eles, em posicionamentos quase inconciliáveis, algo já nada incomum no mundo contemporâneo. Entretanto, com a lucidez e a percepção inerentes a intelectuais, que prezam pela justiça e pelo bom senso, grandes escritores israelenses e contrapartes palestinas e árabes têm advertido para a necessidade de mais empatia, e de apaziguamento nos ânimos. Afinal, em uma realidade local e regional conflituada e marcada pelos atritos constantes, nenhuma paz e nenhuma qualidade de vida são possíveis.
O Portal Gaz, portanto, compartilha uma seleta de obras, de autores consagrados e com projeção internacional, que permitam assimilar melhor o drama daqueles povos. Entre os israelenses, uma trinca de mestres sobressai: os romancistas David Grossman, Amós Oz e A. B. Yehoshua, os dois últimos já falecidos. Em suas obras, amplamente traduzidas no Brasil, e publicadas pela Companhia das Letras, defendem a necessidade do diálogo, do desarmamento, da suspensão das agressões e, principalmente, da empatia mútua. Militaram, além disso, pela solução de dois estados (Israel e Palestina) e se aproximaram de colegas das regiões do entorno. A eles ainda se juntam os mais jovens Etgar Keret e Ayelet Gundar-Goshen.
De outra parte, muitos autores compartilham igualmente uma visão de mundo centrada nos dramas e nas angústias do palestinos, acossados e acuados e sem direito a uma terra para chamar de sua. No Brasil, várias reportagens e livros publicados pela editora Tabla trazem tais depoimentos. Uma dessas obras recentes é o volume Gaza, terra de poesia, organizado por Muhammad Taysur.
Enquanto Israel teve independência declarada em 1948, a Palestina ainda não tem soberania, embora os palestinos se concentrem na Cisjordânia e na Faixa de Gaza. Os palestinos designam Jerusalém Oriental como capital. A independência pretendida da Palestina foi declarada em 15 de novembro de 1988 pela Organização para a Libertação da Palestina (OLP), mas áreas reivindicadas pelos palestinos seguem ocupadas por Israel. Gaza é a cidade mais populosa que concentra palestinos; ali estão cerca de 2,3 milhões da população total estimada em 4,8 milhões de pessoas.
No Brasil, a editora Tabla difunde obras relacionadas à geopolítica e ao ambiente social e cultural da região. Em 2022, lançou o livro Dez mitos sobre Israel, do israelense Ilan Pappe, originalmente publicado em 2017, e que desconstrói afirmações tidas como verídicas, mas que seriam errôneas. Por exemplo, a de que a Palestina era “terra vazia” antes da ocupação israelense. A mesma editora publicou coletânea de autores palestinos radicados na área litorânea. Gaza, terra de poesia, lançado também em 2022, com 120 páginas, traz algumas das vozes contemporâneas da poesia palestina, de diferentes gerações, e que refletem as angústias e as esperanças desse povo.
Não é possível compreender, minimamente, o contexto histórico, social e cultural que envolve a questão Israel-Palestina-mundo árabe sem ouvir ou ler todas as partes. O Portal Gaz traz quatro autores israelenses e quatro livros voltados à Palestina. Confira:
Horizontes de Israel
Abaixo os extremismos Como curar um fanático, do romancista israelense Amós Oz (1939-2018), lançado pela Companhia das Letras (como quase toda a obra desse autor), foi publicado originalmente em 2004 e editado no Brasil em 2015. A reflexão de Oz, que cresceu e viveu sob o signo das tensões e dos atritos entre israelenses e vizinhos, surgiu após o 11 de setembro de 2001, e ele na verdade se refere a todos os extremistas. Oz sempre foi um dos mais fervorosos defensores da necessidade de concretizar a paz na região, e isso para o bem de todos os povos, e entendia que criar um estado palestino era a melhor solução.
Verdades que precisam ser ditas O inferno dos outros, do romancista israelense David Grossman, de 69 anos, apela para uma solução inesperada a fim de tratar de temas sensíveis e delicados na relação entre Israel e os povos vizinhos. Ele lança mão de um ator que se apresenta no formato de stand-up comedy, os espetáculos de humor, quase sempre ferino. Ele percorre regiões de Israel e, em meio ao resgate de passagens da própria trajetória artística, que se encaminha para o ocaso, toca em assuntos que confrontam a plateia com as verdades das relações humanas. Lançado originalmente em 2014, venceu o Man Booker Prize e no Brasil foi lançado em 2016.
