Era início da tarde de 20 de julho. A segunda-feira em Sinimbu já dava uma amostra do que seria o restante daquela semana, de sol e forte calor, após dias em que as temperaturas haviam beirado zero grau. Por volta das 13 horas, dona Lourdes*, de 50 anos, descansava depois do almoço, quando o telefone convencional tocou. Uma voz feminina, em prantos, pediu ajuda: “Mãe, mãe… Socorro”.
Os gritos foram substituídos por uma voz masculina, que assumiu a ligação. Um homem disse que estava com a filha de Lourdes, de 25 anos, como refém, e iria matá-la se a mãe não depositasse com urgência o valor de R$ 2 mil em uma conta, ou mesmo se desligasse ou passasse a ligação para outra pessoa. O desespero de Lourdes, que gritou para que não matassem sua filha, foi ouvido por seu vizinho, o policial aposentado Gilberto Klein, de 62 anos.
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Experiente, e pressentindo que algo não estava certo, Klein e sua esposa foram até a casa de Lourdes, que já estava passando mal devido à situação, agravada por outros problemas de saúde. “Ela estava sob pressão no telefone, já desesperada. Foi quando minha esposa Juliana tomou a ligação e, nesse meio-tempo, a minha filha fez contato com a filha dela, que estava bem. Isso nos deu a certeza de que nossa vizinha estava caindo no golpe do sequestro falso”, comentou o policial aposentado.
A batida do telefone no gancho, após a confirmação da mentira aplicada pelos criminosos, trouxe certo alívio momentâneo. Um minuto depois, entretanto, uma nova ligação deixou o clima tenso de novo. “Quando minha esposa atendeu o telefone, o homem, em tom ameaçador, disse que ela seria responsável pela morte da filha da nossa vizinha. Felizmente, já sabíamos que se tratava de uma armadilha imposta pelos golpistas.”
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Naquele mesmo dia, os bandidos tentaram aplicar o golpe do falso sequestro em pelo menos outras três residências do município, sem sucesso. Não bastasse a coincidência entre as famílias vizinhas, no dia seguinte, os criminosos ligaram justamente para a casa dos Klein. “Casualmente, quem atendeu foi a minha filha mesmo, aí desligaram o telefone”, disse Gilberto.
Outro insucesso dos golpistas ocorreu com o empresário Thaison André Koch, de 30 anos. Naquele 20 de julho, ele foi o primeiro do município a receber uma ligação do tipo, no telefone convencional de sua lotérica. “Quando uma menina pediu socorro e o rapaz, que tinha sotaque do Sudeste, disse que era pra eu depositar um valor para libertá-la, logo disse que eu não tenho filhos, que ele tinha errado o bote comigo. Aí ele desligou”, afirmou Thaison, que narrou o ocorrido em um grupo de WhatsApp. “Disse o que tinha acontecido comigo logo pela manhã, e ao longo do dia outros comentaram ter recebido ligações do tipo.” O empresário admite a tensão provocada pelo telefonema. “Se eu tivesse um filho, ficaria preocupado com o tipo de pressão que eles fazem na hora.”
*Usamos nome fictício, para preservar a identidade da vítima.
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Inspetor orienta comunidade a manter a calma
Uma das características mais comuns do falso sequestro é a ligação para telefones fixos, os chamados convencionais. Os depósitos exigidos são em contas ou mesmo em créditos para celular. O inspetor da Polícia Civil de Sinimbu, Marcelo Jackisch, soube dos golpes ocorridos no município de maneira informal, porque os registros dos casos estão sendo feitos via online, e não diretamente na delegacia, em virtude das medidas de prevenção contra o novo coronavírus.
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“Normalmente os golpistas pegam um prefixo de município em determinado dia e fazem uma série de ligações. O que apuramos foi que no mês passado foram ao menos cinco casos de tentativas de golpe do falso sequestro. Felizmente, em princípio, nenhuma vítima depositou o valor exigido”, comentou Jackisch.
Embora o equilíbrio emocional das pessoas seja atingido com os telefonemas, o inspetor de polícia orienta a população a sempre manter a calma nessas situações. “Não se deve fornecer nenhum dado sobre a pessoa que, em tese, foi sequestrada. Às vezes, as pessoas falam nomes ou características dos familiares, que são usados pelos estelionatários para provocar terror. Por isso pedimos que, nesses casos, desliguem o telefone, entrem em contato com o familiar alvo do golpe e registrem o caso”, ressaltou. O site para realizar esse procedimento é delegaciaonline.rs.gov.br.
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