Como o próprio presidente Michel Temer já admitiu publicamente, o governo reagiu aos vazamentos da delação do ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho, com “preocupação” e sem “ingenuidade”.
A ordem no Planalto, entretanto, é evitar muitos comentários, reforçar que as delações precisam se comprovar e que o governo precisa “continuar trabalhando” pelo país. Interlocutores do presidente, entretanto, admitem que “os efeitos disso precisam ser observados” e que a Lava Jato sempre foi e continua sendo um fato “imponderável”.
O foco do presidente nessas últimas semanas de trabalho no Congresso será garantir a aprovação da PEC do teto no segundo turno no Senado e o andamento da Reforma da Previdência nas comissões na Câmara. Com isso, espera-se que Temer consiga emplacar algumas agendas positivas, para tirar o foco da crise. A equipe econômica – que tem sido alvo de críticas – também trabalha para lançar novas medidas de estímulo. “O presidente diz que não se pode falar em crise, e é preciso trabalhar. É isso que o governo está tentando fazer”, disse um auxiliar.
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Cláudio Melo Filho afirmou em delação que Temer pediu R$ 10 milhões ao empreiteiro Marcelo Odebrecht em 2014, conforme revelado pelo site BuzzFeed e pela revista Veja. Oficialmente, o Planalto negou ontem à noite a informação e afirmou que não há mais comentários a serem feitos e que a nota divulgada “diz tudo”. No texto para responder as acusações, o presidente repudia “com veemência as falsas acusações do senhor Cláudio Melo Filho”, diz a nota. “As doações feitas pela Construtora Odebrecht ao PMDB foram todas por transferência bancária e declaradas ao TSE. Não houve caixa 2, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente” completa.
Um interlocutor do presidente diz que o que saiu até agora são informações que já tinham vazado e ressaltou que é preciso aguardar se há coerência em todos os depoimentos que ainda estão por vir, já que 77 executivos da empreiteira firmaram acordo de delação premiada. “A gente não conhece ainda o que virá depois”, afirmou, ressaltando que “por enquanto não há diagnóstico que confirme” as afirmações de Melo e que é preciso que os testemunhos sejam confirmados.
Outro auxiliar do presidente lembrou que em outras ocasiões na Lava Jato alguns depoimentos não se confirmaram depois e também destacou que, além do processo de homologação, que valida os testemunhos, é preciso ver se todas as delações da empreiteira serão coerentes. “Não tem jeito. Tem que esperar”, afirmou.
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TSE
Em meio a esse clima de incertezas, o governo tentar reforçar a tese de que juridicamente não há preocupação em relação ao processo que corre no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e investiga irregularidades na campanha presidencial de 2014.
Juridicamente o Planalto afirma que a tese da separação de contas está bem embasada e que primeiro é preciso conseguir separar as contas de arrecadação para depois “analisar se há algo errado”. “O que saiu até agora, pelo menos num primeiro momento, não parece interferir”, diz uma fonte. Apesar disso, o governo receia que haja uma contaminação política do julgamento pelo TSE, considerada a corte “mais politizada” entre os tribunais superiores. Ainda assim, interlocutores dizem achar “pouco provável” uma cassação de mandato e consequente eleição e destacam que o presidente obviamente iria recorrer ao Supremo Tribunal Federal (STF) caso o caso avance.
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Sem ingenuidade
Logo após as notícias de que os executivos da Odebrecht fariam delação premiada, o presidente reconheceu, em coletiva de imprensa convocada para rechaçar o avanço do projeto de anistia ao caixa 2, estar preocupado com os efeitos da delação da Odebrecht, que deverá atingir partidos e políticos de todas as legendas. “Se dissesse que não há preocupação com a delação da Odebrecht, seria ingênuo. Claro que há preocupação de natureza institucional. Há preocupação, claro, não há dúvida que há”, disse, na ocasião, ao lado dos presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (PMDB-RJ), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Questionado sobre qual atitude pretende adotar, caso surgissem nomes de ministros de sua gestão nas delações dos executivos da empreiteira, Temer foi cauteloso e destacou: “No tocante aos ministros, vou verificar o que vem. E, se vier, vamos verificar caso a caso.”
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