A dura rotina para sobreviver Fogo amigo, do romancista israelense A. B. Yehoshua, que faleceu em junho de 2022, aos 85 anos, conforma, com as duas indicações anteriores, um olhar panorâmico esclarecedor sobre a realidade daquela região, ainda que pela via da ficção (que, muitas vezes, informa melhor sobre a condição humana do que os relatos de história). Publicado em 2007, e lançado no Brasil em 2010, traz como pano de fundo o ambiente de conflito regional, entre Tel Aviv e Jerusalém, terra natal do autor, assim como é de Grossman. Aliás, Amóz Oz, Yehoshua e Grossman são chamados de a grande trinca da literatura israelense contemporânea.
E sem não houver outro lugar? Outro lugar, da romancista israelense Ayelet Gundar-Goshen, de 41 anos, oferece um contraponto com um olhar feminino sobre o contexto social e cultural de Israel e de toda a região vizinha. Ela integra o amplo time de escritores contemporâneos, de diferentes gerações, que buscam traduzir em suas obras a complexidade que envolve manter uma rotina em área sempre sob risco de violência. No romance, um médico é transferido da capital, Tel Aviv, para uma cidade afastada, Beer Sheva, e passa a lidar com o distanciamento em relação à esposa e aos dois filhos. É a vida real, sob nova perspectiva.
Estranheza e infortúnio A questão da Palestina, do professor e escritor palestino-estadunidense Edward W. Said, nascido em Jerusalém em 1935 e falecido em Nova Iorque em 2003, aos 67 anos, é uma leitura incontornável. Publicado em 1979, descortina olhar sobre tentativas realizadas ao longo do tempo para resolver o atrito. “No entanto, causando estranheza e infortúnio, a questão palestina persiste – sem solução, aparentemente irreconciliável, indomável”, disse. Por sinal, é o que mais uma vez enxergamos, em 2023, 20 anos após a morte do autor, em 25 de setembro de 2003. Said fez parte da resistência política e cultural palestina.
A nação que (ainda) não existe Palestina, uma biografia, do historiador palestino-americano Rashid Ismael Khalidi, de 75 anos, é outra leitura indispensável para entender as especificidades daquele povo e da nação que ele busca conformar. O autor nasceu em Nova Iorque, sendo especialista em estudos árabes; é considerado o maior historiador contemporâneo a se ocupar do tema específico da Palestina. No livro, lançado em 2022, recupera os principais passos rumo à tentativa de apaziguar os ânimos na região. Recupera fatos, personagens, avanços e recuos nas negociações e o surgimento de grupos que elevaram o grau da violência.
Como é viver na Faixa de Gaza Em estado de choque: sobrevivendo em Gaza sob ataque israelense, do jornalista palestino Mohammed Omer, de 39 anos, lançado no Brasil pela editora Autonomia Literária, em 2017, evidencia uma realidade – ou rotina -, que é muito anterior ao período atual, de recrudescimento dos bombardeios. Omer relata as mortes semanais, quase diárias, e os milhares de feridos na região de Gaza sob bombardeios e agressões. Em depoimento em primeira mão, de testemunha de atrocidades (Omer nasceu e cresceu em Gaza), abre uma janela que talvez seja inquietante e desconcertante para todos os que não vivem o cotidiano local.
O sonho de uma vida melhor Homens ao Sol, do escritor palestino Ghassan Fayiz Kanafani, nascido em 1936, em Acre, ainda durante o mandato britânico na Palestina, e falecido em Beirute, no Líbano, em 1972, aos 36 anos, é um pioneiro da literatura de resistência palestina. A Tabla publicou esse título, a primeira novela de Kanafani, no início de 2023, ao lado de outras obras do autor, como Retorno a Haifa e Umm Saad (em breve deve chegar a novela O que restou a vocês, de 1966). Em Homens ao sol, de 1963, personagens conversam, em plena Nakba, a “catástrofe” de 1948, com o objetivo de encontrar refúgio em outro lugar, longe da terra agora ocupada por israelenses.
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Heloísa Corrêa
Heloisa Corrêa nasceu em 9 de junho de 1993, em Candelária, no Rio Grande do Sul. Tem formação técnica em magistério e graduação em Comunicação Social, com habilitação em Jornalismo. Trabalha em redações jornalísticas desde 2013, passando por cargos como estagiária, repórter e coordenadora de redação. Entre 2018 e 2019, teve experiência com Marketing de Conteúdo. Desde 2021, trabalha na Gazeta Grupo de Comunicações, com foco no Portal Gaz. Nessa unidade, desde fevereiro de 2023, atua como editora-executiva.