Em meio a 1 bilhão de espécies que habitam o planeta Terra, apenas uma se tornou… humana. E, pelos cálculos dos especialistas na evolução da vida nessa esfera solta no espaço, a trajetória dos humanos rumo a uma tomada de consciência plena que foi cumprida ao longo de uns 300 mil anos. Quase nada no amplo caldeirão que aferventou (por vezes literalmente) durante 4 bilhões de anos. Mas o que tornou o ser humano o que ele é, tão diferente de todas as demais espécies com as quais convive e coabita na Terra? É uma tentativa de resposta o que o geneticista inglês Adam Rutherford busca empreender em obra que chega às bancas sob o selo da Record em fevereiro: O livro dos humanos: a história de como nos tornamos quem somos. Em suma: o nosso livro!
Ainda que integre a ala jovem dos pesquisadores e geneticistas contemporâneos, pós-doutor em genética que acaba de completar 45 anos em janeiro, natural de Suffolk, na Inglaterra, Rutherford tem se dedicado a investigações pioneiras sobre as condições de surgimento e progressão das espécies, ou de sua evolução rumo a uma certa percepção de si mesmas e da necessidade de sua perpetuação. Em 2014, a editora Zahar lançara um primeiro livro em que o autor compartilha suas reflexões e descobertas, Criação: a origem da vida/o futuro da vida, originalmente publicado naquele mesmo ano pela Penguin.
E em breve deve estar chegando ao Brasil também seu mais recente ensaio, lançado em 2019, com o instigante título de Humanimal, e o subtítulo de como o Homo sapiens chegou à condição de mais paradoxal criatura no mundo natural. Suas abordagens e reflexões valeram-lhe importantes prêmios de pesquisa sobre evolução, um dos quais para seu livro de 2017, A Brief history of everyone who ever lived: The human story retold through our genes, the experiment (ou Uma breve história de todos os que já viveram: a história humana recontada por nossos genes, numa tradução possível).
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E ainda que centre seu olhar no ineditismo da condição humana, o mais evoluído de todos os seres surgidos sobre a face da Terra em termos de intelecto e proatividade (para o bem ou para o mal), Rutherford elenca, em sucessão, casos de outras espécies que, a seu modo, seguem na caminhada de permanência, perpetuidade e coexistência. Se por um lado o ser humano conta e registra, literalmente, a história, nem por isso outros seres deixaram de dar a sua contribuição valiosa inclusive para que os próprios humanos chegassem até onde chegaram. Afinal, em um ecossistema, em que todos dependem e estão em correlação com todos, uns não avançam sem os outros.
Por isso, em O livro dos humanos, embora mencione algumas situações pontuais que, no processo de evolução, significaram uma guinada destes em favor da sua evolução e que os afastou ou distanciou definitivamente de “parentes” comuns, aponta o caso de inúmeras outras espécies que seguem, a seu modo, manifestando comportamentos, ações ou reações que em nada podem ser chamadas de brutas, atrasadas ou desconstituídas de… humanidade. O fato de “nos” nomearmos humanos não significa que diversas outras espécies, em diferentes períodos, não tenham adotado comportamentos também humanos, ou carregados da suposta humanidade que dizemos enxergar somente em nós.
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