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IDEIAS E BATE-PAPO

Gente que faz a vida valer a pena

Nestes tempos bicudos, viver uma experiência solidária é um bálsamo que consola as nossas dores. No ano passado, quando a pandemia e o confinamento pareciam coisa rápida, comprei um par de alpargatas de couro pela internet.

O calçado, fabricado na Região Metropolitana, e com preço justo, chegou no prazo acertado, com embalagem lacrada, tudo certo. Na hora de usar, porém, tive uma decepção: bem no meio da palmilha havia uma saliência, semelhante à cabeça de um prego ou de uma tachinha.

Teimoso como bom descendente germânico, tentei usar, sem sucesso devido ao desconforto, mesmo usando uma meia mais grossa. O calombo, mesmo pequeno, quase imperceptível, incomodava muito na hora de caminhar. Resignado, deixei o par jogado no fundo do armário. O recrudescimento do frio deste ano, porém, motivou a busca de uma solução a todo custo para justificar o investimento.

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Depois de localizar pela internet uma loja de palmilhas, fui até o centro de Porto Alegre para conferir se o produto poderia resolver meu problema. Saquei a alpargata da mochila para que uma gentil senhora examinasse. Em seguida, ela buscou uma palmilha de silicone na vitrine. Depois de examinar a situação, avisou:

– Eu até posso vender o produto pro senhor. Custaria R$ 60,00, mas vai durar poucos dias antes de rasgar – explicou detalhadamente, sob a anuência de um colega balconista.

Os dois sugeriram que eu procurasse um sapateiro “de confiança”. Lembrei de um profissional perto da minha casa onde levei minha mateira para substituir a correia de couro no ano passado. A mulher da sapataria me reconheceu, perguntou qual era o problema. Depois de examinar o calçado, sugeriu:

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– O senhor não quer dar uma volta? Ou pode esperar aqui mesmo. Esse probleminha a gente resolve rapidinho! – disparou.

Aceitei a sugestão. Fui até o supermercado da esquina. Em 15 minutos, retornei à loja de consertos, onde a mulher me esperava com um sorriso.

– Não era prego, meu amigo… Nem uma tachinha. Era um pingo de cola que endureceu. Foi só passar uma lixa para ficar perfeito! – detalhou.

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Ato seguinte, perguntei o custo do reparo:

– Mas bem capaz! Foi só passar uma lixa fina. Não teve gasto algum. É cortesia da casa! – afirmou.

Agradeci três vezes! No trajeto até o carro, pensei nas duas lições daquela quarta-feira. Primeiro: apesar da proliferação de golpes de todo tipo, principalmente pelo WhatsApp, ainda existe muita gente honesta, gentil e trabalhadora.

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Mas por outro lado, refleti: que tempos absurdos vivemos, onde um serviço é bem feito (e grátis) ou é recusado por impossibilidade de resolver um problema, evitando uma despesa desnecessária. Ser honesto e sincero, atributos antigamente normais, hoje são motivos de comemoração e surpresa.

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