Será que o leitor é capaz de imaginar Santa Cruz do Sul sendo invadida e saqueada por bandoleiros armados? E balas de canhão voando sobre a cidade? Pois essas cenas realmente ocorreram, em 1894.
A tragédia começou em 2 de fevereiro de 1894, um sábado. O dia recém estava clareando quando cerca de 500 cavaleiros invadiram a vila, com tiros, gritos e algazarra. A metade deles tomou a sede da Intendência (o Palacinho da Praça da Bandeira), que era guarnecida por 12 guardas. Dois foram mortos e os demais se renderam. O cofre foi saqueado e muitos móveis quebrados. A outra metade atacou a Cadeia Municipal, onde também era a Delegacia de Polícia. Lá não houve resistência. Libertaram três presos e levaram armas de fogo, espadas, ferramentas, burros e cavalos. Logo espalhou-se o boato de que os federalistas tinham invadido a vila.
Os revoltosos eram chefiados por José Antônio Ferreira, conhecido por Zeca Ferreira. Seu reduto ficava em Quatro Léguas, localidade na divisa de Santa Cruz e Soledade. Por isso, eram chamados de serranos ou caboclos. O grupo já havia promovido ações semelhantes em outras regiões e era bastante temido. Saqueavam vilas e propriedades, levando dinheiro, armas, animais de carga, alimentos e obrigavam os colonos a carnearem vacas e porcos.
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A ação na vila ocorreu durante a Revolução Federalista (1893-1895), que colocou frente à frente os castilhistas (pica-paus), defensores do republicano Júlio de Castilhos, e os gasparistas (maragatos), seguidores do federalista Gaspar Silveira Martins. Os serranos apoiavam os federalistas e o fato foi apontado como consequência do embate.
A história, no entanto, mostrou que o ataque não teve relação com a revolução. Foi sim uma vingança de Zeca Ferreira, já que os produtores da serra tinham sido proibidos de venderem erva-mate em Santa Cruz.
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