Por meio de uma videochamada feita de dentro da sede da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) de Santa Cruz do Sul, um homem de terno e gravata negocia, com um conhecido joalheiro da cidade, a compra de um anel e uma gargantilha para sua filha. O comerciante envia algumas fotos das joias e questiona o comprador sobre como seria a forma de pagamento e se gostaria de colocar CPF na nota.
O homem de terno responde que vai pagar no cartão de crédito, mas não irá até a joalheria, pois estaria “trabalhando muito, realizando videoconferências”. Para facilitar, o vendedor então sugere levar até ele os produtos, com a condição de que fosse em algum local mais central, a fim de evitar possíveis ações criminosas – até porque desconhece o novo “cliente”.
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O suposto advogado sugere então um endereço bem conhecido: Rua Ernesto Alves, 626. Trata-se da sede da OAB de Santa Cruz do Sul. Nesse momento, todas as desconfianças do comerciante foram dissipadas, afinal, o encontro para a entrega seria em um local totalmente insuspeito. O que o joalheiro não sabia era que o terreno para o crime havia sido muito bem planejado pelo falso advogado.
O caso aconteceu na tarde chuvosa da última sexta-feira, 17, em Santa Cruz do Sul. Às 16h30, o vendedor entrou na sede da OAB. Após verificar a presença de uma secretária, visualizou o estelionatário, que se apresentou como César e indicou uma sala reservada, onde poderiam fazer a negociação sem serem interrompidos.
Já no segundo piso do prédio da OAB, seguro de que não sofreria um ato criminoso, o comerciante apresentou duas pequenas caixas de joias ao suposto advogado, contendo dois anéis e uma gargantilha com pingente, avaliados em R$ 5 mil. O estelionatário analisou os produtos. Disse que precisava mostrar à esposa e saiu da sala, com o consentimento do vendedor, prometendo retornar logo.
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Passado um bom tempo, o joalheiro começou a desconfiar e resolveu descer até a recepção da OAB. Procurou o tal César, mas não o encontrou. Perguntou à secretária, que disse ter visto aquele homem pela primeira vez, e que ele havia dito a ela que pegaria uma coisa no carro. “Ali eu percebi que havia caído em um golpe e não tinha praticamente nada, além de saber a fisionomia da pessoa – e ainda com máscara. É um sentimento de impotência, enganação. Apenas, agradeço a Deus por não ter sido ferido”, afirmou a vítima, em depoimento ao Setor de Inteligência do 23º Batalhão de Polícia Militar (23º BPM).
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De acordo com o relato do joalheiro aos policiais, ele perguntou por gravações de câmeras, mas descobriu que nada fica gravado. Questionou ainda sobre como os advogados se identificam ao entrar, e a secretária teria lhe dito que não precisariam apresentar documento para ocupar os espaços de salas da sede da OAB no município.
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O fato de não haver câmeras no local é confirmado pela presidente da OAB em Santa Cruz, Rosemarí Hofmeister. Em entrevista à Gazeta do Sul na noite de quarta-feira, 22, ela disse que o protocolo na sede é apresentar a carteira da Ordem para entrar nas salas. Contudo, diante da conversa do estelionatário, a funcionária acabou não pedindo a comprovação.
“As salas são costumeiramente utilizadas por advogados conhecidos da cidade. A funcionária disse que ele chegou conversando como advogado, falando sobre processos e com ampla desenvoltura. Ela acabou esquecendo de solicitar os documentos. Ninguém imaginaria o desenrolar dessa situação”, afirmou a presidente da OAB, que pretende colaborar com a polícia para resolver o caso.
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Acionada pela vítima, a Brigada Militar tomou ciência do fato. Já existe a suspeita de que uma dupla possa ter agido no dia do crime. Chamou a atenção dos PMs que a mesma estratégia utilizada pelo criminoso em Santa Cruz foi usada em outro caso semelhante, ocorrido um dia antes, na última quinta-feira, em Gravataí. Na oportunidade, um indivíduo, dizendo-se advogado, entrou em uma loja de celulares da cidade na Região Metropolitana pedindo cinco aparelhos. Havia dois de seu agrado.
O estelionatário pediu que, para efetivar a compra, a vendedora fosse até a sede da OAB daquele município com uma máquina de cartão de crédito. Já no local, a mulher foi com o falso advogado para uma sala reservada, usada apenas por profissionais vinculados à Ordem. Ao avisar que mostraria o aparelho para outro colega no local, ele deixou a sala e saiu da sede, levando os dois eletrônicos da marca Xiaomi. Por causa da demora, a comerciante perguntou à secretária sobre o advogado e descobriu ter sido vítima de um golpe.
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Já durante a tarde dessa quinta-feira, a 1ª Delegacia de Polícia (1ª DP) de Gravataí revelou que o homem que agiu na cidade teria 53 anos e é conhecido nos meios policiais por atuar no Paraná, onde já foi preso oito vezes e responde a 13 inquéritos por estelionato. Pela aparência descrita pelo joalheiro santa-cruzense – de um homem que mancava, com cerca de 1,85 metro e aproximadamente 130 quilos –, a principal suspeita dos policiais que atuam no Setor de Inteligência é de que tenha sido a mesma pessoa que aplicou os golpes em Gravataí e em Santa Cruz do Sul.
Segundo o comandante da 1ª e 2ª companhias e chefe do Setor de Inteligência do 23º BPM, capitão Rafael Carvalho Menezes, estão sendo apurados possíveis suspeitos, em busca de evidências a serem repassadas à Polícia Civil, que passou a investigar o caso.
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