Ao longo do mês de outubro o genealogista santa-cruzense Luciano Schmidt esteve na Alemanha, em uma viagem que teve como objetivo conhecer as regiões de origem e os possíveis descendentes dos imigrantes que fundaram a colônia de Santa Cruz, em meados do século 19. Ele visitou a região do Hunsrück, no Sudoeste do país e perto da fronteira com a França e a região da Silésia, no Leste, hoje parte do território da Polônia.
O Hunsrück, localizado no Estado da Renânia-Palatinado, é a região de origem de quase metade dos imigrantes que vieram a Santa Cruz. Devido à proximidade com a França, foi um território disputado e que sofreu muito durante os anos das Guerras Napoleônicas, no início do século 19. “Fui até lá já conhecendo algumas pessoas que poderiam me auxiliar na busca por informações que me faltavam sobre a história da minha família”, conta Luciano, que é pesquisador e genealogista há mais de 20 anos.
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“Para quem procura por suas origens, há um bom trabalho de pesquisa a ser desenvolvido aqui, antes de se pensar em buscar o que ainda existe na Alemanha.” Ao longo dos dias, ele visitou localidades cuja economia se baseia em grande parte nas atividades rurais. “Conhecendo esses lugares, é possível entender como era a vida dos habitantes quando decidiram deixar tudo para trás e ir viver em lugares distantes como os Estados Unidos, Austrália ou mesmo o Sul do Brasil”, afirma.
Conta que conseguiu imaginar com mais detalhes quais eram as dificuldades econômicas e os obstáculos do dia a dia e, ao mesmo tempo, ter uma ideia mais clara do que representava para os imigrantes a perspectiva de ter um pedaço de terra onde poderiam se estabelecer e se desenvolver. Em Sohren, um dos pequenos vilarejos dessa região, nasceu, em 1829, Phillip Schmidt, antepassado de Luciano pelo lado paterno. Ele era filho de Johann Nikolaus Schmidt e Anna Catharina Gauer. “Tive a felicidade de encontrar alguns descendentes dessa família Gauer, que ainda vivem naquela localidade.”
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Ainda pôde conversar com pesquisadores que buscam conhecer a fundo a história das localidades e famílias. “Falar com eles e entender como desenvolvem esse trabalho foi um dos pontos altos da viagem.” Destaca ainda que, apesar das possibilidades oferecidas pela tecnologia, o contato presencial é fundamental para obter informações com riqueza de detalhes.
As pessoas com as quais o viajante conversou demonstraram interesse pelo Brasil e algumas até visitaram o Rio Grande do Sul. “Elas se lembram do carinho com que foram recebidas por aqui.” Para Luciano, isso foi motivo de reflexão sobre as coisas boas que existem no Brasil e a necessidade de valorizá-las. Segundo ele, os grupos folclóricos, de dança e música podem ser excelentes canais de intercâmbio e podem ajudar a estreitar os laços com os alemães.
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Apesar disso, a maioria deles têm pouco ou nenhum conhecimento sobre o Estado e o Brasil. Sabem somente que houve uma onda migratória no século 19 e pouco além disso. “Tive a oportunidade de falar sobre o tema e apresentar um pouco do que temos aqui no Sul, sobretudo acerca do que preservamos sobre os costumes e tradições alemãs.” Ele conta que no país europeu muita coisa também foi preservada, mas muito se perdeu com o tempo. Assim, os alemães se admiraram com a existência no Brasil de muitas tradições que já não existem mais na Alemanha.
Em Klopschen, outras descobertas relevantes
Além do Hunsrück, Luciano Schmidt também foi à Klopschen, uma pequena vila rural próxima à cidade de Glogau, na região da Silésia. Atualmente, o território pertence à Polônia, após ter sido cedido pela Alemanha ao final da Segunda Guerra Mundial. Dessa localidade, saíram dois imigrantes que integraram o primeiro grupo que chegou à Colônia de Santa Cruz, em 19 de dezembro de 1849: August Wutt-ke e August Raffler. Esse último também é antepassado de Luciano pelo lado materno.
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O viajante relata que ainda é possível encontrar muitas construções antigas da época dos alemães naquela região. A linha ferroviária de Glogau, à qual Klopschen estava ligada, foi inaugurada em 1846. Foi um importante fator que facilitou o deslocamento dos grupos de imigrantes daquela região rumo aos grandes portos de onde saíram os navios para os destinos mais distantes. Ainda que desativada, a antiga estação férrea da aldeia está preservada.
Luciano revela que visitar os lugares e as pessoas, ver como vivem e o que pensam, conhecer as motivações e interesses delas e tentar fazer ligações entre o presente e o passado, por meio da história da imigração e colonização, foram os objetivos principais da viagem e da pesquisa realizada na Alemanha. “Foi muito mais do que simplesmente saber quando e de onde vieram muitas das pessoas que ajudaram a formar o lugar onde vivemos e construímos a nossa própria história, a bela Santa Cruz do Sul”, conclui.
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Comemoração dos 800 anos
Durante a visita a Klopschen, Luciano Schmidt foi acompanhado pelo alemão Johannes Marschke, também pesquisador e que inclusive já visitou Santa Cruz do Sul várias vezes. Um dos objetivos da viagem foi participar das comemorações dos 800 anos do vilarejo. Além de August Wuttke e August Raffler, de Klopschen também saíram os antepassados de Bruno Pritsch, e de uma região próxima partiram os antepassados de Fernando Hennig, que se instalaram na atual Sinimbu. Durante todo o ano, os cerca de 650 habitantes comemoraram a data festiva com celebrações diversas.
As festividades foram concluídas com uma missa em 15 de outubro de 2022, conduzida pelo bispo Tadeusz Litynski, responsável pela região de Grünberg-Glogau. Na sequência, uma procissão seguiu pelas ruas até o salão de banquetes. Cerca de 250 pessoas participaram do evento, entre elas Luciano e Marschke. Após a recepção pelas autoridades locais, os dois apresentaram as saudações enviadas pela prefeita Helena Hermany e um material de divulgação de Santa Cruz, o que foi recebido com aplausos e agradecimentos.
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O bispo polonês também enviou saudações ao bispo de Santa Cruz do Sul, dom Aloísio Alberto Dilli, à prefeita e a toda a população. A festa prosseguiu com a apresentação de uma peça teatral sobre os 800 anos de história da aldeia e com um jantar de pratos variados, inclusive 1,8 mil pastéis preparados pelas mulheres da localidade. O encerramento ocorreu com apresentações musicais e culturais.
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