“Saúde, feijão e arroz”, são os desejos de seu Getúlio Lopes, de 55 anos, para este Ano Novo. “Tendo isso, a gente passa”, completa. Assim como a esposa, Rejane Lopes, com quem é casado há 37 anos, torce também para que a casa resista. O chalé, com poucos cômodos, no final da Rua Adolfo Lamberts, no Bairro Santa Vitória, em Santa Cruz do Sul, entortou em um temporal há cerca de seis meses. Desde então, a vida dos dois está escorada em uma tábua presa a uma goiabeira. Torcem para que a árvore resista e que a casa não caia no Arroio das Pedras, junto com eles.
A goiabeira, lembra Rejane, foi ela mesma que cultivou “Era bem pequeninha quando eu plantei ali”. Depois de tantos anos, agora a dona de casa deposita suas esperanças na planta. Ou quem sabe não seja preciso, caso consigam ajuda para recolocar a casa no lugar. “A gente sempre acredita que vai vir uma ajuda. Sempre pode vir”, espera Getúlio. Enquanto isso, toda vez que o tempo se prepara para um temporal, dona Rejane se alerta. Apesar das dificuldades para se locomover, devido a osteoporose, ela assegura que, se for preciso, sai da casa de qualquer jeito. “Tenho medo quando o tempo se arma. Medo que a casa vá cair. Esses dias corri pra fora, estava tudo estalando”, conta.
É também em frente ao chalé que dona Rejane aguarda pela chegada do marido. Todos os dias Getúlio percorre as ruas de Santa Cruz em busca de materiais recicláveis que possa vender. Sai do Santa Vitória e segue até o Universitário. Dali vem seguindo com seu carrinho de casa em casa. Quando deixou o interior de Sinimbu, ainda jovem, e se mudou para Santa Cruz do Sul, foi esse o único trabalho que conseguiu. Foi nessa época que conheceu Rejane. Já são três décadas juntos. Quando está em casa, Getúlio ainda cozinha e cuida da casa. Cuida também, com carinho, da esposa. “Ainda bem que tenho ele. Se não tivesse nem sei”.
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Apesar da situação, o casal não quer sair dali. Com tantos anos morando no mesmo lugar, conhecem bem os vizinhos e se sentem seguros. “Saio aqui a qualquer hora e não tem perigo”, diz seu Getúlio. “Me dou bem com todo mundo”, completa a mulher. O sonho agora é que a casa volte a ficar segura. “Para mim ia ser uma alegria muito grande”, diz a dona de casa. Quando questionado sobre o que mais espera para 2016 seu Getúlio prefere não fazer planos. Olha para o céu cinza, num dia abafado, e prevê. “Vai entrar o Ano Novo com chuva”. Do lado dele, junto à porta bamba do chalé, dona Rejane reage com pressa: “Não pode”. Tem medo de que a goiabeira não aguente.
Fogão é sonho de dona de casa
Enquanto acredita que uma ajuda ainda pode aparecer, dona Rejane nutre outro sonho. Dentro de casa possui poucos móveis. Um sofá, uma televisão antiga, assim como a geladeira de pintura descascada, e uma cama de casal, escorada com pedras. Mas o que ela quer mesmo neste ano é ganhar um fogão a gás. O único na residência é a lenha. Se tivesse um fogão a gás, ela acredita que poderia também ajudar na comida. Além disso, teme que uma brasa possa causar um incêndio. Na residência qualquer ajuda é bem vinda. Todo final de ano o casal recebe o auxílio de um morador, com um rancho. Foi assim que passaram o último Natal. Já para o Ano Novo, dona Rejane espera comprar um pedaço de carne. Não muito mais que isso. “Se não tiver também não importa. Pior é se não tivesse nada”, completa seu Getúlio.
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